A incrível aventura da paternidade
Um amigo meu disse que o pai está em êxtase porque a irmã mais nova está se formando em Medicina. Acredito que a sensação seja bem essa, um encantamento, um orgulho, uma alegria imensa, uma sensação de dever cumprido e bem cumprido.
Porque ser pai e mãe é uma aventura que a gente basicamente sabe como é que começa, mas não tem nem ideia no que aquilo vai dar. No que aquele pacotinho de meio metro que largam no colo da gente pra gente trazer pra casa vai fazer da vida dali a alguns anos - os quais passam muito mais rápido do que podemos supor, estamos sempre defasados em relação à idade cronológica dos nossos filhos. A minha, por exemplo, eu acho que ainda tem 5 anos.
Por um bom tempo, tudo na vida daquele pedacinho de gente depende das nossas escolhas: que pediatra vai cuidar dele, homeopata ou alopata? Que roupinha vou vestir, será que ele está com frio, com calor, com frio e com calor, que tipo de alimentação terá, vai mamar no peito ou não vai, vou passear com ele no shopping ou não vou, berçário, babá, deixo temporariamente minha vida profissional para me dedicar a ele? Quais os amiguinhos, em qual escolinha vou matriculá-lo e com que idade. Deixo ver este filme, será que ele deve ter um animalzinho de estimação, tomar gelado? Ensino a revidar se apanha na escola ou prego a não-violência? Levo eu mesma ou pago um transporte escolar? Compro quais livrinhos para estimular a leitura, deixo usar o computador por quantas horas? Com que idade coloco na natação? Balé ou judô, ou ambos? Escola bilíngue? Deixo ir na festinha? Busco na festinha a que horas? Coloco de castigo ou já passou da idade? Dou uma palmada no bumbum?
Perdi a conta da quantidade de vezes em que chorei no chuveiro, torturada pela dúvida, pela incerteza, pela culpa, pela responsabilidade, pelo medo de estar estragando a vida da minha filha, por tudo isso junto e misturado.
O fato é que não sabemos o resultado das nossas ações a não ser depois que as fazemos, e elas são todas sem volta. Não é um banheiro que você achou que ficaria lindo todo em azul e depois de constatar que fez uma péssima escolha, manda quebrar e trocar pra branco mesmo. Nem um chocolatinho a mais que você comeu e depois vai queimar o arrependimento na esteira. São decisões importantes, pequenas ou grandes, todas fazendo parte do conjunto da obra mais importante na vida de alguém: criar um filho e fazer dele uma pessoa "de bem".
Essa imensa responsabilidade é colocada em nosso colo junto com o tal pacotinho de meio metro e 3kg, mas ninguém avisa que vai ser assim todo o tempo, porque a gente se prepara para o macro - onde ele vai estudar - mas nunca para o micro - deixo ele comer açúcar a partir de quando. E o micro aparece a todo minuto. Lembro até hoje do momento desesperador de pisar em casa com a Isabela no colo, eu mesma ainda tão jovem, e pensar que agora era comigo. Que agora eu era mãe de alguém, que isso era irreversível, que eu tinha perdido o controle sobre a minha própria vida. Que não podia apertar um botão e chamar a enfermeira para me ajudar. Que nunca mais a prioridade na minha vida seria eu mesma e que tudo o que eu fizesse ou dissesse ia se refletir nela e que a vidinha dela dependia quase que exclusivamente do que eu fizesse.
Aí, ele vai crescendo e você vai calibrando suas escolhas para ele, ele mesmo passa a fazer algumas, por si só, e, um dia, esse precioso pacotinho que agora tem muitos centímetros a mais, se forma na faculdade. Penso que a sensação deve ser parecida com "ok, por mais merda que eu tenha feito, por mais que eu tenha tomado uma decisão errada aqui outra ali, por mais que eu pudesse ter feito diferente, ele sobreviveu aos meus erros e, no fim, transformou-se em um adulto que pode caminhar por si só, fazer as próprias escolhas, e algum dia, as escolhas de um outro pacotinho de meio metro".
Eu acho que neste momento, os pais devem ter mesmo essa sensação de êxtase, de felicidade, e por que não dizer, de libertação.
E olhar para si mesmos e dizer: Muito bem! Parabéns! Você conseguiu!
