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Local: São Paulo, SP

sexta-feira, outubro 19, 2007

Por um dia menos massacrante

Ontem fui até o Bom Retiro e na volta fiquei divagando e observando a cidade, enquanto atravessava a av. Tiradentes vendo os meninos que vendem balas no sinal, pessoas com deficiência atravessando a avenida larga com dificuldade, alguns prédios num tom triste de cinza-poluição.

São Paulo é uma cidade cruel. Adoro viver aqui, e não me imagino morando em outro lugar neste momento da minha vida, mas é uma cidade difícil de se enfrentar no dia-a-dia. Fiquei pensando em pessoas que fazem do deslocamento pela cidade o seu meio de vida, em especial motoristas de táxi, de ônibus, vendedores externos e mesmo os marronzinhos da CET. O stress deve bater nos píncaros.

Fiquei comparando com Brasília, uma cidade na qual anda-se por avenidas largas e descontionadas, cujo visual é lindo, muito arborizada e limpa. Onde os carros param para os pedestres passar e a maior parte das faixas de pedestres tem iluminação especial à noite. Onde as pessoas respeitam a preferencial de quem está no balão e não invadem a faixa alheia. Não que seja o paraíso do trânsito, mas em matéria de deslocamento, o belo visual da cidade ajuda. Se o seu caminho passar pela Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Setor de Clubes Sul (descampado, nem parece que você está dentro da cidade), Ponte JK e Lago Sul, partes lindas da cidade, e se isto for feito no descer do sol... praticamente todo o cansaço do dia intenso que você teve vai-se indo embora pelo asfalto.

Mas tudo isso é pra dizer que pequenas gentilezas acabam fazendo toda a diferença no cotidiano de quem vive aqui neste emaranhado de prédios, carros e gente, muita gente. Atitudes gentis que por vezes nos surpreendem.

Todo dia que eu pego minha filha no colégio e levo pro cursinho eu dou carona para um amigo dela, do colégio, que pega o ônibus para ir para o cursinho dele num bairro mais afastado. Assim, em vez dele pegar dois ônibus ele pega apenas um. Para mim não faz diferença alguma a tal carona, porque o menino vai rigorosamente para o mesmo lugar que eu vou, não desviando um único milímetro.

Ontem ele entrou no carro e sacou um pacotinho da mochila:

- tenho uma coisa para você. Minha mãe mandou, em agradecimento por você me dar carona. Ela mandou dizer muito obrigada pela gentileza.

Achei de uma delicadeza enorme. Ela nem me conhece, a carona nem é um compromisso e não me dá trabalho algum.

Outra situação foi no Field Day, os tais jogos internos do colégio Pio XII. Desde sempre a minha confecção patrocina uma ou duas turminhas do primário ou da pré-escola, dando as camisetas. Quando a mãe representante de uma dessas turmas diz obrigada pessoalmente eu já acho um lucro, porque a maior parte nem se interessa em saber quem foi que deu as camisetas. E olha que eu sou mãe de aluna do colégio, e no dia da abertura praticamente ando com uma placa pendurada no pescoço fazendo propaganda da confecção.

Mas um dia, combinei com uma delas de entregar as camisetas da turma dela em frente à capela da escola. Só tínhamos nos falado por telefone. Cheguei com o pacotinho das camisetas, entreguei e ela me deu outro, embrulhado para presente:

- fiz esses bombons para você. Muito obrigada por patrocinar a nossa classe, as crianças estão felicíssimas!

Uma outra, certa vez, ficou me esperando no mesmo local com todas as criancinhas da classe. Olha que coisa mais lindinha! E cada aluno pegava a sua e agradecia pessoalmente. Fora a felicidade na cara deles, imediatamente vestindo a camiseta por cima da do uniforme.

Devo explicar aqui que ter as camisetas patrocinadas por uma empresa e ter as camisetas sem patrocínio, pagas pelos pais, faz toda a diferença do mundo para os alunos. Eles se sentem muito importantes em saber que uma empresa fez as camisetas para eles, mesmo que esta empresa seja do pai de algum aluno, da tia ou do avô. É uma alegria quando a mãe representante anuncia para a classe que eles têm um patrocinador. Ficam se sentindo atletas de verdade!

Um amigo meu mora no mesmo bairro e 80% das vezes em que combinamos de sair, os dois ou em grupo, ele se propõe a me buscar. Já fez isso várias vezes mesmo quando nem está por perto. Para mim, isso é uma delicadeza mais que imensa, considerando-se que o trânsito para o Morumbi não é fácil e fatalmente sairemos do bairro para fazer o que quer que seja, já que lá não tem nada para se fazer depois das dez da noite. Fico sem saber como retribuir, ainda mais que ele faz isso com tanta boa vontade e todo animado.

Junta-se isso às pessoas que te dão passagem ao volante, ao bom dia sorridente de um comerciante (diferente do bom dia protocolar dado automaticamente), a alguém que se abaixa na rua pra te ajudar a pegar algo que caiu, e a cidade torna-se um pouquinho mais cor-de-rosa e um pouquinho mais acolhedora.

10 Comentários:

Blogger MH disse...

E São Paulo é cheia dessas pequenas gentilezas, apesar do caos selvagem... Sempre tem alguém que pára pra te dar passagem, o motorista que espera o pedestre terminar de atravessar a rua SEM enfiar a mão na buzina, pessoas simpáticas e amáveis...
Pra quem vê de fora, aqui pode parecer inóspito, mas quem está aqui dentro pode enxergar tudo isso.
Eu fico bem feliz!

