É o seguinte... tá bem?

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sábado, fevereiro 15, 2014

Lugares child free

Cresce em todo o mundo a quantidade de lugares child free. Ou seja, lugares que não aceitam crianças em suas dependências. Junto, cresce a polêmica: é uma atitude antipática ou apenas uma forma de negócio?

Para um hotel receber crianças em suas dependências, precisa criar uma estrutura para isso. Porque crianças são naturalmente inquietas, se cansam da mesma atividade em um tempo menor que os adultos, falam mesmo alto, deixam cair coisas, tem brinquedos barulhentos. Restaurante idem: eles acabam de comer muito antes dos adultos e aí, fazer o quê da vida?
O que eu acho é que existem locais que são naturalmente child free e outros que são feitos para se ir com crianças. O problema começa quando um grupo - o sem criança - quer frequentar um local do outro grupo - os com criança - nas mesmas condições de quando frequenta o seu grupo original. Olha a m... feita.
A pessoa vai para um hotel fazenda com cavalinhos, coelhinhos, pintinhos, patinhos e todos os demais inhos do mundo animal e pretende se sentar na piscina e ler um livro na maior calma do mundo. E se incomoda com o barulho dos monitores fazendo atividades com os pequenos na piscina - e com os adultos também, Deus, como eu odeio monitor de piscina que fica querendo arrastar a gente para a aula de hidroginástica ao som de axé music! Vai a um restaurante que tem uma área imensa dedicada às crianças e torce o nariz para a gritaria e para a correria. Vai ao cinema ver uma animação, que por mais que atraiam os adultos, são feitas para o público infantil, e fica fazendo xiu! o tempo todo pra criançada calar a boca.

Não dá.

Assim como não dá o oposto. Pais tendem a achar que seus filhos, suas preciosidades, são unanimidade: todo mundo os ama e os acha lindos e fofos. Então, gente, qual é o problema de passar o fim de semana naquela pousadinha pequena, intimista e calma com seu molequinho de 4 anos? Só porque ele vai sair correndo e berrando pelos corredores vestido de homem-aranha às 7 da manhã? E é claro que vamos levá-lo para jantar naquele restaurante francês chique, para ele aprender desde cedo o que é uma boa comida - ele vai fazer malcriação, não vai querer comer aquilo, vai ficar fazendo birra na cadeira querendo uma pizza, mas isso faz parte do processo educacional. E sim, podemos passar três horas almoçando e querer que a criança fique quieta na cadeira todo o tempo, morta de tédio, ou, para que possamos passar essas três horas almoçando e conversando, depois da primeira meia-hora a gente solta o pequeno purg... príncipe no pasto e ainda se aborrece porque o garçom não tomou conta dele.
Ou leva sua filha pequena junto para a aula de Pilates, que exige concentração, numa sala à meia-luz, música baixinha, e ela fica lá falando mais que a boca, perguntando, querendo ir ao banheiro pra fazer xixi.
Fui ao cinema assistir Capitão Phillips. Filme pesado, violento, de adulto. Classificação de adulto. Atrás de mim, um casal com dois meninos: um de uns 8, outro de uns 6. Preciso dizer que mamãe zelosa passou o filme todo lendo as legendas? E papai amoroso respondendo a todas as perguntas que os meninos faziam durante o filme? Além de atrapalhar todo mundo que estava em volta, o filme era inadequadíssimo para a idade deles, e apesar de saber que o moleques não têm culpa da imbecilidade dos pais, desejei que passassem uma semana tendo pesadelos, fazendo xixi na cama e dando bastante trabalho para ver se os pais se mancam numa próxima vez.

De novo: não dá.

Respondendo à pergunta do começo deste texto: eu acho que é apenas uma forma de negócio, da mesma forma que fazer locais voltados para crianças também o são. A diferença é que locais voltados para crianças são vistos com simpatia, e locais que abertamente não permitem crianças despertam antipatia, já que nossa cultura trata as crianças como se fossem pequenas dádivas divinas que todos têm de reverenciar. E como cada vez mais os pais repreendem menos os filhos, cada vez mais as crianças se comportam como seres fora de controle, impondo sua presença até mesmo para quem não deseja isso. Significa não gostar de crianças? Não. Significa apenas querer ter o direito de se sentar em um restaurante tranquilo e saber que não haverá nenhuma criança passando gritando ao lado da sua mesa.

Da mesma forma que, se você vai almoçar com seus amigos que têm filhos pequenos, entre na deles e vá a um restaurante que tenha atividades para que eles possam se distrair, e saiba que sua conversa será entrecortada pelas perguntas delas, que corre-se o risco de ter coca-cola derrubada na mesa. Saiba que seu almoço vai demorar menos tempo porque quem merece ficar sentado em uma mesa com pessoas falando sobre um assunto que não te interessa, sem nada para fazer? Tente ficar umas 4 horas - porque o tempo tem de ser proporcional ao tempo de vida e uma hora para uma criança dá umas 3 das nossas - sentada quieta em um local, sem ter nada para fazer, nem um livro para ler, nem um smartphone para fuçar o facebook ou jogar candy crush. Fique ali, fazendo absolutamente nada, sem acesso a nada, e com alguém dizendo para você ficar quieto cada vez que se mexer.

Como sempre, como em tudo na vida, bom senso ajuda bastante.


quarta-feira, novembro 27, 2013

BLITZ! DOCUMENTOS!

O facebook hoje bombou de indignação por causa de um texto publicado em uma revista destinada a grávidas e mães de criancinha, no qual a jornalista supostamente detonava o leite materno e enaltecia o leite em pó.

