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sábado, setembro 08, 2007

Parecido não é igual


Lendo a matéria desta semana na revista Veja sobre a reforma ortográfica, especificamente na questão de que palavras com consoantes mudas como óptimo e electricidade, lembrei-me de uma historinha acontecida no período em que morei em Portugal.


A rádio em que eu e meu marido trabalhávamos era o grande sucesso de então. Na época, a televisão em Portugal era muito pobre. Para se ter uma idéia, não havia TV na parte da manhã, apenas um canal começava as transmissões na parte da manhã, com uns programas de entrevistas chatos e mal feitos. Isso nos anos 90.

Com isso, as rádios tinham uma audiência diferente da do Brasil: o tempo de escuta era alto, as pessoas, em especial os jovens, ouviam a rádio por longos períodos do dia, sem ficar zanzando pra lá e pra cá no dial. Eram fiéis. Mas isso é uma outra história.


Estreou então na rádio um programa de músicas que tinha um enigma a ser decifrado pelos ouvintes. O primeiro a ligar com a resposta certa ganhava um prêmio. As pistas para resolver o enigma eram dadas ao longo do programa e como a intenção era, claro, premiar o ouvinte, as dicas eram super óbvias.


O primeiro enigma, logo que chegamos, era o seguinte:

- dica 1: palavra de cinco letras;

- dica 2: terra dos faraós;

- dica 3: terra das pirâmides;

- dica 4: Cleópátra foi sua rainha.


E nada. Ninguém acertava. Ninguém sequer telefonava, pra falar a verdade. Nós, intrigados, checando se o telefone estava funcionando direito, e chegando à conclusão de que os portugueses eram mesmo uns tapados, aquelas coisas.


Até que toca o telefone, era um ouvinte:

- Por acaso a resposta seria Egipto?

- Nossa, aleluia!!! Umas dicas tão fáceis, só faltou a gente dar a resposta no ar, e você foi o único que ligou e acertou!

- Ah! - disse o ouvinte. - É que vocês nos confundiram no começo. Logo de cara vocês disseram: palavra de cinco letras. Acontece que Egipto tem seis letras.


PLOFT!!! Este foi o som do tabefe na cara que levamos. Como a rádio era feita predominantemente por brasileiros, absolutamente ninguém levou em consideração que, em Portugal, Egito é Egipto. Ou seja, os ouvintes sacaram que a resposta podia ser Egipto, mas como logo no começo a primeira dica dizia que a palavra era de cinco letras, Egipto não cabia, e nada mais fazia sentido. E por isso, ninguém ligava pra tentar acertar.


Foi minha primeira grande lição naquele país, e aprendi, com isso, a respeitar a lógica e a grafia de uma cultura diferente da minha, apesar de uma língua aparentemente tão igual.


No fim da história, os burros éramos nós.


8 Comentários:

Blogger Tati disse...

mas sua frase final é a grande sacada do porquê desta reforma ser um tiro no pé: podemos ter a mesma língua, mas culturas totalmente diferentes! Por que igualar o que eu falo na roça brasileira com o que um morador de São Tomé e Principe fala??
E mais: Não é este, justamente o grande barato da coisa? Aprender novidades dentro da nossa própria língua??
Beijos

6:23 PM  
Blogger Lala disse...

Eu continuo achando que a grande cagada é supor que brasileiros e portugueses falamos o mesmo idioma, o que não é verdade.
Unificar a língua que se fala aqui com a que se fala em Portugal ou na Espanha dá na mesma: São idiomas diferentes, ó pá!

8:12 AM  
Blogger Cláudia disse...

É verdade, são muito diferentes. Tão diferentes que nas primeiras semanas assistir ao noticiário era uma tarefa dura: não dava pra entender nada.
Além disso, acho uma graça o Português falado em Portugal, com suas consoantes "mudas" levemente pronunciadas.

beijo, meninas

9:15 AM  
Blogger MH disse...

Lembro quando fui de carro da Espanha a Portugal. Assim que dava pra pegar rádios portuguesas, começou meu esforço pra entender o que estavam falando...

essa reforma ortográfica me irrita. muito. Humpf!

9:25 AM  
Blogger Nana disse...

Rá! Muito boa essa história!
Meu voto é contra a reforma ortográfica, também. Não sei se conseguirei escrever ideia sem o acento...

5:02 PM  
Blogger Cláudia disse...

mh, é isso mesmo, não dá pra entender. O pessoal do norte fala mais pronunciado, por influencia do espanhol; já os de Lisboa e os que ficam mais ao sul receberam mais influencia árabe, e falam pra dentro, articulando pouco, tem horas que parece úm árabe falando.

Nana, quanto aos acentos, acho que sem problemas para mim, até pq morro de preguiça dependendo do teclado.

beijo

8:54 AM  
Anonymous Anônimo disse...

"Idéia" não vai ter mais acento? Que pena, eu sempre associei esse acentinho a uma lampadinha acesa. Agora as ideias vão perder um pouco de graça...
Bjs. Rosana.

1:26 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Eis-me de volta...

Nesse caso, temos que lembrar que nossa língua é MUITO mais dinâmica e interpretativa do que podem supor os "grandes linguistas" (sim, sem trema), autores da reforma.

Quer um exemplo fácil? Pense no Sul de Minas. Agora repita em voz alta: "UM LIDILÊI". Pois é. É isso mesmo que você entendeu: "um litro de leite"...

11:14 PM  

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