Porque ser pai e mãe é uma aventura que a gente basicamente sabe como é que começa, mas não tem nem ideia no que aquilo vai dar. No que aquele pacotinho de meio metro que largam no colo da gente pra gente trazer pra casa vai fazer da vida dali a alguns anos - os quais passam muito mais rápido do que podemos supor, estamos sempre defasados em relação à idade cronológica dos nossos filhos. A minha, por exemplo, eu acho que ainda tem 5 anos.
Por um bom tempo, tudo na vida daquele pedacinho de gente depende das nossas escolhas: que pediatra vai cuidar dele, homeopata ou alopata? Que roupinha vou vestir, será que ele está com frio, com calor, com frio e com calor, que tipo de alimentação terá, vai mamar no peito ou não vai, vou passear com ele no shopping ou não vou, berçário, babá, deixo temporariamente minha vida profissional para me dedicar a ele? Quais os amiguinhos, em qual escolinha vou matriculá-lo e com que idade. Deixo ver este filme, será que ele deve ter um animalzinho de estimação, tomar gelado? Ensino a revidar se apanha na escola ou prego a não-violência? Levo eu mesma ou pago um transporte escolar? Compro quais livrinhos para estimular a leitura, deixo usar o computador por quantas horas? Com que idade coloco na natação? Balé ou judô, ou ambos? Escola bilíngue? Deixo ir na festinha? Busco na festinha a que horas? Coloco de castigo ou já passou da idade? Dou uma palmada no bumbum?
Perdi a conta da quantidade de vezes em que chorei no chuveiro, torturada pela dúvida, pela incerteza, pela culpa, pela responsabilidade, pelo medo de estar estragando a vida da minha filha, por tudo isso junto e misturado.
O fato é que não sabemos o resultado das nossas ações a não ser depois que as fazemos, e elas são todas sem volta. Não é um banheiro que você achou que ficaria lindo todo em azul e depois de constatar que fez uma péssima escolha, manda quebrar e trocar pra branco mesmo. Nem um chocolatinho a mais que você comeu e depois vai queimar o arrependimento na esteira. São decisões importantes, pequenas ou grandes, todas fazendo parte do conjunto da obra mais importante na vida de alguém: criar um filho e fazer dele uma pessoa "de bem".
Essa imensa responsabilidade é colocada em nosso colo junto com o tal pacotinho de meio metro e 3kg, mas ninguém avisa que vai ser assim todo o tempo, porque a gente se prepara para o macro - onde ele vai estudar - mas nunca para o micro - deixo ele comer açúcar a partir de quando. E o micro aparece a todo minuto. Lembro até hoje do momento desesperador de pisar em casa com a Isabela no colo, eu mesma ainda tão jovem, e pensar que agora era comigo. Que agora eu era mãe de alguém, que isso era irreversível, que eu tinha perdido o controle sobre a minha própria vida. Que não podia apertar um botão e chamar a enfermeira para me ajudar. Que nunca mais a prioridade na minha vida seria eu mesma e que tudo o que eu fizesse ou dissesse ia se refletir nela e que a vidinha dela dependia quase que exclusivamente do que eu fizesse.
Aí, ele vai crescendo e você vai calibrando suas escolhas para ele, ele mesmo passa a fazer algumas, por si só, e, um dia, esse precioso pacotinho que agora tem muitos centímetros a mais, se forma na faculdade. Penso que a sensação deve ser parecida com "ok, por mais merda que eu tenha feito, por mais que eu tenha tomado uma decisão errada aqui outra ali, por mais que eu pudesse ter feito diferente, ele sobreviveu aos meus erros e, no fim, transformou-se em um adulto que pode caminhar por si só, fazer as próprias escolhas, e algum dia, as escolhas de um outro pacotinho de meio metro".
Eu acho que neste momento, os pais devem ter mesmo essa sensação de êxtase, de felicidade, e por que não dizer, de libertação.
E olhar para si mesmos e dizer: Muito bem! Parabéns! Você conseguiu!
2 Comentários:
Que lindo Cláu!!!
Eu creio que a Isabela tem a melhor mae do mundo.
bjussss
Nana2
<3 Nana, obrigada! Mas a concorrência é grande: a minha, a sua... bjs
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