A ansiedade nossa de cada dia
Antes que alguém me chame de dinossaura e retrógrda, ressalto que tecnologia é ótimo, acesso a ela melhor ainda, mas isso traz uma ansiedade dos infernos! E também uma certa preguiça em combinar as coisas, fica um troço assim meio depois a gente vê, o que causa ainda mais ansiedade.
Veja se não é assim: você marca com um amigo em algum lugar. Na era pré-celular, você marcava o local exato e o horário - se fosse no shopping, era no shopping x, tal hora, em frente à loja tal. Quem chegava primeiro, esperava pelo outro, lendo um livro, uma revista, ou olhando distraidamente para o povo que passava.
Agora a gente combina mais ou menos o local e mais ou menos o horário, e depois fica se ligando mais umas 3 vezes para acertar a combinação. Chega no local e liga pra dizer que chegou e saber onde é que o outro está. Se ele disser que já está perto, vamos ligar pelo menos mais uma vez pra saber se já está chegando mesmo. Como se fizesse toda a diferença do mundo saber se o nego tá na garagem ou já no local combinado.
Ontem mesmo fiz isso com uma amiga: combinamos, pelo messenger, de ir ao shopping X jantar juntas depois do trabalho. Avisei, pelo messenger, que já estava saindo. Do carro, liguei pra dizer que já tinha saído. Chegando ao shopping, liguei pra saber se ela já estava vindo. Depois de novo para saber se ela já tinha chegado e avisar que eu estava na loja tal. Saindo da loja tal, não a vi no corredor e isso foi motivo para eu ligar mais 3 vezes pra criatura - ok, ela está grávida, tinha se sentido mal naquela manhã, fiquei preocupada, mas né? Não precisava tudo isso - até finalmente nos encontrarmos.
O que eu devia ter feito era somente avisado onde eu estava, e depois esperado ela chegar ali. Como se fazia antes de termos esses planos de ligações e sms ilimitados - eu acho ótimo, longe de mim reclamar! - quando o celular não existia ou era tão mais caro do que é hoje e tão difícil de usar. Tive a experiência da volta à era pré-celular quando fui a Milão ano passado visitar minha filha que estava estudando lá. Como na minha última viagem à Itália paguei praticamente outra passagem aérea com o valor da conta do celular, desta vez larguei o bicho dentro da mala para só ligá-lo quando retornasse ao Brasil. Com isso, eu e ela tínhamos de combinar com antecedência o que fazer, em que local nos encontraríamos, em que horário. E chegando no local, esperar pela outra calmamente, sem ficar quicando de ansiedade. Ao mesmo tempo, você precisa se programar para efetivamente estar no local combinado na hora combinada, e não fazer o outro mofar esperando, porque não vai dar pra avisar.
Quando eu e minha irmã éramos crianças, passávamos as férias de verão internadas no sítio dos meus avós, na já citada e conhecida localidade do Rio Clotário, entre João Neiva e Demétrio Ribeiro. 3 meses inteiros na roça, tomando picada de borrachudo, pegando bicho de pé e carrapicho, comendo goiaba bichada direto do pé (a gente dava um peteleco no bicho) e adorando cada minuto. Um dos programas preferidos era brincar com a Adriana Bolis, que morava em um dos sítios vizinhos.
Passávamos pelo filetinho de rio que corria atrás do chiqueiro, cortávamos caminho pelo pasto, com a recomendação de irmos pelo cantinho e não fazermos movimentos bruscos, nem sair correndo desembestadas, para não provocar os bois, touros, vacas e quem mais ali estivesse pastando. Nem de futucar buracos, porque neles poderia haver cobras. Atravessávamos o pasto, passávamos por baixo da cerca de arame farpado do sítio de não-me-lembro-qual- família, e assim chegávamos nos Bolis, para uma tarde de brincadeiras ou de ler revistinha com a Adriana.
O horário limite de volta era até umas 16h30, porque depois era o horário das cobras ali no riozinho que atravessávamos - segundo meus tios, tudo cobrinha d'água, nem eram venenosas, só se enroscavam nas pernas e NADA MAIS (precisava de alguma coisa além disso pra matar de susto?). Aliás, o horário das cobras regia nossa volta do sítio da Adriana, nosso horário de banho, nosso horário de brincar no balanço debaixo do pé de carambola. Quando dava o horário das prim.. ops, cobras, não podíamos mais brincar longe de casa, só ali por perto - mas sem futucar buracos, porque tinha aranha caranguejeira, uma paz de espírito incrível!
