Brasília
Brasília é a capital federal. Brasília foi construída em tempo recorde pelo presidente Juscelino Kubistchek. Foi projetada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Tem o formato de um avião.
E Brasília é, sempre foi e sempre será uma cidade única: diversa e ao mesmo tempo totalmente provinciana.
Meu pai, militar do Exército na ocasião, foi transferido para Brasília. Chegamos na cidade, vindo de carro do Rio de Janeiro (mais precisamente de Niterói), em janeiro de 1979.
Chovia. Chovia muito. Chovia o tempo todo naquela cidade em que parecia não morar ninguém.
Naquela época, ser nascido em Brasília era motivo de espanto. Como assim você nasceu aqui? Nós tínhamos todos entre 12 e 15 anos, e a cidade, apenas 19. Éramos, portanto, todos adolescentes ainda. Não havia dado tempo de alguém ter nascido em Brasília.
Isso fez com que eu conhecesse gente de todo lugar do país, uma vez que a setorização de moradia em Brasília fez com que eu fosse morar, pela primeira vez na vida, em uma quadra militar.
Era gente nascida no Mato Grosso que - uma aberração para mim - nunca tinha visto o mar. Gente nascida no Sul, meninas que sonhavam em ter um Sarau de Prendas como festa de 15 anos. Meninos do Rio, calor que provoca arrepio, órfãos de suas praias e de suas pranchas. Outros vindos de uma metrópole assustadoramente grande, São Paulo. Nordestinos, gente do Pará, e até do Amapá (como se alguém na vida pudesse nascer no Amapá, a gente nem imagina isso né?).
Todos ali, reunidos meio a contragosto naquela terra de ninguém, uma miscelânea de sotaques, costumes, jeitos de ser, aspirações.
Quase uma Nova York, não fosse o fato de tropeçarmos sempre com as mesmas pessoas nos lugares, já que não se tinha muita opção de para onde ir. E às vezes encontrava-se alguém e ficava-se um tempão tentando descobrir de onde nos conhecíamos: onde você estuda? faz inglês onde? Acabávamos concluindo que a cara era familiar de tanto que nos víamos nos mesmo lugares, sem nunca termos sido apresentados.
Na Brasília do começo dos anos 80, os filmes levavam um ano inteiro pra chegar. Eu lembro que ia de férias de fim de ano para Vitória, via os filmes lançados, e nas férias seguintes os mesmos filmes eram lançados em Brasília. Mó novidade. E tudo o que vinha do Rio de Janeiro ou remetesse a ele era recebido como verdade absoluta no altar dos desterrados.
Viajar no feriadão também não fazia parte dos hábitos brasilienses, uma vez que havia poucas opções de cidades interessantes por perto e a praia mais próxima fica a 1200km de distância. Para uma cidade cheia de cariocas (os funcionários públicos transferidos para lá na época da inauguração), era a morte.
Por esse mesmo motivo, era comum que casamentos, batizados e festas familiares importantes fossem marcados nos feriadões, para que a família que invariavelmente morava longe pudesse viajar para lá. Ainda o é.
Show de algum grupo grande era uma raridade. Quem ia se despencar para o meio do nada, com banda, equipamento e o diabo a quatro, para tocar em Brasília? Tínhamos de nos conformar com os shows nos clubes das bandas locais de então: Legião Urbana, Capital Inicial, Milton Guedes, Plebe Rude... até que eles tocavam direitinho e a gente se divertia pacas, cantando todos os sucessos que a gente ainda nem sabia que seriam sucessos de verdade.
E durante muito tempo, não havia McDonalds pra valer em Brasília, só uma portinha irrelevante no shopping.
O primeiro McDonalds fora do shopping em Brasília foi inaugurado no final da década de 80. Na 402 Sul. Com drive-thru e tudo. Uma novidade quase compatível com a inauguração do Park Shopping (da rede do Morumbishopping e do Barrashopping), alguns anos antes, que levou metade da cidade a presenciar o importante evento (incluindo eu mesma que matei aula pra não perder o espetáculo).
Mc Donalds. Aquela construção moderna, seguindo as linhas da cidade.
