Limpeza no sótão
Não há nada melhor para relaxar e desanuviar a mente aqui na confecção do que se envolver com a produção, fisicamente falando.
Tô p... da vida porque um cliente está dificultando mais do que seria necessário? Ansiosa por uma resposta que nunca vem? Com os dedos coçando de vontade de mandar um email menos de 24h de ter resolvido que vou ficar na moita? Tocaiando o msn?
Nada que uma pilha de camisetas para dobrar não ajude a resolver, ou ao menos a minimizar.
Hoje a cortadeira faltou, por um motivo muito triste: o pai morreu durante a madrugada e ela viajou às pressas para o Espírito Santo. Como o mundo não pára e os prazos continuam os mesmos, logo escuto que tá faltando isso ou aquilo para finalizar as peças: gola, pé de gola, ou mesmo as camisetas inteiras.
Passei quase a manhã toda e o começo da tarde cuidando desses detalhezinhos. Das tarefas de produção, a que eu mais gosto é do corte. Me distraio mapeando a malha, desenhando, cortando, etiquetando as peças. A sensação que eu tenho é que minha mente vai limpando à medida que o zunido da máquina de corte avança. É um trabalho cansativo, realizado de pé, de enorme atenção, no qual o erro faz com que se perca o material, mas não me sinto tensa. Ao contrário, me sinto leve.
(naturalmente que isso só foi possível por dois motivos: primeiro, porque julho é um mês calmo até demais aqui na confecção; segundo, porque a Cecília estava ausente, caso contrário ela não deixa a gente nem chegar perto da mesa de corte, das máquinas, das malhas, enfim, dos seus domínios, nem sei como ainda não colocou uma grade eletrificada na porta da sala de corte.)
Além disso, como a sala de corte fica ao lado da sala de costura, acabo tendo a diversão adicional de escutar o papo das meninas. Dá de tudo: da fulana que caiu sentada no colo do cara no ônibus numa freada mais brusca, da outra que tá meio barrigudinha por pura falta de vergonha e que se aproveita da situação com um ou outro cavalheiro que ainda lhe cede o lugar no ônibus, das pericpécias dos filhos de cada uma, das brincadeiras que fazem umas com as outras, da laje que terminaram de bater, do almoço na casa da prima que fez uma carne de porco péssima.
Hoje elas estavam ouvindo o programa do Eli Correa, no qual ele lê uma infindável carta, com uma história igualmente comprida, triste, trágica e melosa, de uma avó que tinha criado o netinho com todo desvelo e aí veio a mãe da criança e levou o menino embora. A história toda leva pelo menos meia-hora para ser narrada, com as tintas mais melodramáticas possíveis:
- e o menino foi gritando, no colo da mãe, ao longo do caminho: vovó!! vovó!!! minha avozinha querida, eu nunca mais vou te ver???? - narra o Eli Correa
(imagina se um garotinho de 4 anos vai ter essa proatividade toda?)
Começam os comentários na confecção:
- ah, que maldade, afastar o menino assim da avó!
- ah, vai ver ela era uma megera com a mãe da criança.
- mesmo assim, ela não devia fazer isso, vó é vó.
- vocês ouviram só ele lendo o menininho chorando? Traumatiza a criança, não pode.
- aposto como ela é nora da avó do menino, se separou do filho dela e agora tá querendo se vingar levando o menino embora.
- nossa, como tem gente má neste mundo não?
Subi de volta para minha sala, agora no meio da tarde, com o coração menos apertado, a alma mais leve. Desviar o foco realmente me faz bem.
Tô p... da vida porque um cliente está dificultando mais do que seria necessário? Ansiosa por uma resposta que nunca vem? Com os dedos coçando de vontade de mandar um email menos de 24h de ter resolvido que vou ficar na moita? Tocaiando o msn?
Nada que uma pilha de camisetas para dobrar não ajude a resolver, ou ao menos a minimizar.
Hoje a cortadeira faltou, por um motivo muito triste: o pai morreu durante a madrugada e ela viajou às pressas para o Espírito Santo. Como o mundo não pára e os prazos continuam os mesmos, logo escuto que tá faltando isso ou aquilo para finalizar as peças: gola, pé de gola, ou mesmo as camisetas inteiras.
Passei quase a manhã toda e o começo da tarde cuidando desses detalhezinhos. Das tarefas de produção, a que eu mais gosto é do corte. Me distraio mapeando a malha, desenhando, cortando, etiquetando as peças. A sensação que eu tenho é que minha mente vai limpando à medida que o zunido da máquina de corte avança. É um trabalho cansativo, realizado de pé, de enorme atenção, no qual o erro faz com que se perca o material, mas não me sinto tensa. Ao contrário, me sinto leve.
(naturalmente que isso só foi possível por dois motivos: primeiro, porque julho é um mês calmo até demais aqui na confecção; segundo, porque a Cecília estava ausente, caso contrário ela não deixa a gente nem chegar perto da mesa de corte, das máquinas, das malhas, enfim, dos seus domínios, nem sei como ainda não colocou uma grade eletrificada na porta da sala de corte.)
Além disso, como a sala de corte fica ao lado da sala de costura, acabo tendo a diversão adicional de escutar o papo das meninas. Dá de tudo: da fulana que caiu sentada no colo do cara no ônibus numa freada mais brusca, da outra que tá meio barrigudinha por pura falta de vergonha e que se aproveita da situação com um ou outro cavalheiro que ainda lhe cede o lugar no ônibus, das pericpécias dos filhos de cada uma, das brincadeiras que fazem umas com as outras, da laje que terminaram de bater, do almoço na casa da prima que fez uma carne de porco péssima.
Hoje elas estavam ouvindo o programa do Eli Correa, no qual ele lê uma infindável carta, com uma história igualmente comprida, triste, trágica e melosa, de uma avó que tinha criado o netinho com todo desvelo e aí veio a mãe da criança e levou o menino embora. A história toda leva pelo menos meia-hora para ser narrada, com as tintas mais melodramáticas possíveis:
- e o menino foi gritando, no colo da mãe, ao longo do caminho: vovó!! vovó!!! minha avozinha querida, eu nunca mais vou te ver???? - narra o Eli Correa
(imagina se um garotinho de 4 anos vai ter essa proatividade toda?)
Começam os comentários na confecção:
- ah, que maldade, afastar o menino assim da avó!
- ah, vai ver ela era uma megera com a mãe da criança.
- mesmo assim, ela não devia fazer isso, vó é vó.
- vocês ouviram só ele lendo o menininho chorando? Traumatiza a criança, não pode.
- aposto como ela é nora da avó do menino, se separou do filho dela e agora tá querendo se vingar levando o menino embora.
- nossa, como tem gente má neste mundo não?
Subi de volta para minha sala, agora no meio da tarde, com o coração menos apertado, a alma mais leve. Desviar o foco realmente me faz bem.
2 Comentários:
hahahahah me lembrou de um tempo bom quando eu era estagiária na Origami, minha vida era criar dobras e desenhar papai noel, e quando queria me distrair descia para a sala de dobras... uma sala com muitas mulheres conversando e dobrando origamis... ela ouviam tb este programa... e choravam, se abraçavam... só as mulheres são assim.... bjs Re
É exatamente assim, Re, só não choram para não pingar nas roupas, mas torcem, vivem, dão palpites, colocam copo de água do lado do rádio na hora do Padre Marcelo...
bj
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