Porque sou empresária
É curiosa a ideia que as pessoas assalariadas têm daquelas que são donas de uma empresa, ou são autônomas, enfim, que não precisam bater o ponto. Falando especificamente do meu caso, as pessoas acham que o fato de eu não ter um chefe no meu cangote controlando o horário que entro e o horário que saio faz com que eu possa fazer tudo o que quero, da forma que quero, e somente se eu quero.
Começa que não tenho mesmo um chefe. Tenho inúmeros, cada um com suas exigências, manias, expectativas e necessidades. Meus chefes são meus clientes, é para eles que eu trabalho, eles que pagam as contas da empresa. É o que eu digo sempre para os funcionários: não sou eu quem pago os salários, mas sim o dono dessa calça que está sendo montada, ou dessa leva de pólos ou desses casacos que estão atrasados. E engulo tantos sapos quanto uma pessoa assalariada engole, variando em tamanho, peso e espessura de acordo com o projeto que resolve engripar mais ou menos. Além do mais, quem tem um único chefe já conhece seu modo de agir, ao contrário de mim, que nunca sei o que esperar do lado de lá, excetuando, claro, os clientes frequentes, que felizmente são vários.
Também respondo a fornecedores, da mesma forma que os cobro desgastante e incessantemente para satisfazer aos meus chefes e cumprir o que esperam de mim. Há uma ideia errada de que os fornecedores estão loucos para vender e por isso os trâmites do fornecimento acontecem sem problemas. É tecido importado que fica retido no porto, é subida e queda do dólar que afetam a importação dos mesmos, é tecido que vem na tonalidade diferente da pedida, é linha que vem cheia de minúsculos nós que emperram na hora da costura, é mecânico que leva a máquina e não devolve no prazo prometido, zíper que vem no tamanho errado e não cabe no casaco, cordão que não é entregue na espessura desejada, botão de pressão que não suporta a pressão, cor de tecido adotado para colégio que sai de linha sem aviso prévio.
Melhor parar por aqui, senão vou começar a chorar.
Sem contar que, quando você trabalha para uma empresa, mesmo que ela não esteja no seu melhor momento, todo dia 5, ou 20 ou 30 sei lá, seu salário está na sua conta, te esperando, seja ele pouco ou muito. Agora, pergunta pra mim quantas vezes já abri mão do meu pró-labore em nome da folha de pagamento da empresa. Quantos juros de contas particulares já paguei pra não deixar o nome da empresa ir parar em protesto no cartório em tempos de vacas magras. Quantas vezes larguei meus problemas de lado para resolver os da empresa. Quantas vezes usei meu carro para buscar matéria-prima para não atrasar uma entrega. Quantas vezes fico eu mesma na produção e só não costuro porque não consigo, porque todo o resto eu tenho de fazer por pura falta de braço. Quantas consultas e exames desmarquei por conta de imprevistos que dependiam da minha presença.
Sem ganhar nada além por isso a não ser o fato de fazer a empresa andar.
Viajei esta semana e tirei um dia de folga para isso. E escuto: ah, como é bom ser empresária, não? Pode sair de férias quando quiser! Pra começar, para tirar este um dia, foi preciso uma semana prévia de trabalho duro para deixar tudo engatilhado, só tendo de ser monitorado pela assistente, por meio de um email enorme e cheio de detalhes para não haver falhas. Isso porque esta época do ano é normalmente mais calma mesmo, e com a crise tá mais calma do que o usual, infelizmente.
Além do mais, viajar não pode ser em qualquer época do ano, me chama pra passar dois dias em Fortaleza em janeiro, por exemplo, com tudo pago, pra ficar no hotel mais caro da cidade e a minha resposta será que em janeiro não tenho tempo nem pra ir ao banheiro.
Toda terça eu faço massagem aqui perto, no meio da tarde, único horário disponível. Para isso, abro mão de sair pra almoçar e como qualquer coisa antes de ir. Levo, entre sair daqui, fazer a massagem e voltar, menos de uma hora e meia, mesmo tempo ou às vezes menos, do que a maior parte das pessoas têm para sair pra almoçar. Isso quando não chego lá e peço pra fazer menos tempo, só pra não cancelar e deixar as massagistas na mão, porque afinal de contas, elas contam comigo também para cumprir seus compromissos, certo?