Aquele mastro altíssimo, com o M amarelo lá em cima, visto bem de longe... OPS!!!
Foi aí que a cidade se manifestou. Brasília foi projetada para ser uma cidade dentro da floresta. Os prédios residenciais são todos baixos, o mais alto tem 6 andares, eles crescem para os lados, são horizontalmente grandes.
Nas quadras 400, os prédios tem 3 andares apenas, pois o leve declive do relevo da cidade assim determina.
O mastro era uma afronta, fugia do projeto original. Desvirtuava a nossa cidade, o nosso projeto, a nossa civilidade. Era muito mais alto do que as árvores que o circundavam. E não era porque era o McDonalds que ia poder chegar lá e fazer o que quisesse com o nosso cantinho que a gente nem considerava mesmo como nosso, porque todo mundo morava ali pensando no dia em que voltaria para casa.
Foi assim que, em Brasília, o Mc Donalds perdeu um pouco do seu caráter globalizado e ganhou um mastro bem baixinho, desproporcional ao tamanho do seu M, mas adequado ao projeto urbanístico do Plano Piloto. Ficou parecendo a Carmem Miranda, um toquinho com aquele troço enorme na cabeça.
Eu ainda acho que é por atitudes assim que em Brasília você coloca o pé na faixa de pedestres e os carros param pra você atravessar. Sempre e de verdade
Porque é uma cidade diferente... e apaixonante!
E Brasília é, sempre foi e sempre será uma cidade única: diversa e ao mesmo tempo totalmente provinciana.
Meu pai, militar do Exército na ocasião, foi transferido para Brasília. Chegamos na cidade, vindo de carro do Rio de Janeiro (mais precisamente de Niterói), em janeiro de 1979.
Chovia. Chovia muito. Chovia o tempo todo naquela cidade em que parecia não morar ninguém.
Naquela época, ser nascido em Brasília era motivo de espanto. Como assim você nasceu aqui? Nós tínhamos todos entre 12 e 15 anos, e a cidade, apenas 19. Éramos, portanto, todos adolescentes ainda. Não havia dado tempo de alguém ter nascido em Brasília.
Isso fez com que eu conhecesse gente de todo lugar do país, uma vez que a setorização de moradia em Brasília fez com que eu fosse morar, pela primeira vez na vida, em uma quadra militar.
Era gente nascida no Mato Grosso que - uma aberração para mim - nunca tinha visto o mar. Gente nascida no Sul, meninas que sonhavam em ter um Sarau de Prendas como festa de 15 anos. Meninos do Rio, calor que provoca arrepio, órfãos de suas praias e de suas pranchas. Outros vindos de uma metrópole assustadoramente grande, São Paulo. Nordestinos, gente do Pará, e até do Amapá (como se alguém na vida pudesse nascer no Amapá, a gente nem imagina isso né?).
Todos ali, reunidos meio a contragosto naquela terra de ninguém, uma miscelânea de sotaques, costumes, jeitos de ser, aspirações.
Quase uma Nova York, não fosse o fato de tropeçarmos sempre com as mesmas pessoas nos lugares, já que não se tinha muita opção de para onde ir. E às vezes encontrava-se alguém e ficava-se um tempão tentando descobrir de onde nos conhecíamos: onde você estuda? faz inglês onde? Acabávamos concluindo que a cara era familiar de tanto que nos víamos nos mesmo lugares, sem nunca termos sido apresentados.
Na Brasília do começo dos anos 80, os filmes levavam um ano inteiro pra chegar. Eu lembro que ia de férias de fim de ano para Vitória, via os filmes lançados, e nas férias seguintes os mesmos filmes eram lançados em Brasília. Mó novidade. E tudo o que vinha do Rio de Janeiro ou remetesse a ele era recebido como verdade absoluta no altar dos desterrados.
Viajar no feriadão também não fazia parte dos hábitos brasilienses, uma vez que havia poucas opções de cidades interessantes por perto e a praia mais próxima fica a 1200km de distância. Para uma cidade cheia de cariocas (os funcionários públicos transferidos para lá na época da inauguração), era a morte.
Por esse mesmo motivo, era comum que casamentos, batizados e festas familiares importantes fossem marcados nos feriadões, para que a família que invariavelmente morava longe pudesse viajar para lá. Ainda o é.
