É o seguinte... tá bem?

Minha foto
Nome:
Local: São Paulo, SP

segunda-feira, março 14, 2011

Teste de aptidão para o curso de Penélope

Recebi milhares de telefonemas, centenas de emails e inúmeros scraps no orkut, todos com a mesma dúvida:

COMO SABER SE EU PRECISO FAZER O CURSO "COMO SER PENÉLOPE EM 7 RÁPIDAS LIÇÕES"?

É simples, muito simples, basta que você se observe e veja se se identifica com as situações abaixo:

- a já citada no post sobre o curso, sobre pegar o carro na chuva. Se você se identificou com esta, nem precisa continuar a ler este post, vá direto para o do curso e leia-o e releia-o ao menos 15 vezes por dia, para começar;

- você vai a um restaurante chiiiiiique, daqueles que o garçom guarda seu casaco, porque é inverno, você foi com casaco pesado, lá tem aquecimento, claro! e na hora de ir embora, o garçom segura seu casaco para você colocar os bracinhos e você fica lá, tentando arrancá-lo das mãos dele para vestir sozinha;

- quando ele sugere o vinho, aquele do post anterior, você pede para dar uma olhadinha na carta de vinhos, com a intenção secreta de ver quanto custa o mimo, já que não passa pela sua cabeça não dividir a conta;

- você dá uma olhadinha bem rápida na coluna da direita do cardápio, porque, afinal, vai dividir a conta;

- você vai ao encontro do moço em seu próprio carro, sem nem dar chance a ele de se oferecer para te buscar;

- você não dá tempo do moço abrir a porta do carro para você descer dele. Aliás, o único que consegue ser mais rápido e abrir a porta do seu carro antes de você é o manobrista que recebe o carro na porta do restaurante, assim mesmo porque ele é treinado para isso. E você desce de lá tendo de administrar bolsa, celular, papelzinho do estacionamento, tudo ao mesmo tempo enquanto segura a porta do carro com o pé, pq nessas horas a trava que a mantém aberta insiste em não funcionar direito;

- você não consegue, em nenhuma circunstância, nem naquelas em que o problema seria resolvido em dois minutos, fazer cara de bobinha/ingênua/não entendi nada/pode me ajudar, por favor?/frágil/desamparada, muito menos dar duas batidinhas de cílios porque teme que alguém a ache uma tonta, mesmo que esse alguém seja o garçom do restaurante ou o manobrista;

- VOCÊ SEMPRE SE OFERECE PARA DIVIDIR A CONTA NO PRIMEIRO ENCONTRO.

sábado, março 12, 2011

Como ser Penélope em 7 rápidas lições



Pessoal, o post abaixo foi publicado há quase seis anos, como uma brincadeira para uma amiga muitíssimo querida que tinha uma dificuldade imensa em aceitar uma gentileza, vinda de onde fosse, por medo de estar atrapalhando, abusando, estorvando, ou pior ainda, que duvidassem de sua capacidade e inteligência ou a achassem uma folgada fútil. Acabou sendo um sucesso e está sendo publicado aqui pela terceira vez.
A amiga inspiradora do post já fez até draminha para o namorado quando uma mariposinha dessas de luz entrou na casa dela, vejam vocês, como se fosse um morcego, deixou que ele pagasse a conta, e até permite que o manobrista fique segurando a porta do carro para ela. Mas da última vez que fomos ao cinema juntas e eu a vi sentada ao meu lado tentando equilibrar o refrigerante, a pipoca, prendendo um rolinho de Menthos com o pescoço e tentando fechar a bolsa, sem nem cogitar um "Clau, me ajuda aqui", fiquei pensando que a nossa essência não muda e que o que a gente consegue mesmo é dar uma lapidada nos excessos e com isso ser mais feliz.


Você tá lá, papo vai, papo vem, como um moço interessante, com profissão interessante, jeito interessante, tudo interessante.

E ele propõe: vamos almoçar na semana que vem para nos conhecermos?

