É o seguinte... tá bem?

Minha foto
Nome:
Local: São Paulo, SP

quinta-feira, junho 09, 2011

Deus desiste

Na semana passada a Re veio de Porto de Galinhas pra São Paulo, passar uns dias por aqui, e como sempre rolou o After Dark. Foi no bar do Tuga Mais Lindo do Pedaço, doravante conhecido neste texto como TMLdP, e apesar da gente não ter nenhuma intenção de encontrar o TMLdP e nem o chef do boteco, um alemão que me faria lavar 200 pratos só pra ficar grudada nele na cozinha, marcamos ali somente pela boa comida, boa localização, bom serviço e não pelo bom viaual, achamos por bem registrar nossa reclamação quanto à ausência do proprietário do estabelecimento e seu chef, porque, afinal de contas, e se tivéssemos algum problema com a comida? Alguma dúvida cruel do tipo: como é o misto quente? Sentimo-nos maltratadas na nossa condição enquanto frequentadoras, a nível de consumidoras.

Claro que este não é o assunto principal do post e sim o fato de que num dado momento, passada a primeira garrafa de vinho, já estávamos as 4 - eu, Re, Kelli e Ana, ou melhor, as 5, porque a Liz foi na barriga da Kelli - quase caindo da cadeira com as histórias que fomos desenterrando do fundo do baú, e que mostravam o quanto a gente pode ser tonta/doida/idiota/criativa/adolescente simplesmente.

A Re contou a ótima história da paixão dela pelo Rico e a panela que ela manteve com a água fervendo, só esperando pelo coelho, por oito anos, aqui, não deixe de ler, pois isso fará por ti mais do que anos de terapia poderão fazer, pois ao final você achará que qualquer doideira que algum dia inventou de fazer é fichinha perto de revirar o lixo do seu amado e colar os achados na sua agenda.

Claro que me lembrei da minha adolescência e do quanto eu era avoada nas questões sentimentais. Cega de amor platônico por ELE - leia aqui o Memória Afetiva para entender o que se passava - eu nem notava outros ao meu redor.

Todo domingo à tarde, depois do clube, do almoço, do banho e antes dos Trapalhões, havia o sensacional jogo de vôlei da quadra. Era uma quadrinha de cimento no meio da quadra - quadra, para quem não conhece Brasilia, seria uma espécie de quarteirão, porém com apenas uma entrada e saída para os carros - com uns morrinhos de grama ao redor, onde a plateia, predominantemente feminina, claro, pois aquele jogo era praticamente o jogo da Base Aérea de Top Gun (como assim você nunca viu este filme e em particular esta cena? Já pro You Tube!) e um dos programas mais bombados da 103 Norte. E olha que naquela quadra tinha era homem bonito, viu?

Porém eu, nos meus 14 românticos anos, acreditando no príncipe encantado com toda a força do meu ser, nem notava isso, porque afinal de contas eu só tinha olhos para ELE. E assim, eu achava que o Rafael, que jogava polo e chegava do clube com aquela calça de montaria clara, suja do treino, camisa polo e botas de montaria, pele morena do sol contrastando com os cabelos loiros cacheados, e que vinha falar comigo perto demais vestido daquele jeito era tão legal... E o Murilo, que era atleta de salto com vara, apenas o irmão mais velho do meu amigo, mesmo com ele dizendo que eu era tão bonita. tão simpática, tão isso e tão aquilo.