Hoje perguntei a uma amiga se ela queria almoçar comigo. Resposta dela: sim, eu posso, mas só no horário X porque não sou empresária.
Mal sabe ela que, em oito dias de trabalho, este será o primeiro dia em que terei brecha para sair para almoçar, por uma hora que seja.
Porque sou empresária.
Começa que não tenho mesmo um chefe. Tenho inúmeros, cada um com suas exigências, manias, expectativas e necessidades. Meus chefes são meus clientes, é para eles que eu trabalho, eles que pagam as contas da empresa. É o que eu digo sempre para os funcionários: não sou eu quem pago os salários, mas sim o dono dessa calça que está sendo montada, ou dessa leva de pólos ou desses casacos que estão atrasados. E engulo tantos sapos quanto uma pessoa assalariada engole, variando em tamanho, peso e espessura de acordo com o projeto que resolve engripar mais ou menos. Além do mais, quem tem um único chefe já conhece seu modo de agir, ao contrário de mim, que nunca sei o que esperar do lado de lá, excetuando, claro, os clientes frequentes, que felizmente são vários.
Também respondo a fornecedores, da mesma forma que os cobro desgastante e incessantemente para satisfazer aos meus chefes e cumprir o que esperam de mim. Há uma ideia errada de que os fornecedores estão loucos para vender e por isso os trâmites do fornecimento acontecem sem problemas. É tecido importado que fica retido no porto, é subida e queda do dólar que afetam a importação dos mesmos, é tecido que vem na tonalidade diferente da pedida, é linha que vem cheia de minúsculos nós que emperram na hora da costura, é mecânico que leva a máquina e não devolve no prazo prometido, zíper que vem no tamanho errado e não cabe no casaco, cordão que não é entregue na espessura desejada, botão de pressão que não suporta a pressão, cor de tecido adotado para colégio que sai de linha sem aviso prévio.
Melhor parar por aqui, senão vou começar a chorar.
Sem contar que, quando você trabalha para uma empresa, mesmo que ela não esteja no seu melhor momento, todo dia 5, ou 20 ou 30 sei lá, seu salário está na sua conta, te esperando, seja ele pouco ou muito. Agora, pergunta pra mim quantas vezes já abri mão do meu pró-labore em nome da folha de pagamento da empresa. Quantos juros de contas particulares já paguei pra não deixar o nome da empresa ir parar em protesto no cartório em tempos de vacas magras. Quantas vezes larguei meus problemas de lado para resolver os da empresa. Quantas vezes usei meu carro para buscar matéria-prima para não atrasar uma entrega. Quantas vezes fico eu mesma na produção e só não costuro porque não consigo, porque todo o resto eu tenho de fazer por pura falta de braço. Quantas consultas e exames desmarquei por conta de imprevistos que dependiam da minha presença.
Sem ganhar nada além por isso a não ser o fato de fazer a empresa andar.
Viajei esta semana e tirei um dia de folga para isso. E escuto: ah, como é bom ser empresária, não? Pode sair de férias quando quiser! Pra começar, para tirar este um dia, foi preciso uma semana prévia de trabalho duro para deixar tudo engatilhado, só tendo de ser monitorado pela assistente, por meio de um email enorme e cheio de detalhes para não haver falhas. Isso porque esta época do ano é normalmente mais calma mesmo, e com a crise tá mais calma do que o usual, infelizmente.
Além do mais, viajar não pode ser em qualquer época do ano, me chama pra passar dois dias em Fortaleza em janeiro, por exemplo, com tudo pago, pra ficar no hotel mais caro da cidade e a minha resposta será que em janeiro não tenho tempo nem pra ir ao banheiro.
