A minha tia Mada
Todo mundo tem alguém na família de quem gosta mais, com quem tem mais afinidade, que é o preferido do coração.
Que me perdoem todos os meus demais tios, a quem eu adoro tanto, mas desde que me entendo por gente que eu tenho paixão pela minha tia Madalena.
Irmã mais nova da minha mãe, a quinta de uma ninhada de seis, ela sempre foi a alegria e o bom humor em pessoa, sempre uma piadinha engatilhada, sempre uma observação espirituosa, sempre uma gaiatice para um e para outro. Uma disposição sem fim. É domingo, está chovendo, aquele tempinho nojento de ficar jogada no sofá e ela resolve que "vai fazer umas empadinhas" pra gente. Ou um bolinho de limão pra comer com café.
A casa dela é um movimento sem fim, porque todo mundo da família dá uma passadinha lá, os vizinhos aparecem, os amigos dos filhos. Só não digo que o portão fica sempre aberto porque a criminalidade não deixa, porque não fosse a bandidagem, ele certamente nunca seria fechado. Ficaria sempre aberto, como aberto está sempre o seu coração.
Nem mesmo a perda trágica do marido, com 30 e poucos anos, ficando viúva com 3 filhos bem pequenos para criar foi capaz de transformá-la em uma pessoa triste, amarga, solitária, mal-humorada. Catou a bolsa e foi à luta e não me lembro dela derramando fel. Aliás, eu digo sempre que se havia alguém habilitado em nossa família para passar pelo que ela passou e não se deixar contaminar pela tristeza e pelo desespero, esse alguém é ela.
Ela sempre me diz que me levava na praia para andar na areia e fazer curvinha no pé. Não me lembro disso, pois era bem pequena, mas eu me lembro de como a via linda e moderna em sua calça jeans verde-musgo que eu achava TU-DO, da felicidade de ir com ela até o trabalho nas férias e ela me apresentar pra todo mundo como "minha sobrinha, a Cacá, minha pretinha" - depois, ela passou a ter sua própria pretinha, né Tetela, mas durante um tempão, era eu.
Eu era tão louca por ela que quando ela contou que estava grávida da minha prima, eu pedi pra ser a madrinha do bebê. Coitada, passou a ser minha comadre compulsoriamente, nem teve coragem de negar.
De verdade? Não conheço uma única pessoa que não goste dela. A casa dela é um lugar que emana boas energias, um lugar onde todo mundo se sente à vontade, pronto para acolher qualquer um. Se hoje eu ligar pra ela e disser que estou indo passar um fim de semana lá com duas amigas que ela nunca viu na vida, ela nos receberá como se as minhas amigas fossem conhecidas de anos!!!
Para ela não tem tempo ruim. Mesmo quando os tempos se mostram terrivelmente ruins de verdade, ela ilumina os dias e as vidas de todos que a cercam. Não tem como ficar emburrado, de mau-humor, ou sentir solidão perto da minha tia Mada.
E é por isso que hoje estou escrevendo este post, para dizer a ela o quanto a admiro, o quanto a amo, e o quanto me lembro da sua força, do seu bom-humor e da sua fibra quando as coisas não vão tão bem. Que o mundo seria infinitamente melhor com mais gente como ela circulando por aí.
post inspirado no blog da Re, o Passei dos Trinta, no qual ela fala do bom-humor da mãe dela. Re, se juntar sua mãe e minha tia, ninguém mais chora na vida!