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domingo, janeiro 22, 2006

Mundo animal


Meu pai foi criado na roça e é cheio de ditados e conhecimentos inusitados sobre a vida animal. Aquelas coisas que ninguém sabe, nem sonha, não tem noção do motivo, ele vem e explica, na maior naturalidade, como se aquilo fosse algo que TODO MUNDO sabe.

Nem causa surpresa a mim, minha irmã e minha mãe. Afinal, uma pessoa que na infância teve tatu (que escapou do cercadinho que ele construiu cavando a terra), bicho-preguiça e uma jacupemba como animais de estimação já demonstra um conhecimento no mínimo diferente sobre os bichos.

Outro dia estávamos eu, ele e minha mãe descendo a serra em direção ao Guarujá, para pegar os últimos objetos que ainda estavam no apartamento que eu tinha vendido. No meio do caminho, vimos uns urubus, e o papo começou, de como eles são nojentos, de que são feios, que isso que aquilo.

Aí minha mãe conjecturou: em Brasília não tem urubu... nenhunzinho... por que será?

(Pausa para você, querido leitor, que neste momento estiver pensando em fazer algum comentário do tipo: tem sim, estão todos no Congresso. Ou: nossa, Brasília tem tanta coisa podre, como é que não tem urubu? Serei obrigada a lançar mão da estratégia de defesa da minha mãe, adoradora de Brasília como eu, e responder polidamente que os urubus que povoam Brasília são TODOS de outros estados, inclusive do seu.)

Ficamos as duas pensando em voz alta nos motivos, inclusive que o motivo seria o clima seco da cidade etc etc. Até que meu pai, que estava quieto até então, deu a explicação correta para o fato: de que não há urubus em Brasília porque lá não existem pedreiras para eles se reproduzirem.

Todo este conhecimento científico-empírico também é usado nos ditados que ele costuma usar nas situações cotidianas, como:

- Mais feliz do que pinto no lixo (porque tem um monte de coisas pra ciscar)
- Com mais medo do que bode embarcado (porque bode tem medo de água)

E o melhor de todos:

Vai que a coruja erra o toco???

Este é utilizado naquela situação em que você tem certeza de que tal coisa acontecerá/não acontecerá, e que portanto você nem vai fazer algo que faria normalmente, pois as chances do resultado final ser diferente são mínimas.

Vem do fato de que a coruja todo dia pousa no mesmo toco. No mesmíssimo, escolhido por ela uma vez e ali ela pousa todos os dias. Se você passar em algum lugar que tenha corujas e tocos, verá que em cada toco há uma corujinha pousada no horário em que elas costumam pousar.

Ela nunca erra o toco, mas um dia, quem sabe...

Outra citação do meu pai que eu adoro é morrem as vacas para alegria dos urubus. Quando um fato ruim acontece com alguém e este mesmo fato te favorece, independente da sua vontade.

São perfeitos esses ditados! E pode usar a vontade, porque ele nem cobra direito autoral.

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Este outro também é uma pérola intercontinental: "não quero nem saber quem pintou a zebra, só quero o resto da tinta", para indicar que não interessa como a coisa começou, mas quer tirar vantagem também.
Bjs. Rosana.

3:24 PM  
Blogger Lala disse...

AH BOM! Eu chegando no final do texto e nada do meu favorito....
E voílá! no penúltimo parágrafo: Morrem as vacas pra alegria dos urubus. Clap clap pro seu Djalma!

4:52 PM  
Blogger Ana Téjo disse...

Querida fada country,
O que, em nome de Deus, é uma jacupemba???
JU...

6:16 PM  

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