Toda terça eu faço massagem aqui perto, no meio da tarde, único horário disponível. Para isso, abro mão de sair pra almoçar e como qualquer coisa antes de ir. Levo, entre sair daqui, fazer a massagem e voltar, menos de uma hora e meia, mesmo tempo ou às vezes menos, do que a maior parte das pessoas têm para sair pra almoçar. Isso quando não chego lá e peço pra fazer menos tempo, só pra não cancelar e deixar as massagistas na mão, porque afinal de contas, elas contam comigo também para cumprir seus compromissos, certo?
Hoje perguntei a uma amiga se ela queria almoçar comigo. Resposta dela: sim, eu posso, mas só no horário X porque não sou empresária.
Mal sabe ela que, em oito dias de trabalho, este será o primeiro dia em que terei brecha para sair para almoçar, por uma hora que seja.
Porque sou empresária.
10 Comentários:
isso aí, Clau!!
Às vezes, é bom mostrar como é.
Eu tb falo isso do meu chefe. Todo mundo acha q ele nada em dinheiro e até nada: mas ninguém vê as noites que ele fica sem dormir, cansado, q às vezes, ele não tem nem Natal direito e por aí vai...
Beijo
As pessoas se iludem, e a grama é sempre mais verde do outro lado da cerca. mesmo.
Eu sou autônoma. Se não tenho trabalho, não tenho dinheiro. Não tenho 13o, férias pagas, nada de nada. Pra sair de férias, só nos tempos de vacas magras - se tiver conseguido economizar durante as gordas - ou sacrificando e recusando trabalhos em outras épocas, o que é loucura.
Mas não queria outra vida não... apesar de às vezes ter inveja das garantias dos assalariados, eu curto minha rotina maluca!
adorei o post! beijo
Manda esse povo pastar, cláudia! Só fala isso que é empregado, porque autonomo e empresário nào tem essa mordomia. Posso falar de mim, adv. não tem férias, porque o processo não tira férias. E se vc trabalha sozinha e não tem quem te cubra... só pode sair no fds e de olho no site do DOE! Bj
Na verdade, o povo gosta mesmo é de se lastimar e tem um olho, ó, pra lá de gordo. Meu avô tinha um negócio e via como era difícil de administrar... principalmente quando o empresário é mais coração do que tudo. Boa sorte aí!
Beijos!
meninas, obrigada pela solidariedade. Eu acho que todo mundo tem suas vantagens e desvantagens no tipo de trabalho que escolheu. o que nao vale é achar sempre que a vida do outro é fácil.
beijo
AMEI!!! As pessoas geralmente só olham o lado glamouroso da estória... Adorei o desabafo! Se as pessoas fossem capazes de ver que qualquer escolha gera um contexto e suas consequências... Bem legal! Beijos para a empresária. ;-)
Os dois lados são bons. Tem horas que é uma delícia ser chefe e poder ficar em paz na sua empresa, sem ter que aguentar um chefe chato ligando para vc quando vc é empregado. Na verdade o chefe chato é o ÚNICO chefe que você tem e, portanto, o cara que controla sua vida financeira. Mas daí, deu o horário, vc vai embora, não se preocupa em fechar a empresa, pagar conta de luz, etc.
Ser o dono é isso que vc disse: Ter vários chefes. Mas se vc tem 20 chefes, e 4 não são bons, vc pode ir trocando, modular seu horário, ter mais liberdade, e fazer do jeito que vc acha melhor. Eu voto em ser chefe e ter vários chefes.
Ô dó... O pior é que é verdade a famosa frase que o "olho do dono engorda o gado". Vc é exemplo para os funcionários e se vc não for por qualquer coisa, as pessoas acham que podem fazer o mesmo, né?
Por falar em almoço... E aí? Vi o Tuga na quinta... uau, uau, uau... pois, pois... (pois, pois tem que falar com sotaque de portuga.... rs)
beijos
Re
Pri, é como vida de modelo e de artista, né? que a gente fica achando que é só sair na Caras.
Daniel, tem hora que sonho com uma carteira assinada, um vale refeição, um fundinho de garantia...
Re, deixa eu me organizar aqui que combinamos de ir lá no restaurante do Tuga paquer... ops almoçar!
beijo
Isso tem nome: inveja e ignorancia.
Adorei o texto!!
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