Isso pra contar que, se nos sítios não tinha nem luz elétrica, que dirá telefone. Ou seja, saíamos eu e minha irmã, eu com uns 7 anos de idade e minha irmã com 8, pasto afora, sozinhas, sem nem ter como avisar que tínhamos chegado, que nenhum boi tinha pisoteado a gente, nenhuma vaca lambido, nenhuma cobra se enroscado nas pernas. Brincávamos a tarde toda, e depois voltávamos. Se demorássemos um pouco, meu tio Joaquim, que era novinho, ia lá nos chamar. Pronto, simples assim. Não sei como minha mãe não morria do coração, aliás, não sei como ela DEIXAVA a gente ir, mas fato é que íamos as duas muito serelepes e saltitantes. Eu era tão pequena que me lembro que um dia minha irmã e Adriana não queriam me levar, porque eu era considerada pirralha, além de ser medrosa pacas e não querer subir em nada, nem atravessar pinguelas suspeitas sobre os rios, e coisas dessa natureza, e eu caí no choro. Meu avô, pra me consolar, disse que era porque eu estava de blusa vermelha, e não podia ir de blusa vermelha no pasto, e que além de tudo, na blusa da minha irmã tinha um coelhinho desenhado e o touro tinha medo do coelhinho, e por isso minha irmã podia ir e eu não. E eu achei coerentíssima a explicação do touro com medo do coelhinho desenhado e parei de chorar, auxiliada pela balinha que meu avô me deu para me consolar.
Claro que os tempos são outros, tudo mais ficou mais perigoso, mas talvez fizesse um bem danado a todos nós se fizéssemos uma pequena volta ao passado e controlássemos um pouquinho que fosse nosso desespero e ansiedade para não ficarmos nos rastreando de 2 e 2 minutos e aproveitarmos o tempo da espera para parar, relaxar, olhar o povo que passa e pensar na vida.
Veja se não é assim: você marca com um amigo em algum lugar. Na era pré-celular, você marcava o local exato e o horário - se fosse no shopping, era no shopping x, tal hora, em frente à loja tal. Quem chegava primeiro, esperava pelo outro, lendo um livro, uma revista, ou olhando distraidamente para o povo que passava.
Agora a gente combina mais ou menos o local e mais ou menos o horário, e depois fica se ligando mais umas 3 vezes para acertar a combinação. Chega no local e liga pra dizer que chegou e saber onde é que o outro está. Se ele disser que já está perto, vamos ligar pelo menos mais uma vez pra saber se já está chegando mesmo. Como se fizesse toda a diferença do mundo saber se o nego tá na garagem ou já no local combinado.
Ontem mesmo fiz isso com uma amiga: combinamos, pelo messenger, de ir ao shopping X jantar juntas depois do trabalho. Avisei, pelo messenger, que já estava saindo. Do carro, liguei pra dizer que já tinha saído. Chegando ao shopping, liguei pra saber se ela já estava vindo. Depois de novo para saber se ela já tinha chegado e avisar que eu estava na loja tal. Saindo da loja tal, não a vi no corredor e isso foi motivo para eu ligar mais 3 vezes pra criatura - ok, ela está grávida, tinha se sentido mal naquela manhã, fiquei preocupada, mas né? Não precisava tudo isso - até finalmente nos encontrarmos.
O que eu devia ter feito era somente avisado onde eu estava, e depois esperado ela chegar ali. Como se fazia antes de termos esses planos de ligações e sms ilimitados - eu acho ótimo, longe de mim reclamar! - quando o celular não existia ou era tão mais caro do que é hoje e tão difícil de usar. Tive a experiência da volta à era pré-celular quando fui a Milão ano passado visitar minha filha que estava estudando lá. Como na minha última viagem à Itália paguei praticamente outra passagem aérea com o valor da conta do celular, desta vez larguei o bicho dentro da mala para só ligá-lo quando retornasse ao Brasil. Com isso, eu e ela tínhamos de combinar com antecedência o que fazer, em que local nos encontraríamos, em que horário. E chegando no local, esperar pela outra calmamente, sem ficar quicando de ansiedade. Ao mesmo tempo, você precisa se programar para efetivamente estar no local combinado na hora combinada, e não fazer o outro mofar esperando, porque não vai dar pra avisar.
Quando eu e minha irmã éramos crianças, passávamos as férias de verão internadas no sítio dos meus avós, na já citada e conhecida localidade do Rio Clotário, entre João Neiva e Demétrio Ribeiro. 3 meses inteiros na roça, tomando picada de borrachudo, pegando bicho de pé e carrapicho, comendo goiaba bichada direto do pé (a gente dava um peteleco no bicho) e adorando cada minuto. Um dos programas preferidos era brincar com a Adriana Bolis, que morava em um dos sítios vizinhos.
