Cinturinha de mogno

Ginger Rogers e Fred Astaire

Eu adoro dança e adoro dançar. Acho lindo quando vejo aqueles casais rodopiando pelo salão, nas festas de casamento. Morro de inveja.

E então, depois de ter passado vexame com um amigo, ambos tentando dançar sabe Deus o quê no casamento de uma amiga nossa, resolvi que entraria numa aula de dança de salão.

Hoje foi a primeira aula.

A escola fica no Espaço Cultural do Shopping Eldorado. Que lugar bacana!, cheio de cursos interessantes, salas grandes, bem arejadas, com - imprescindível - ar condicionado funcionando decentemente. O problema é que hoje cheguei com 20 minutos de antecedência, uma vez que eu não conheço muito bem o Eldorado (sei apenas o indispensável, a saber, onde ficam as lojas MNG e Arezzo).

Entrei na sala de aula, 20 minutos depois, carregando uma sacolinha da MNG com 5 blusinhas. Sabe como é né? Estavam em promoção, vestiram tão bem, ficaram tão lindas... Semana que vem vou cronometrar pra chegar lá cravado no horário, ou se duvidar cinco minutinhos atrasada, que é pra não dar tempo de comprar nada, já que, quando a aula termina, as lojas já estão fechadas. Caso contrário, nesse ritmo (não resisti), vou acabar dançando (não resisti de novo!).

Começa a aula, a professora ensina o primeiro passo: merengue. Merengue pra mim, até então, só o de morango. Passinho pra direita, passinho pra esquerda, passinho pra direita, passinho pra esquerda; anda pra frente no passinho, anda pra trás no passinho.

- E agora, pessoal, vou colocar a música pra vocês dançarem! Juntem os pares!

Acontece que meu amigo que se matriculou comigo já tinha avisado de antemão que não poderia ir à primeira aula porque estava ferrado de trabalho. Fui sozinha. Caí na mão de um japonês que vocês não têm noção. Era pra mexer os quadris, mas na falta deles e da capacidade de mexê-los, ele compensava chacoalhando os braços, com os meus incluídos no pacote.
Muda de par, dancei com um mocinho de uns 25 anos, bonitinho de tudo, que não sabia lá muito bem, mas vamos combinar que o moço tem futuro, porque pelo menos a pegada firme ele tem, fundamental na dança de salão e em outros campos da vida, mas não vamos nos desviar do assunto principal.

Muda de novo, dancei com um senhor. Vem o intervalo pra tomar uma água, porque a coisa é um exercício físico pra valer, eu já estava com as bochechas cor-de-rosa de calor.

Muda o passo pro forró. Ensaia o passinho, e a louca da professora bota a negada pra dançar forró. Dancei com um cara, e depois caí na mão de um japonês (outro) que já sabia dançar, e foi aí que eu comprovei algo que eu sempre tinha escutado mas nunca havia vivido na prática: quem conduz toda a dança é o homem, você apenas se deixa levar.

E não é que é isso mesmo? Me larguei ali nos braços do japonês e saímos rodopiando pelo salão, meu corpo apenas seguindo os movimentos do dele. Me senti a própria Ginger Rogers flanando nos braços do Fred Astaire. O que significa que boa parte da minha incapacidade para dar meia dúzia de passos decentes no salão devia-se tão somente à má condução do parceiro.

Detalhe: eu de salto alto, por que, afinal de contas, de que me adianta aprender de tênis ou de sandalinha baixa se quando eu for dançar pra valer numa festa estarei nas alturas?

Com isso, estou com as solas dos pés massacradas, as batatas das pernas latejando, as coxas pedindo a Deus pro mundo se acabar num Dorflex.

Mas feliz por descobrir que, afinal de contas, eu não tenho dois pés esquerdos.