Paradise is here, como diria Tina Turner
Eu sou uma pessoa sociável, e gosto de redes sociais, pois são mais uma forma de manter contato com meus amigos e minha família, fonte de diversão e de observação. Como jornalista - não -praticante, mas a alma continua sendo de jornalista - adoro histórias de gente e comportamento é um assunto que sempre me interessou.
O que me incomoda nas redes sociais - basicamente o Facebook, não uso o twitter por não ver o menor sentido nele - é o pedantismo e a arrogância das pessoas que se investem como paladinos da moralidade, da correção e do bom-mocismo. Quase sempre, as palavras não acompanham a atitude, como é comum em quem se arvora de engenheiro de obra pronta, de professor Pasquale que ninguém chamou no assunto, ou de revoltado profissional.
A pessoa não se contém e corrije o erro de português de alguém, como se nunca na vida tivesse trocado um s por um z. É bastante provável que a pessoa que nunca na vida trocou um s por um z não corrija quem errou, porque isso é de uma falta de educação incrível. Quer corrigir um amigo que cometeu um erro de português? Manda uma mensagem privada para ele, não fique querendo arrotar conhecimento e constranger alguém publicamente. A pessoa se defende dizendo "ah eu gosto que me corrijam". Gosta nada, ninguém gosta, publicamente. Faça isso de forma privada, e somente se for com a intenção de que seu amigo não seja ridicularizado. Mais ou menos como se você percebesse que uma amiga sua está com uma melequinha aparente no nariz: você chama ela num cantinho e avisa bem baixinho ou aponta com o dedo no meio da rodinha, falando alto?
Ou, se o faz publicamente, tenha a absoluta certeza de que você domina o idioma e que NUNCA, nem que o mundo caia sobre ti, nem se Deus mandar ou mesmo assim, irá se esquecer de um acento, colocar um x onde devia ser ch e tropeçar na concordância verbal.
Temos também os pais cujos filhos foram sempre super bem-educados, cujos filhos nunca fazem nada errado, nunca jogaram um papelzinho no chão, nunca ouviram música alto, nunca responderam atravessado, nunca fizeram uma malcrianção, enfim, são uns exemplos de correção. Só me lembro das reuniões na escola da minha filha, aquela classe de 20 alunos, pais e mães jurando por Deus que seus filhos de oito anos NUNCA MENTIAM - e somente a Isabela, o Guilherme e o Giancarlo, amiguinhos dela, eram os meliantes que mentiam, tentavam dar a volta na gente, ficavam de castigo por isso, confessados por nós, suas mães como se isso fosse a coisa mais natural do mundo - não sei de onde tiraram a máxima de que criança não mente, eles têm começado cada vez mais cedo! - , com as demais nos dando conselhos e sugerindo que nossos filhos precisavam de tratamento psicológico oh céus! Nessa linha, todos os filhos facebookianos ajudam velhinhas a atravessar a rua, cedem o lugar no transporte público, tiram notas boas e rezam antes de dormir.
Por falar em transporte público, e o povo que desabafa que São Paulo não suporta mais tanto carro na rua, que estão fabricando mais e mais automóveis e facilitando que OS POBRES comprem carros? Pergunta se essa criatura tem carro na garagem? Muitas vezes mais de um. Se anda de metrô? Ônibus? Táxi que seja. Estava lendo o post em uma das páginas que acompanho, de uma mulher reclamando que antes, para ir até a padaria que fica a 700m da casa dela, ela levava X tempo e agora leva Y porque fizeram um canteiro central na avenida e ela tem de dar a volta. A pessoa pega o carro para andar 700 METROS e está reclamando que o trânsito está cada dia mais impossível? Concordo com todos os argumentos de que a cidade anda tão perigosa que mal dá para andar a pé, mas deve haver alguma alternativa diferente do que pegar o carro e sair de casa para ir a uma padaria que fica tão perto.
Ou bradam que nunca estacionaram numa vaga de deficiente ou de idoso, batem no peito ressaltando isso, esperando as palmas dos demais. Lamento dizer que não parar na vaga de deficiente ou de idoso não é um ato heróico e sim OBRIGAÇÃO, mais obrigação do que escovar os dentes todas as manhãs, já que ficar com dentes podres não é proibido por lei e eu não vejo ninguém postando o quanto é sensacional por ter escovado os dentes ao acordar.
