Baronesa arruinada

Eu sou baronesa arruinada. Sempre fui na vida. Baronesa arruinada é aquela que quer sempre o rímel da Lancôme e não o da Contém 1g. Que gosta de comer em lugares arrumadinhos, bonitos e com louças e talheres e copos lindos e não gosta de tomar água em copo de requeijão. Para a baronesa arruinada, não adianta dizer que a comida está uma delícia se ela não estiver ajeitada numa travessa, numa mesa bonita, mesmo que não seja a mais chique do mundo.

Vai comprar um sofá e quer aquele americano com o tecido lébous. Aliás, enxerga ele de longe na vitrine. A mesa mais linda, o puxador do armário que vai dar um toque especial, as toalhinhas fofas pro lavabo, o pano de prato com um bordadinho inglês e sem nenhum furinho ou barra desfiada. O carro com rodas de liga leve e não com calotas, o estofamento de veludo e o volante forrado com couro.

Não é que ela seja consumista não, ela não dana a comprar desembestadamente. Mas não resiste àquele guardanapo de papel que tem uns desenhos lindos que custam o triplo do normal, ou àquele chá que vem numa caixinha fancy, ou o biscoitinho em forma de lacinhos, e com isso o orçamento destinado a um chá com as amigas acaba sendo estourado duas vezes - mas o chá fica a coisa mais linda, tudo arrumado e combinando. Compra um sabonete italiano que vem numa embalagem florida linda com lacinho e paga quase 30 reais.

Tudo culpa da minha mãe, de quem herdei a baronesice arruinada. Meu pai fala que ela é metida a besta.

Para ser baronesa arruinada, você não precisa ser da classe AA. Aqui em casa trabalhou uma senhora, a d. Luísa (que Deus a tenha), que era tão baronesa arruinada quanto eu. Tudo o que ela ia comprar era top de linha. Os meninos dela vinham às festinhas de aniversário da Isabela parecendo dois pequenos príncipes de tão arrumadinhos e chiques. A máquina de lavar dela era a melhor que ela podia pagar. Não me esqueço até hoje da felicidade dela quando recebeu em casa a pia que eu tinha dado de presente de Natal - dessas que já vêm com armário embaixo, ela tinha reformado a cozinha - com torneira e ralo de inox. Tudo muito chique, e a vizinhança invejando.

Em resumo, a baronesa arruinada vive sempre acima das suas possibilidades.

Baronesa arruinada que sou, mais arruinada do que baronesa, resolvi economizar para ver se a situação melhora. Primeiro passo: não comprar mais nada, nem mesmo um vestido novo para ir ao casamento do primo; segundo passo: sair menos para comer fora, que além de arruinada tô uma baleia e não resisto à sobremesa quando como fora; terceiro passo: espaçar as idas ao salão de beleza com dor no coração. Por fim, controlar os pequenos gastos que são uns ralos invisíveis.

Mal comecei o Plano Pé na Lama Nunca Mais, começou um vazamento na minha cozinha que, para não esticar muito a história, me custou oitocentos reais. Em seguida, a revisão do carro que levou mais novecentos. E para coroar, um exame que o médico pediu que o convênio não cobre e que custa quatrocentinhos.

E como se nada isso fosse suficiente, hoje descubro que acabou de inaugurar uma filial da Jorge Alex na rua aqui do lado, perto o bastante para ir a pé.

É um complô.