Passávamos pelo filetinho de rio que corria atrás do chiqueiro, cortávamos caminho pelo pasto, com a recomendação de irmos pelo cantinho e não fazermos movimentos bruscos, nem sair correndo desembestadas, para não provocar os bois, touros, vacas e quem mais ali estivesse pastando. Nem de futucar buracos, porque neles poderia haver cobras. Atravessávamos o pasto, passávamos por baixo da cerca de arame farpado do sítio de não-me-lembro-qual- família, e assim chegávamos nos Bolis, para uma tarde de brincadeiras ou de ler revistinha com a Adriana.
O horário limite de volta era até umas 16h30, porque depois era o horário das cobras ali no riozinho que atravessávamos - segundo meus tios, tudo cobrinha d'água, nem eram venenosas, só se enroscavam nas pernas e NADA MAIS (precisava de alguma coisa além disso pra matar de susto?). Aliás, o horário das cobras regia nossa volta do sítio da Adriana, nosso horário de banho, nosso horário de brincar no balanço debaixo do pé de carambola. Quando dava o horário das prim.. ops, cobras, não podíamos mais brincar longe de casa, só ali por perto - mas sem futucar buracos, porque tinha aranha caranguejeira, uma paz de espírito incrível!
Isso pra contar que, se nos sítios não tinha nem luz elétrica, que dirá telefone. Ou seja, saíamos eu e minha irmã, eu com uns 7 anos de idade e minha irmã com 8, pasto afora, sozinhas, sem nem ter como avisar que tínhamos chegado, que nenhum boi tinha pisoteado a gente, nenhuma vaca lambido, nenhuma cobra se enroscado nas pernas. Brincávamos a tarde toda, e depois voltávamos. Se demorássemos um pouco, meu tio Joaquim, que era novinho, ia lá nos chamar. Pronto, simples assim. Não sei como minha mãe não morria do coração, aliás, não sei como ela DEIXAVA a gente ir, mas fato é que íamos as duas muito serelepes e saltitantes. Eu era tão pequena que me lembro que um dia minha irmã e Adriana não queriam me levar, porque eu era considerada pirralha, além de ser medrosa pacas e não querer subir em nada, nem atravessar pinguelas suspeitas sobre os rios, e coisas dessa natureza, e eu caí no choro. Meu avô, pra me consolar, disse que era porque eu estava de blusa vermelha, e não podia ir de blusa vermelha no pasto, e que além de tudo, na blusa da minha irmã tinha um coelhinho desenhado e o touro tinha medo do coelhinho, e por isso minha irmã podia ir e eu não. E eu achei coerentíssima a explicação do touro com medo do coelhinho desenhado e parei de chorar, auxiliada pela balinha que meu avô me deu para me consolar.
Claro que os tempos são outros, tudo mais ficou mais perigoso, mas talvez fizesse um bem danado a todos nós se fizéssemos uma pequena volta ao passado e controlássemos um pouquinho que fosse nosso desespero e ansiedade para não ficarmos nos rastreando de 2 e 2 minutos e aproveitarmos o tempo da espera para parar, relaxar, olhar o povo que passa e pensar na vida.
6 Comentários:
E a casinha da Adriana, tão fofa!!! a casona da roça, parecia enoooormeeee!!! E os cachorros!!! Sem tv, sem internet, sem "nada" a gente tinha tudo!
Nossa, a gente saía pra ANDAR NAS PEDRAS na praia, imagina o perigo? Nossos pais eram loucos ou a gente que ficou neurótica?
Concordo que abusamos um pouco da tecnologia... E a ansiedade aumenta mesmo! Beijo
Cacá, adoroooooooooo os seus textos, suas dicas...Mas, já vi que a ansiedade é genético...pelo menos na nossa familia! E pede tudo, menos calma e esperar!
Odeiooooo esperar...Sou muito pontual e sempre chego no horario. Não me perdoo, morro de vergonha quando deixo alguém esperando se quer um segundo. Me programo demais. Sei que isso, as vezes, me faz mal. E tenho trabalhado muito isso...Mas a tal ansiedade...PQP!!!
Agora, lendo a historinha do sitio...aí sim, dá pra relaxar! Quando vou pra la nem tiro o cel da bolsa (Que diferença faz hoje de antes? O celular continua nao pegando na roça)...nao dá pra ficar postando as novidades do sitio, nem atendendo povo e explicando onde está...é uma delicia! Hj as cobrinhas nao sao mais aquelas de rio...são tipo Jararacas, sabe? Mas, nem assustam tanto...rs.
Muito bom!
Beijos e Bom final de semana!
Nana2
Rosana, era sensacional, não era?
MH, a gente também! E entrava no mar de ressaca, com ondas revoltas e tudo.
Nana, ansiedade é muito angustiante, temos de aprender a tirar o pé do acelerador, eu acho que é uma questão de treino.
bjs
Concordo totalmente! A vida era mais simples, menos stress, ao tinha essa de ficar checando FB antes de dormir...aff
Thаt iѕ а reаlly gooԁ tip partіculaгlу tо thοse nеω
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