Você fica toda animada, mas ao mesmo tempo apreensiva, achando mil coisas e já pondo areia no encontro antes mesmo dele acontecer. Ah!, a mente feminina! A capacidade de sabotagem da mente de uma mulher é muito maior do que a de qualquer espião russo, na época em que ser espião russo era muita coisa.

E seus amigos te dizem: faz favor de ser um pouquinho mais Penélope!

Para todas que, como você, não exercem seu lado Penélope e acham um absurdo o cara ir buscar o carro sozinho do outro lado da rua, chovendo, enquanto você fica debaixo da marquise esperando, para não molhar o cabelo (e para uma Penélope ele não está fazendo mais que a obrigação e jamais passaria pela cabeça dela sair correndo na chuva atrás dele), segue um curso básico de dicas para deixar o lado Penélope aflorar.

1. Ele te chamou para almoçar? Nada de propor o restaurante. Diga que não tem a menor noção de onde poderiam ir, e já emende: o que você sugere? Só seja você a sugerir o local se ele for de outro país (deixá-lo sugerir o local é fundamental para o bom andamento do curso). Pensando bem, só se for de outro planeta, e assim mesmo, se a nave tiver pousado naquele dia de manhãzinha, porque senão já era mais que hora dele saber onde te levar para almoçar. Afinal, ele quer te causar uma boa impressão, né?

2. Definido o restaurante, você pergunta: a que horas nos encontramos? NÃÃÃÃÃOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!! Repito: NÃÃÃÃÃOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!! A pergunta de uma Penélope é: a que horas você vem me buscar? Já dê o endereço. Porque se o moço for um gentleman, ele vai te buscar em casa ou no trabalho, nem que você seja lá de Itaquaquecetuba. Afinal, se ele não tá disposto a fazer isso no primeiro encontro, imagine depois...

3. Figurino: vestidinho. Sainha e blusa. Bem de menina. Ok, você tá no trabalho, vai sair para almoçar, não dá pra ir de vestido frente única vermelho (a menos que você queira ser o assunto do café, mas isso não faz parte de ser Penélope, aí a gente já tem de mudar de personagem e não cabe nesse post). Mas dá para colocar um tubinho básico, preto, com um sapatinho de salto alto, algo que te deixe chique, linda e condizente com os itens 1 e 2 e apta a encarar o chefe durante o dia. Ah! Nada de ir com aquela bolselona que você carrega pro trabalho todos os dias. Leve uma bolsa pequena para o almoço, apenas com o fundamental (batom e identidade).

4. Cabelo: solto. Ainda mais se você tiver um cabelão. Nada de rabinho, coque, meio rabo (só se você estiver grávida, e aí também não tem nada que estar lendo este post, pegue a Pais e Filhos e vá procurar sua turma que o assunto aqui é sério). A importância de ir com o cabelo solto você verá mais para o final.

5. Almoço transcorrendo na maior paz, tudo indo super bem, você pediu um suquinho, ou um refrizinho, porque uma Penélope jamais pede uma caipiroska no copo longo na hora do almoço num primeiro encontro (nem no segundo, nem no terceiro...). E se for uma aprendiz de Penélope, como você, nem pode, porque tem de estar de posse das faculdades mentais para o passo a seguir, este sim fundamental e que, se superado, fará de você uma legítima pertencente da classe das Penélopes.

6. Cafezinho e... eis que chega a conta. E aí você entende porque os passos acima devem ser seguidos:
- já que foi ele quem escolheu o restaurante, você não tem responsabilidade nenhuma sobre a conta. E se ainda por cima ele pegar a carta de vinhos e sugerir o vinho lébous tlébous safra 19ewébous, aí mesmo é que você pode esquecer que alguém vai cobrar aquele almoço em algum momento.
- você está de vestidinho e bolsinha mínima, apenas com batom e identidade, certo? Então, nem dá pra dividir.
- cabelo solto e você ali, distraída, olhar perdido, enrolando ou alisando um cachinho. Não importa. Importa é que uma Penélope envolve-se tão profundamente nessa atividade que NEM NOTA que foi colocada na mesa aquela cadernetinha de couro fechadinha ao lado do seu par.

