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quarta-feira, outubro 20, 2010

Coerência

Eu tenho mania de noticiário matinal. Acordo e já ligo a TV no Bom Dia São Paulo. Acaba o Bom Dia São Paulo, ou eu vejo o Bom Dia Brasil ou eu viro para a Record para assistir ao jornal local.

O problema do jornal local da Record é o apresentador. Antes era o Gustavo Faccioli, um gordinho que berrava sua indignação, às 8h da manhã, frente a todo tipo de notícia. Como ele se transferiu para a Band, agora é um outro apresentador, também gordinho que berra, com a diferença de que ele é careca. O assunto deste post é justamante uma matéria do jornal local de hoje, da Record.

A cena era de uma camelô sendo preso pela polícia no Distrito Federal. Ele vendia frutas em uma banquinha, não tinha licença para isso, a mercadoria ia ser apreendida e ele, revoltado, preferiu destrui-la. Tirando de lado o fato de que eram uns 5 policiais para prender um único homem que nem bandido perigoso era, os demais comenetários do apresentador gordinho agora careca que berra era de que o homem só estava ali trabalhando, não estava roubando, não estava cometendo crime algum, estava só querendo ganhar seu dinheiro honestamente, enquanto os empresários sonegam impostos, impostos esses que viram segurança, saúde e educação para a população, chamada por ele de "nós".

Oi?

Tirando todo o lado humano da situação, vamos analisar o comentário do gordinho agora careca que berra: que o homem só estava ali trabalhando, não estava cometendo crime algum, não estava roubando. Sob o ponto de vista da acusação dos empresários que sonegam e privam a população bla bla bla (que eu concordo em parte, porque mesmo pagando nós continuamos privados de saúde, segurança e educação decentes), ele não estaria fazendo o mesmo? Ao vender frutas em uma banquinha, sem licença, sem nota fiscal, sem vigilância sanitária, o que ele está pagando de imposto para financiar a "nossa" saúde, segurança e educação? Nada, imagino eu, o que o coloca no mesmo patamar que o dos sonegadores, porque a sonegação é proporcional ao tamanho do seu negócio e, repito sempre, na essência do ato, sonegar 10 reais e sonegar 10 mil reais é a mesma coisa. A discussão é apenas moral - o grau do dano de se sonegar 10 reais e 10 mil reais.

Agora imagine que a uma quadra dali haja um hortifruti, que paga impostos, aluguel, funcionários e precisa se submeter às regras da vigilância sanitária. Não é uma concorrência desleal com o estabelecimento que gera impostos e emprego? Se alguém deixa de comprar no hortifruti que recolhe impostos sobre o que vende e até sobre o que não vende, para comprar na banquinha, o Estado não está sendo lesado? Que compromisso este camelô tem com a população de manter a boa conservação do produto, sob o calor de 30 graus de Brasília? Que obrigações ele tem com a população? Com "nós"?

Temos então a relativização do cumprimento da lei? Imagina um ladrão invandindo e roubando sua casa, a polícia chega e diz: ah, deixa, ele só roubou, podia ter matado, podia ter estuprado. Se os empresários são obrigados a cumprir a lei, por que o cara que vendia frutas em Brasília não o seria?

Concordo plenamente que a burocracia para abrir qualquer negócio ou conseguir qualquer licença no Brasil é de desanimar. Mas ela é igual para quem abre empresa, também. A carga tributária é pesadíssima e a lei tão cheia de buracos que você fica com o coração na mão permanentemente, mesmo fazendo tudo certo. Um exemplo: no código de normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) referente a tecidos, poliéster está escrito com acento agudo. Caso eu tenha alguma etiqueta de composição em que poliéster esteja escrito sem acento, o fiscal pode alegar que não esta em conformidade com a legislação e mandar recolher toda a minha mercadoria. Beleza não? Duvido que o apresentador gordinho agora careca que berra irá berrar em minha defesa.

Não vamos confundir as coisas. Uma reforma tributária é urgente, uma reforma nos processos burocráticos para agilizar abertura de empresas e concessão de licenças é urgente, uma moralização da fiscalização é urgente. Mas muito urgente também é mudar a mentalidade daqueles que acham que os empresários são os demônios do mundo. Eu, que tenho pequena empresa, rebolo para matar um leão por dia e dar conta de tudo o que tenho de arcar. Se falho em um quesito, o governo cai em cima de mim, se houver uma denúncia sem a menor prova na Justiça do Trabalho, tenho de ir lá me defender como se fosse uma criminosa, já falei muito disso aqui. Gero empregos para 14 pessoas, e como eu há milhares no país, todos nós sujeitos ao Deus-dará da fiscalização, da falta de segurança, dos órgãos que deveriam funcionar para nos dar suporte e não funcionam.

Então, apresentador gordinho agora careca que berra, pense que se você tem seu espaço diário para berrar inmpropérios na TV e receber seu salário direitinho todo mês é porque há uma emmpresa te dando suporte, e arcando com obrigações para isso. Aposto que você tem um plano de saúde particular pago por ela, porque os impostos que ela recolhe não te garantem atendimento médico.

Seja coerente e faça o seguinte: saia da empresa, este antro de sonegadores, e vá berrar no meio dda rua, cobre 2 reais de quem quiser ouvir sua opinião, não recolha imposto algum, e assim você terá toda autoridade para opinar sobre o assunto da maneira que fez.

5 Comentários:

Anonymous Vivi disse...

É isso mesmo... Concordo.
Sabe, eu não gosto mto do estardalhaço que a polícia/imprensa fazem em certos casos. Tanto neste aí quando na prisão da dona da Daslu, etc, etc, etc.
Não estou defendendo. Ambos sonegam e devem ser punidos por isso.
Mas acho que um pouco de tato pra tratar situações não faria mal a ninguém...
Mas tb talvez não vendesse a notícia...
bj

9:44 AM  
Blogger Cláudia disse...

Vivi, o problema é mesmo o estardalhaço, isso me incomoda bastante.
Sobre a Daslu, minha opinião sobre o assunto é que ela não é a demônia da história, unicamente. É simplsmente impossivel trabalhar com importação e exportação aqui no Brasil seguindo tudo direitinho, infelizmente. Não aditanta prender e arrebentar o povo da Daslu e não fazer nada na ponta de lá.
beijo

10:12 AM  
Blogger MH disse...

Adorei!! Um pouco de indignação matinal contra os indignados sem causa. O duro é que esse discursinho tem adeptos, inclusive entre pessoas das quais esperávamos um pouco mais de raciocínio!

Sonegar 10 ou 10 mil é sim a mesma coisa. Eu me mato de pagar impostos, faço tudo direitinho, sendo dificl ou não.

beijo!!

10:45 AM  
Anonymous Fátima Arruda disse...

Pois é,
lembro de uma pregação em que o pastor alertava:" irmãos não existe pecadinho ou pecadão ,é TUDO pecado!!"
Acho que a frase cabe direitinho neste post!!

11:18 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Concordo!!!! A gente tem que parar com esse negócio de que o coitadinho pode tudo... não é bem assim, é claro que o crime tb tem que ser analisado conforme a sua abrangência, mas crime é crime, e como bem disse a sua amiga, não tem pecadão ou pecadinho, o que muda é a gravidade da penalidade, mas se tá errado, tá errado... bjo
Giovanna

6:14 PM  

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