Há também os que criticam quem se dedica à proteção animal, dizendo que tem tanta criança abandonada por aí... e claro que são essas pessoas as que justamente nada fazem, seja por bicho, planta ou gente, pois eu defendo a tese de que quem faz algo de bom por bicho, planta ou gente, reconhece o trabalho do outro, e o valoriza, pois são todos parte de um projeto por um mundo melhor. Os que bradam contra a homofobia e "até gostam dos homossexuais", os que nunca levam desaforo para casa, os fodões, os que sempre se dão bem em tudo, os que enaltecem os próprios gestos como sendo fruto de uma alma iluminada, quando muitas vezes deveriam ser obrigatórios.
Se usássemos o facebook para espelhar a raça humana, não conseguiríamos jamais entender porque existem guerra, fome, intolerância, crianças mal-educadas e que mentem para os pais e professores, crimes, bullying e toda sorte de mazelas. Nenhum bebê jamais nasceria de parto cesariana e todos seriam amamentados exclusivamente no peito até os seis meses de idade, decretando a falência das fábricas de mamadeira e o fim do Nan.
Nem ninguém nunca engoliria sapos, ou faria algo contra a vontade.
Nem haveria um único lixo fora da lixeira.
Isso me cansa sabe?
O que me incomoda nas redes sociais - basicamente o Facebook, não uso o twitter por não ver o menor sentido nele - é o pedantismo e a arrogância das pessoas que se investem como paladinos da moralidade, da correção e do bom-mocismo. Quase sempre, as palavras não acompanham a atitude, como é comum em quem se arvora de engenheiro de obra pronta, de professor Pasquale que ninguém chamou no assunto, ou de revoltado profissional.
A pessoa não se contém e corrije o erro de português de alguém, como se nunca na vida tivesse trocado um s por um z. É bastante provável que a pessoa que nunca na vida trocou um s por um z não corrija quem errou, porque isso é de uma falta de educação incrível. Quer corrigir um amigo que cometeu um erro de português? Manda uma mensagem privada para ele, não fique querendo arrotar conhecimento e constranger alguém publicamente. A pessoa se defende dizendo "ah eu gosto que me corrijam". Gosta nada, ninguém gosta, publicamente. Faça isso de forma privada, e somente se for com a intenção de que seu amigo não seja ridicularizado. Mais ou menos como se você percebesse que uma amiga sua está com uma melequinha aparente no nariz: você chama ela num cantinho e avisa bem baixinho ou aponta com o dedo no meio da rodinha, falando alto?
Ou, se o faz publicamente, tenha a absoluta certeza de que você domina o idioma e que NUNCA, nem que o mundo caia sobre ti, nem se Deus mandar ou mesmo assim, irá se esquecer de um acento, colocar um x onde devia ser ch e tropeçar na concordância verbal.
Temos também os pais cujos filhos foram sempre super bem-educados, cujos filhos nunca fazem nada errado, nunca jogaram um papelzinho no chão, nunca ouviram música alto, nunca responderam atravessado, nunca fizeram uma malcrianção, enfim, são uns exemplos de correção. Só me lembro das reuniões na escola da minha filha, aquela classe de 20 alunos, pais e mães jurando por Deus que seus filhos de oito anos NUNCA MENTIAM - e somente a Isabela, o Guilherme e o Giancarlo, amiguinhos dela, eram os meliantes que mentiam, tentavam dar a volta na gente, ficavam de castigo por isso, confessados por nós, suas mães como se isso fosse a coisa mais natural do mundo - não sei de onde tiraram a máxima de que criança não mente, eles têm começado cada vez mais cedo! - , com as demais nos dando conselhos e sugerindo que nossos filhos precisavam de tratamento psicológico oh céus! Nessa linha, todos os filhos facebookianos ajudam velhinhas a atravessar a rua, cedem o lugar no transporte público, tiram notas boas e rezam antes de dormir.