10:19 AM  
Blogger Ana disse...

Clau,
eu tb fico super feliz quando vejo, faço ou recebo esse tipo de gentileza. São coisas tão simples, mas que tornam o dia menos cruel...
Todos poderiam agir assim.
Bjs

11:39 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Lendo o seu texto, pensei em muitas coisas.

Pensei em fazer um comparativo com a cidade onde moro - relativamente grande, ao menos para o interior paulista.

Pensei em ressaltar a satisfação ante a grandeza de pequenos gestos.

Pensei em falar sobre o resgate da identidade e do sentido de comunidade numa selva de pedra.

Pensei tudo isso e muito mais.

Mas palavras são em vão.

LINDO TEXTO. Claro, conciso, objetivo e tocante.

Simples assim.

1:16 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Cláudia, eu tbm fico muito feliz com isso...Acho essencial um bom dia feliz para começar o dia.
Eu fiquei bastante emocionada qdo li a parte do menino da carona...
Eu que pego muito onibus, passo o dia fora, almoço fora, ando muito de um lado para outro, acabo passando por várias situações como essa (o que alegra muito meu dia), mas tbm passo por situações que se eu contar ngm acredita.
A parte do caroa me emocionou pq eu passo por essa situação umas três vezes por semana.
Toda quarta, as vezes na quinta e sexta eu saio do estágio e volto para faculdade, então nesses dias eu pego (pegava) 4 ônibus (da minha casa para faculdade. Da faculdade para o estagio. Do estágio para a faculdade e da faculdade para casa). A distancia do estágio a faculdade é pequena, porém é um dos trechos mais perigosos, o que dificulta a minha caminhada, entende?Algumas vezes fui andando, porém da ultima vez sofri uma tentativa de assalto, daí desdisti...
Pois bem...Uma funcioánria da empresa onde eu faço estágio mora num bairro p´roximo à faculdade e assim o caminho é o mesmo e todos os dias ela vai de carro. Qdo não é o dela, é o marido dela q vai buscá-la. E com isso me favoreceu muiito...todos os dias que volto para faculdade ou qdo preciso ir próximo ao bairro dela, ela me dá carona. E assim...acabei ficando amiga do esposo dela, dos filhos...uma vez ela acabou indo la em casa e essas coisas...Uma gentileza, uma amizade sem preço...E como retribuição, mamae mandou uma broa de fubá para ela...rsrs.
Eu fico feliz com essas atitudes, sabe? Pois economizo grana de passagem, economizo braço e perna (pois vou sentada e apoiando meus livros)e sem contar da amizade, o carinho que acabou ficando.
E nos dias que eu nao tem aula ou antes de ir para aula eu tenho que passar em algum lugar,ela já me pergunta, as vezes me espera...Uma coisa, bsae?
Sem contar...o bom dia que recebo logo qdo saio no portão de casa de um gari (que todos os dias no mesmo horario ele está varrendo perto de casa).
Educação nunca é demais...neh?Ajuda muito...

beijos

Nana

1:37 PM  
Blogger Cláudia disse...

mh e ana, só assim pra sobreviver em uma cidade tão grande e tão agressiva.

Adauto, obrigada. Para mim esses pequenos gestos não têm preço, e normalmente não custam nada para quem os faz.

Nana, para ela deve ser fácil agir assim, porque atitudes gentis nascem naturalmente. É comum a pessoa nem se dar conta de que está sendo assim tão delicada com o outro.
Broa de fubá? Feita pela tia Mada? huuummmmmmm

beijos

9:40 AM  
Blogger Dri disse...

Clau,
eu ia generalizar e dizer que é a criação mas não é bem assim. Às vezes o filho de peixe não dá pra peixinho! Eu, graças a Deus, agradeço à minha mãe por minha educação. Sou daquelas que procura o crachá dos prestadores de serviço para chamá-los para o nome (e faz uma diferença, menina!). Compro lembrancinhas em agradecimento a convites de viagem. "Obrigada" e "por favor" sempre vêm acompanhados de sorriso. Eu gosto, mas sei que anda em falta.

12:36 PM  
Anonymous Anônimo disse...

O que tinha mesmo no pacotinho que mãe do fofinho mandou?
Pois é, esse exemplo a gente traz de casa desde sempre, porque papai e mamãe são muito prestativos, pelo prazer de ajudar e nunca esperando recompensa. Um exemplo vale mais que mil palavras, e a mãe desse menino está preparando mais um elinho nessa corrente do bem.
Bjs. Rosana.

10:24 PM  
Blogger Cláudia disse...

Dri, e normalmente são gestos que não custam nada, nadinha.

Rosana, era chocolate da Kopenhagen, duas caixinhas de língua de gato, as quais levei para a confecção e distribuí por lá... snif snif
Concordo, papai e mamãe fazem isso sempre, por todo mundo, com tanta naturalidade, que para nós o normal é isso

beijo

6:16 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Ai qu alívio, é algo comprável, porque eu já tava achando que ia ter que fazer um bolo ou algo assim pra agradecer a carona que o Estevam pega pra voltar do cursinho...
Bjs. Rosana.

10:57 PM  
Blogger Cláudia disse...

ah ah ah ah
nada, Rosana, chocolates já tá ótimo, o que importa mesmo é a lembrança e a gentileza.
beijo

10:12 AM  

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