Pior mesmo foi com o Luiz Felipe, que além de lindo, cheiroso, atlético, charmoso toda vida, vivia me convidando para assistir filme na Aliança Francesa - porque o pai tinha sido adido militar na França e ele falava francês fluentemente - e eu nunca podia ir, porque ele tinha uns 19 anos, carro próprio, imagina se meu pai ia deixar, tendo eu 14?
Aí um belo dia, Copa do Mundo, o Brasil ganha um jogo e todo mundo ia comemorar na rua do Beirute, que até hoje existe na cidade, e que na época tinha fama de ser bar de maconheiro. E eu ali, de pé encostada na gradinha do meu prédio, vendo todo mundo saindo da quadra em turmas, nos carros, para ir ao Beirute, com aquele olhinho comprido de quem quer pertencer sabe? Passa Luiz Felipe, para o carro e pergunta:
- Claudinha, você não quer ir? Vem comigo, eu te levo.
- Não posso, meu pai não deixa...
- Ah, que pena.
Ele entra no carro e sai quadra afora. Dois minutos depois eu vejo o carro dele voltando, estacionando na frente do bloco ao lado, e aquele monumento caminhando na minha direção, de jeans e camiseta do Brasil.
- Você tava tão triste de não pder ir que resolvi voltar e ficar te fazendo companhia.
Sentou do meu lado e começou a conversar para me animar.
Como se não bastasse, depois disso ele foi na minha MISSA de 15 anos. Numa segunda-feira, sete da noite, sozinho.
Acreditam que este bravo moço batalhador não ganhou nunca um único beijinho meu que não fossem aqueles que você dá quando encontra um amigo?


Por isso eu digo: chega uma hora que Deus desiste.


os nomes foram trocados, vai que um deles lê esse troço e me processa pelo mico?

quarta-feira, junho 08, 2011

Os quilinhos a mais

Dia desses uma amiga querida estava bem chateada porque tinha ido a uma festa de família e várias pessoas foram comentar com ela que ela estava gorda. Como ela vem se recuperando lentamente de um seríssimo problema de saúde que a deixou imobilizada por muitos meses e tomando remédios fortíssimos, era de se esperar que o comentário mais recorrente fosse: que bom que você está bem e pôde vir a festa ficar com a gente.

Mas não, o assunto principal foi seu peso.

Comentei com ela que eu ainda me espantava no quanto as pessoas se sentem no direito de chegar para quem está acima do peso - categoria na qual me incluo - e dizer coisas como nossa, você engordou! ou o que aconteceu que você está mais cheinha? ou se você emagrecesse ia ficar tão bonita!. Eu não me sinto no direito de chegar para alguém e dizer nossa, o cigarro tá deixando seus dentes cada vez mais manchados né? ou gente, o que você fez com o seu cabelo, que tá tão ressecado! ou por que você não faz uma plástica no nariz, ia ficar tão bonita!

Óbvio que 99% das pessoas que fazem comentário sobre o seu peso são mulheres. Os homens não estão nem aí, a não ser que você pese 350kg e tenha de ser tirada de casa pelo guindaste do corpo de bombeiros. A gente engole porque gordo se sente culpado e responsável pelo próprio peso e pratica preconceito contra si mesmo.

E com isso, dá aos outros o suposto direito de nos criticar, porque afinal de contas, o mundo é magro e nós não.

Não se veem gordos lutando por assentos no avião, cintos de segurança que lhes caibam confortavelmente, catracas que permitam sua passagem, roupas que efetivamente sirvam no manequim indicado - este é um capítulo a parte, uma amiga minha, magra, foi experimentar um casaco em uma loja chique e o tamanho G faltou 4 dedos para fechar. Pensa o PP, é pra vestir quem, minha afilhada de quase 7 anos? Cadeiras que não bambeiem ao sentar, meias-calças que efetivamente passem nas coxas grossas sem desfiar, sutiãs que sejam lindos mesmo no tamanho 52 e não com cara e cor de sutiã da bisavó. Porque gordo tem vergonha de ser gordo.

Naturalmente que são as mulheres que passam por todas essas dificuldades, porque as lojas de homens tem roupas do 38 ao 52 e a roupa 52 cabe num homem com porte para vestir 52. E se algum homem diz pro outro que ele engordou - porque nenhuma mulher, aquela mesma que se achou no direito de apontar o dedo para você, faz o mesmo com um cara na mesma situação - será no tom de galhofa e gozação e camaradagem presente entre eles em outras situações.

Portanto, se você é magro e está lendo este texto, pense duas vezes antes de dizer para sua colega gordinha que conhece uma dieta ótima ou um médico ótimo. E se você é gordinha, adote a tática de uma amiga minha, que, se alguém fala que ela engordou, ela retruca: ah, agora é a hora em que comentamos a aparência uma da outra?