7. Plano B: caso você não tenha seguido os passos dos itens 1, 2, 3, 4 e 5, ainda assim nem tudo está perdido! Sua chance de ser Penélope está salva!
- na chegada da cadernetinha de couro fechadinha, concentre-se. Torça as mãos uma na outra, já que foi de rabinho e não tem mecha de cabelo para enrolar/alisar (eu avisei que era fundamental o cabelo solto, você não quis ouvir). Pense em algo, sei lá o quê, que a afaste dali por alguns segundos. Cante mentalmente uma música qualquer, da qual não se lembre bem da letra e tenha de se concentrar.
- pedir a uma amiga que coloque uma ratoeira dentro da sua bolsa, para evitar que você saque a carteira também é uma idéia boa, só não se esqueça de não falar um putaqueopariu na hora que ela prender seus dedos, no máximo um aah!!
- ou use a técnica dos alcóolicos anônimos e mentalize: só por um segundo e apenas por mais um segundo eu segurarei o impulso de sacar a carteira da bolsa (que você não conseguiu deixar no escritório e nem deixou a amiga colocar a ratoeira)e proferir as palavras fatais que farão com que todo o doutrinamento acima caia por terra:

VAMOS DIVIDIR A CONTA?

beijo e boa sorte na sua empreitada!

publicado originalmente em outubro de 2005. Acesse esse mês nos arquivos do blog para ver a série completa.

Eu digo sempre, gente, o lugar é pequeno...



Museu da Imigração Italiana, em Demetrio Ribeiro (ES). A história toda desta imensa cidade nessa casinha aí.

sexta-feira, março 11, 2011

Apego

Hoje fui encontrar umas amigas para uma happy hour em um shopping de decoração e design que tem aqui em São Paulo, o D&D. Para escapar do trânsito, cheguei mais cedo e fiquei dando um volta, olhando as lojas de móveis e decoração.

Fiquei olhando tudo, e pensando que, se dependesse de mim, um shopping de decoração não se sustentaria.

Eu morro de dó de trocar os móveis de casa. Mando forrar, troco almofadas etc, mas o móvel em si, é realmente uma dificuldade. Não que eu não goste dos novos, eu curto muito, mas porque fico pensando que aquele custou caro, que eu afinal fiquei tão feliz quando o comprei, que ele ainda está tão bom, e que se eu forrar com um tecido novo vai ficar tão bacana.

Sou apegada e resistente a mudanças, apesar de não gostar de rotina, o que é um paradoxo, mas isso é assunto para outro post. E não somente com a mobília. Eu sempre acho que aquele móvel, eletrodoméstico ou tapete ainda pode ser usado, que não há motivo algum para ser trocado se ainda funciona direito, ainda que haja um modelo melhor na praça. Não que eu não troque nunca, apenas demoro para fazê-lo. Sabe aquela pessoa que compra um sofá hoje e daqui dois anos troca por outro porque acha que aquele novo vai ficar melhor, ou simplesmente porque enjoou do anterior? Até chego a sentir uma certa invejinha do desprendimento. Minimizo esse sentimento quando dou o objeto anterior para alguém que tenha gostado muito dele ou que vá fazer ótimo uso - como o tapete da sala, pequeno demais para o ambiente, que eu só tive coragem de dar porque minha mãe queria um tapete para a sala de jantar dela e aquele ficaria perfeito, tanto no tamanho quanto na cor. É como se eu tivesse arrumado um novo dono para aquela peça, que vai cuidar dela tanto quanto eu.

Enquanto pensava nisso, fiquei pensando também que essa minha atitude se aplica a todas as demais esferas da minha vida. Eu resisto a abrir mão de uma amizade porque afinal sempre fomos tão amigos e nos dávamos tão bem. De um trabalho, porque acho que vai melhorar. De um relacionamento por achar que dá para fazer melhor, que dá para dar um jeito, já que afinal fomos tão apaixonados. Em contraste com um outro lado da minha personalidade que é não ficar juntando bagulhada e não guardar coisas que não uso.