Show de algum grupo grande era uma raridade. Quem ia se despencar para o meio do nada, com banda, equipamento e o diabo a quatro, para tocar em Brasília? Tínhamos de nos conformar com os shows nos clubes das bandas locais de então: Legião Urbana, Capital Inicial, Milton Guedes, Plebe Rude... até que eles tocavam direitinho e a gente se divertia pacas, cantando todos os sucessos que a gente ainda nem sabia que seriam sucessos de verdade.
E durante muito tempo, não havia McDonalds pra valer em Brasília, só uma portinha irrelevante no shopping.
O primeiro McDonalds fora do shopping em Brasília foi inaugurado no final da década de 80. Na 402 Sul. Com drive-thru e tudo. Uma novidade quase compatível com a inauguração do Park Shopping (da rede do Morumbishopping e do Barrashopping), alguns anos antes, que levou metade da cidade a presenciar o importante evento (incluindo eu mesma que matei aula pra não perder o espetáculo).
Mc Donalds. Aquela construção moderna, seguindo as linhas da cidade.
Aquele mastro altíssimo, com o M amarelo lá em cima, visto bem de longe... OPS!!!
Foi aí que a cidade se manifestou. Brasília foi projetada para ser uma cidade dentro da floresta. Os prédios residenciais são todos baixos, o mais alto tem 6 andares, eles crescem para os lados, são horizontalmente grandes.
Nas quadras 400, os prédios tem 3 andares apenas, pois o leve declive do relevo da cidade assim determina.
O mastro era uma afronta, fugia do projeto original. Desvirtuava a nossa cidade, o nosso projeto, a nossa civilidade. Era muito mais alto do que as árvores que o circundavam. E não era porque era o McDonalds que ia poder chegar lá e fazer o que quisesse com o nosso cantinho que a gente nem considerava mesmo como nosso, porque todo mundo morava ali pensando no dia em que voltaria para casa.
Foi assim que, em Brasília, o Mc Donalds perdeu um pouco do seu caráter globalizado e ganhou um mastro bem baixinho, desproporcional ao tamanho do seu M, mas adequado ao projeto urbanístico do Plano Piloto. Ficou parecendo a Carmem Miranda, um toquinho com aquele troço enorme na cabeça.
Eu ainda acho que é por atitudes assim que em Brasília você coloca o pé na faixa de pedestres e os carros param pra você atravessar. Sempre e de verdade
Porque é uma cidade diferente... e apaixonante!
6 Comentários:
Estou em Brasília há oito meses e partilho essa sua paixão.
Um abraço
Querida,
É a globalização com consciência. Como você já deve ter reparado, no centro histórico de Roma, os Mc Donald´s são todos em tons pastéis para não brigar com os edifícios da cidade. E o Ronald que se dane!
Beijos,
JU...
Issana, não é mesmo o máximo?
Tentei comentar no seu blog, mas não consegui...
Ju, eu nem reparei que tinha McDonalds em Roma. Comemos um dia foi no Burger King!
Eu adoro textos instrutivos como esse. Ainda não conheço Brasília, mas em breve ou ter que ir até lá a trabalho. Depois te conto o que achei!
bjs
macelo disse...
todos pensam que brasília e uma cidade que só tem politicos e funcionarios puplicos, mais não e verdade.também têm muita gente boa aqui.e uma cidade linda,temos uma torre parecidade a de paris,no centro da cidade,não temos praia,mais temos um lago que vai do lado sul e norte da capital.e à cidade luz,muito arvorizada,organizada e limpa,não temos favelas,mais sim cidades satélites,muito organizadas, graças ao nosso ex-gov.j.roriz,mas com muitos problemas como qualquer outra cidade.amo brasília!
Sou nascido em MG, mas moro em BSB desde que tinha 3 anos...
Chegamos aqui em 1983, tenho pequenos lances de memoria desse dia...
Me considero muito mais Brasiliense que mineiro, aqui, cresci estudei, me casei, tive meus filhos...
Amo Brasília, em especial a pontinha da asa norte, perto de tudo e aconchegante...
Troco isso aqui por nada...
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