Por falar em transporte público, e o povo que desabafa que São Paulo não suporta mais tanto carro na rua, que estão fabricando mais e mais automóveis e facilitando que OS POBRES comprem carros? Pergunta se essa criatura tem carro na garagem? Muitas vezes mais de um. Se anda de metrô? Ônibus? Táxi que seja. Estava lendo o post em uma das páginas que acompanho, de uma mulher reclamando que antes, para ir até a padaria que fica a 700m da casa dela, ela levava X tempo e agora leva Y porque fizeram um canteiro central na avenida e ela tem de dar a volta. A pessoa pega o carro para andar 700 METROS e está reclamando que o trânsito está cada dia mais impossível? Concordo com todos os argumentos de que a cidade anda tão perigosa que mal dá para andar a pé, mas deve haver alguma alternativa diferente do que pegar o carro e sair de casa para ir a uma padaria que fica tão perto.
Ou bradam que nunca estacionaram numa vaga de deficiente ou de idoso, batem no peito ressaltando isso, esperando as palmas dos demais. Lamento dizer que não parar na vaga de deficiente ou de idoso não é um ato heróico e sim OBRIGAÇÃO, mais obrigação do que escovar os dentes todas as manhãs, já que ficar com dentes podres não é proibido por lei e eu não vejo ninguém postando o quanto é sensacional por ter escovado os dentes ao acordar.
Há também os que criticam quem se dedica à proteção animal, dizendo que tem tanta criança abandonada por aí... e claro que são essas pessoas as que justamente nada fazem, seja por bicho, planta ou gente, pois eu defendo a tese de que quem faz algo de bom por bicho, planta ou gente, reconhece o trabalho do outro, e o valoriza, pois são todos parte de um projeto por um mundo melhor. Os que bradam contra a homofobia e "até gostam dos homossexuais", os que nunca levam desaforo para casa, os fodões, os que sempre se dão bem em tudo, os que enaltecem os próprios gestos como sendo fruto de uma alma iluminada, quando muitas vezes deveriam ser obrigatórios.
Se usássemos o facebook para espelhar a raça humana, não conseguiríamos jamais entender porque existem guerra, fome, intolerância, crianças mal-educadas e que mentem para os pais e professores, crimes, bullying e toda sorte de mazelas. Nenhum bebê jamais nasceria de parto cesariana e todos seriam amamentados exclusivamente no peito até os seis meses de idade, decretando a falência das fábricas de mamadeira e o fim do Nan.
Nem ninguém nunca engoliria sapos, ou faria algo contra a vontade.
Nem haveria um único lixo fora da lixeira.
Isso me cansa sabe?
9 Comentários:
Adorei - principalmente a parte dos dentes! rs... não vinha no teu blog há muito tempo, legal. bjs!
Paaablooo!!! Como você está? Que bom que voltou a ler o blog, que aliás anda meio abandonado. Algum plano de vir a sp? bjs
Muito bom! Assino embaixo, endosso e avalizo!
Mas, pra resumir: o mundo pretensamente "politicamente correto" é muito - mas muito - chato!
Beijóvskas!
Eu deletei meu facebook por tudo isso que vc escreveu.
Me deu uma alívio tão grande, estava com a sensação quer era cúmplice de tanta hipocrisia.
Adauto, também acho, tudo tem limite, até mesmo a correção.
bjs
Amei este texto Clau... inspirada hein? Vc resumiu o que me faz enjoar do Face e me dar vontade de sumir... Não aguento povo arrotando caviar e comendo mortadela e se fazendo de santo quando na verdade "seu passado te condena"... Vamos ser mais honesto com nós mesmos... Vale a pena tentar.... beijos
Re
Eu tbm estou cansada! Por isso, pensando seriamente em acabar com o meu em 2013!!! :(
Nana2
Re e Nana, eu ainda acho que o facebook é o espelho da vida: tem as partes boas e as ruins. No meu caso, as boas suplantam as más, porque é por meio dele que mantenho contato com vocês, por exemplo!
bjs
Amei o texto!!
Principalmente a licença poética: nem que o mundo caia sobre ti! Nem se Deus mandar, nem mesmo assim...
Demais, Clau! E, realmente, tem gente que tem prazer em ser inconveniente. Só pode ser!
Bjs
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