Esse tipo de pensamento tem um lado bom, que é o de cultivar o que tenho, seja móvel, eletrodoméstico, amizade, relacionamento ou trabalho, e tentar fazer com que fique melhor em vez de simplesmente trocar por outro, mas também tem o ruim, o de muitas vezes eu perder o timing de quando a coisa realmente não tem mais como nem porquê, seja o que for.

De não perceber que o sofá já devia ter sido trocado antes de cair sentada com a bunda no chão. Ou talvez de perceber sim, mas achar que tenho poder suficiente para sempre brigar contra o tempo, os acontecimentos e as circunstâncias.

sexta-feira, março 04, 2011

Meninas superpoderosas

Outro dia eu estava conversando com uma amiga querida sobre vida sentimental. Homens, claro, porque vai e volta e nós, mulheres, sempre acabamos falando de vocês, homens.

O mais curioso de se observar uma conversa de duas ou mais mulheres sobre o assunto é que cada uma tem uma forma de proceder, uma aspiração, um jeito de ser, além da própria bagagem pessoal. Isso faz com que o papo seja rico, diverso, surpreendente, e por que não? uma viagem só em determinados momentos.

O assunto era pagar a conta, não pagar a conta, poder pagar a conta, não poder pagar a conta. Polêmico né? Acho que os homens nunca vão dimensionar o real significado da conta de um jantar, que passa muito, muito longe da questão financeira.

Essa minha amiga, bem-nascida, bem-criada, desde sempre dona do seu nariz, contava que um dia saiu com um certo mocinho, que a levou a um restaurante caro. Bem caro, chique, bonito, francês, daqueles mal-iluminados pra gente não ver quão pouca comida vem no prato. Que uma mesa fica longe da outra, que as taças de vinho são aquelas enormes e bojudas. Que as cadeiras não fazem barulho quando deslocadas, e que quando você vai ao banheiro já tem um garçom atrás de ti para puxar a cadeira antes mesmo de você pensar em levantar.

Enfim, aquele mimo todo.

Aí, jantar agradável, papo bom, tudo legal e eis que chega a hora da conta. Que o rapaz, diga-se de passagem, nem cogitou em dividir, cumprindo seu papel de gentil cavalheiro que convidou uma mocinha para jantar.

Já minha amiga não se conteve e mesmo com seu cabelinho liso e loiro e sua franjinha caindo charmosamente sobre a testa, meio jogada de lado, ofereceu-se para tanto. Diante da negativa do moço, insistiu. Persistiu. Faltou só rolar no chão com ele na disputa pela cadernetinha preta.

Segundo ela, para que ele soubesse que ela podia sim se levar para jantar num restaurante chique, que ela podia sim pagar a própria conta. Que ele não achasse que a tinha impressionado com o lugar, o restaurante, o jantar.

Perguntei porque simplesmente ela não podia deixar que ele achasse que a tinha impressionado, ainda que ela fosse acostumada a comer ali toda sexta. Qual era o problema dele se sentir impressionando-a? E que se ele fosse um cara inteligente, saberia que ela não é uma morta de fome, e que pode se dar ao luxo de sair para onde quiser sem depender dele, mas que tinha ficado encantada com a gentileza, a deferência e a atenção.

Seria a mesma coisa que ela tivesse ido ao salão fazer as unhas, arrumado o cabelo, escolhido um vestido bonito, um sapato chique, feito uma maquiagem arrasadora, usado um perfume especial para jantar com ele e ele olhasse pra ela e deixasse bem claro que toda mulher se arruma pra sair com ele, que ele não precisa necessariamente sair com ela, que toda aquela produção não o tinha abalado nem um minutinho. Não seria uma frustração?

O fato é que nós, mulheres, somos sempre tão cobradas por tudo, estamos sempre cobrando a nós mesmas por tudo, temos sempre tanto medo de tudo, que a tentativa de mostrar força acaba revelando ainda mais as nossas próprias fraquezas.