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segunda-feira, outubro 16, 2006

Olhos nos olhos

Hoje no final da tarde eu fui até o Shopping Morumbi pra resolver um problema que eu mesma criei, na tentativa de socorrer um cliente.

Enquanto esperava pra ver se tudo daria certo, resolvi relaxar um pouco e tomar um suco no Fran's. E aí tinha um bolo de laranja de maravilhosa aparência, falante ainda por cima, porque eu tenho certeza de que ele PEDIU insistentemente para que eu comesse ao menos um pedacinho.

Não se pode decepcionar um bolo de laranja assim, impunemente, vai que ele cresce complexado... eu jamais poderia dormir tranqüila à noite.

Sentei nas mesinhas que ficam no corredor em frente ao café, pensando na vida e atendendo aos apelos do bolo de laranja, acompanhado de um chazinho, quando na mesa ao meu lado sentou-se um casal.

Ele descendente de japonês, nem um pouco bonito. Ela, meio gordinha, umas roupas mal-combinadas, cor de cabelo sem graça, nada bonita também. Pareciam ter na faixa duns 35 anos e pediram dois cafés. Não pareciam um casal em começo de namoro, ao contrário, tinha cara de relacionamento já antigo.

Ela começou a falar com ele, a conversar, a contar alguma coisa, sei lá. Amenidades, dava pra perceber. E foi aí que comecei a notar: enquanto ela falava, ele parava o que fazia e olhava pra ela. Não olhava ao redor, não olhava pra baixo, nem pros lados, nem pro jornal que carregava, nem pras mãos. Olhava diretamente para os olhos dela e dava a ela algo raro de se ter hoje em dia: a atenção integral de quem está ao seu lado, quando o assunto não é sério, grave, importante ou conflituoso.

De repente, ele já não era mais assim tão feinho, nem ela era mais assim tão mal ajambrada. Formavam um casal lindo, integrado, harmonioso, sentado numa mesinha dum café de shopping, conversando trivialidades, alheios ao movimento, concentrados neles mesmos.

7 Comentários:

Blogger mc disse...

Vi a cena, parece que eu tava lá com vc.
A diferença é que eu não comi o bolo de laranja, mas agora fiquei com vontade...

10:13 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Ai, que lindo...
Adorei a descrição da cena.

11:42 AM  
Blogger Cláudia disse...

Bolo de laranja com um açúcar polvilhado em cima. Pois é, depois não sabe porque a calça nã fecha.

Vivi, a cena foi absolutamente simples e comum, mas tão rara que me chamou atenção. Foi mesmo uma coisa bonita de se ver.

12:02 PM  
Blogger Lala disse...

E eu leio isso e tenho vontade de chorar. É, tô um açucrinha de tão sensível, mas fazer o quê? Como dizia aquele moço fofo, o Drummond, cenas assim botam a gente comovido como o diabo.

Ah! SÓ mais uma coisa: não é todo mundo que saber ver uma cena como essa Clauzita. Sensibilidade tb bota a gente comovida feito o Diabo.

4:52 PM  
Blogger Cláudia disse...

Mary, eu tb tenho horror a quando falam comigo olhando pro teto. Acho mó pouco caso.

Lala, me chamou mesmo a atenção, acho que também ando uma manteiga derretida, capaz de domingo eu chorar feito doida abanando lencinho pro Schumi.

9:48 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Uai? Olha - não é demagogia não, muito menos gabolice - mas existe outro meio de se conversar? Independente de se tratar ou não de um casal, mesmo entre amigos e até mesmo com colegas, somente sei conversar literalmente com olhos nos olhos. Só desse jeito dá pra se ter uma vaga noção do que realmente se passa na cabecinha ao lado. Até porque já não foi dito que os olhos são espelhos d'alma?...

7:00 AM  
Anonymous Anônimo disse...

este post me lembrou aquela música do Chico Buarque, sabe!?
Que lindo...

11:24 AM  

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