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terça-feira, julho 03, 2012

Nicole

A Janete começou a trabalhar lá na confecção por pura falta de opção da nossa parte. Precisávamos de alguém para agilizar a costura, fazer piques, levar as peças de uma máquina para a outra, trocar linhas e fios das máquinas, enfim, todas as pequenas tarefas de apoio dentro da área da costura.
Ela se candidatou ao cargo, e foi logo bem sincera: nunca fiz isso mas posso aprender! Resolvemos apostar.

No fim, ela não era a pessoa talhada para o cargo, pois tinha um jeitão meio estabanado e ansioso demais, mas nos poucos meses que passou conosco ela fez amizade com todo mundo por lá. A vida difícil não lhe tirava o bom humor. Expulsa de casa aos 14 anos pela mãe, ela jurou nunca mais voltar. Arrumou trabalho, casou com 17, teve dois meninos e uma menininha, que morreu de pneumonia ainda bem pequena. O marido, pai dos filhos, morreu afogado no mar, cheio de cachaça nas ideias. A sogra queria tirar a casinha, que era a única herança dos meninos.

Sábado, domingo, feriado, ela sempre disposta para o trabalho. Como ela sempre dizia, tinha de se virar nos 30 porque tinha duas boquinhas para alimentar, vestir, calçar e fazer deles dois homens de bem. Arrumou um namorado, foram morar juntos, o cara se revelou um folgado e ela o mandou passear porque filho ela tinha dois e nenhum daquela idade, e só o aceitou de volta porque o dito cujo se emendou e resolveu "ter atitude de homem", como ela nos contou.

Mesmo depois de ter saído de lá, volta e meia ela dava notícias e um jeitinho de aparecer para ver as amigas. A típica pessoa alto astral, que não se abate por nada.

Há alguns dias, ficamos sabendo que Janete tinha adotado uma menininha. Como assim, pensamos, que doida! Só a Janete mesmo! Mas a história era mais que isso: sua cunhada, irmã do atual marido - que há pouco tempo era só um namorado - engravidou e o pai da criança deu no pé. Órfãos de mãe, o marido e a irmã, pai que não queria saber de muita coisa, a cunhada entrou em trabalho de parto prematuro, sai correndo pra Santa Casa. Na hora de ir para a sala de parto, a cunhada chama o irmão e a Janete:

- Se acontecer alguma coisa comigo, se eu não voltar dali de dentro, eu quero que vocês criem o meu bebê.

E Janete, contando essa história triste, com seu jeitão despachado: d. Cláudia, e não é que a mulher me morre no parto e a bichinha ficou ali, sem pai nem mãe, sem ninguém? Tinha como não ficar com ela? Não tinha.

O namorado, como tio de sangue, tinha a preferência na adoção, mas Janete queria ser mãe da menina pra valer. O namorado queria colocar o nome de Isabele, mas ela bateu pé que seria Nicole Cristine, mesmo nome da filha que, segundo ela "Deus me levou e agora estava me dando de volta" e o namorado não teve alternativa a não ser concordar. Ela queria ser mãe da menina de verdade, no papel também. "Porque se um dia ele resolve se separar de mim, eu fico sem minha filha?" Para isso, tinham de se casar oficialmente. 15 dias para correr os papéis do civil, e o pedido na igreja para o padre apressar o casamento, e Nicole passa a ser oficialmente filha da Janete - porque de fato, ela já o era desde o nascimento.

Esta é a história da Nicole, uma menininha que movimentou meu facebook nos últimos dias, mostrando mais uma vez que tem muito mais gente bacana no mundo do que gente má. Gente que nunca nem a viu e que se mobilizou para ajudar. Foram tantas as doações que, segundo Janete, "se ela ganhar mais alguma coisa, nós vamos ter de morar do lado de fora da casa para poder guardar as coisas dela do lado de dentro!"

Hoje eu vi uma fotinho - uma não, umas 30 - no celular da Janete. A Nicole é uma fofa! Ela prometeu levá-la na confecção para que a conheçamos. Neste dia, prometo tirar fotos da Nicole para mostrar a todos que se dispuseram a abrir o seu coração, e ajudar a fazer do mundo um lugar sempre melhor para se viver.





5 Comentários:

Blogger J.F. disse...

Oi, Cláudia.
Linda história. O que seria do mundo se não existissem Janetes por aí? Já me candidato a ver as fotos da Nicole.
Abração.

1:45 AM  
Blogger Renatinha disse...

Que lindas.... Nicole, Janete e vc... Lindas demais, quero ver fotos e é assim: Deus tirou por algum motivo a filhinha dela, mas olha ela aí de volta para ser muito feliz...
beijos
Re

9:27 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Sensacional! Emocionante!

São por essas e outras que realmente faz todo o sentindo querer acordar no dia seguinte, né?

bjus

Nana

12:14 PM  
Blogger Cintia D Camargo disse...

Clau, que historia linda e dificil... Mas Deus sempre dá bons motivos para sorrirmos diariamente, e com certeza esta pequenina será muito, muito amada pela Janete!
Beijo grande!

12:36 PM  
Blogger MH disse...

Admiráveis essas pessoas que não se deixam abater, por mais que a vida passe rasteiras nelas...
Parece que a mãe da Nicole sabia que não ia viver pra cuidar da filha, escolheu a mãe que criaria sua filha com todo o amor do mundo.
Me senti tocada desde o começo. O mundo tem sim mais gente boa do que má. É que os maus fazem mais barulho...
Doida pra ver as fotos dessa menina cercada de tanto amor e tantas boas energias!
Beijo

10:39 PM  

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