Eu não li o texto, não deu tempo, já tinha sido tirado do ar, só li uma espécie de retratação. Mas não é porque eu não li que não vou palpitar, certo? Afinal, falam da vida da gente sem saber o que se passa, por que razão não posso eu falar sobre um texto sem tê-lo lido?

Quando Bela nasceu, eu não consegui amamentar. Ela ficou magrelinha, gemia, choramingava, não dormia direito, e eu no maior desespero, até minha mãe diagnosticar, precisa: é fome. Compramos o Nan e, para ela não perder o hábito de mamar no peito, dei de colherinha, junto com a chupeta, um trabalho do caramba, nem sei quanto tempo pra garota tomar 40ml de leite. Depois disso, ela dormiu umas quatro horas seguidas. QUATRO HORAS. Até suspirava de satisfação, a pobrezinha.

Claro que aquele esquema colherinha + chupeta não tinha como se sustentar, porque levava uma vida inteira. Aí o pediatra recomendou que antes de eu dar a mamadeira, eu a colocasse no peito para mamar, para estimular a produção de leite. E eu fazia isso todas as vezes em que ela ia mamar, dia e noite. Além de tomar cerveja preta, comer broto de alfafa e pentear os seios com um pente virgem quando estivesse debaixo do chuveiro.

Imagina o trabalho que era essa operação toda - a de colocar para mamar no peito antes da mamadeira, porque a do chuveiro eu desisti assim que caí em mim e percebi o ridículo da situação. E como Isabela não nasceu burra, chegou uma hora em que, quando eu a colocava no peito, ela abria o berreiro. Pudesse falar e gritaria: PQP, DE NOVO ESSA TORTURA???? Antes ela ainda mamava sofregamente, tadinha, por alguns minutos até perceber que não rolaria comida ali, mas não demorou pra pescar a situação e entender que quando ela chorava eu desistia daquilo e dava leite pra ela.

A isso somava-se o fato de que todas as publicações, TODAS, fazem questão de frisar que TODAS as mulheres podem amamentar, até as que adotam, que só não amamenta quem NÃO QUER. Com o adendo de eu ter tido de fazer uma cesariana, porque com quase 42 semanas de gestação a barriga continuava lá no nariz e Isabela nem dava sinal de que sairia dali de dentro um dia - estaria lá até hoje, se não tivessem tirado. Juntando com ela não ser exatamente um bebê gordinho e nem dormir religiosamente no mesmo horário. E tudo isso coroado com o fato de eu ter 20 anos de idade, um recém-nascido no colo, ter acabado de deixar de ter vida de filha para ter vida de mãe, e nenhuma segurança de opinião, apesar de toda a coragem do mundo.

Resumindo: eu me sentia a mais incapaz das incapazes mães. A que não conseguia amamentar quando todas conseguiam. A que NÃO QUERIA amamentar, porque se só não amamentava quem não queria, então eu não queria, certo? Eu era egoísta o bastante para negar à minha bebezinha o leite materno que a protegeria de todos os males do mundo e ela cresceria doentinha, debilitada, com todas as doenças do mundo assolando seu corpinho.

A vida se encarregou de me tirar essa culpa dos ombros, e o fato da Isabela ter uma saúde de ferro idem. Aos poucos, fui vendo que o leite materno era apenas uma das formas de amor que eu podia oferecer para minha filha, e não a única. Se eu tivesse tido outro filho, eu certamente teria tentando amamentar, mas se não tivesse sido possível, eu não teria ficado tão mal como fiquei, por tanto tempo. Nem sei dizer quantas noites eu chorava baixinho, ensopando os cabelinhos dela, dando a mamadeira, olhando em seus olhinhos e pedindo perdão milhares de vezes.

Nenhuma mãe de primeira viagem merece isso. É uma tortura psicológica totalmente desnecessária e cruel, sobre um ser humano que tem diante de si uma imensa responsabilidade, cuja vida acabou de mudar radicalmente, e para sempre, e ainda nem sabe lidar com isso direito.

Bela, quando tinha uns 2 anos de idade, começou a dar uma entonação diferente no final de palavras como tapete. Porque antes ela falava tapeTE e passou a falar tapeCLHI, algo assim esquisito. Como ela começou a falar muito cedo, com 2 anos ela formava parágrafos inteiros. E por conta da terminação esquisita que mencionei acima, povo caiu matando que eu tinha de levar numa fono para CORRIGIR. Dois anos de idade? Felizmente o avô paterno, médico das antigas, disse que o importante era ela se comunicar, que ainda era muito pequena para isso, que era muita frescura em cima da menina. Descobrimos que na verdade ela começou a querer imitar o sotaque carioca da gente, que fala tapeTXI, mas não conseguia, e em pouco tempo ela voltou a ser a paulistaninha que sempre foi, falando tapeTE. Foi também o avô paterno, ortopedista, quem deu um chilique quando sugeriram que ela usasse botinha com um ano de idade, porque pisava torto, tinha pé chato. Como ele disse, chatos são os pais que querem que a criança use botinha mal começa a se firmar de pé. Que a criança está fazendo de tudo para se equilibrar, e nessa fase vale tudo, desde que a criança encontre firmeza e tenha confiança para caminhar, que somente mais tarde é possível detectar problemas  que exijam intervenção, a menos que sejam muito gritantes, como um pezinho torto totalmente virado para dentro.

O grande problema não é amamentar ou dar leite em pó. O problema é a PATRULHA. Se mama é porque mama, se não mama é porque não mama. Se  é do tipo mais magrinho, é porque é magrinho, se for mais gordinho, cuidado, vai ser obeso, veja só! Se chupa dedo é porque chupa dedo, se chupa chupeta é porque chupa chupeta e se não chupa nada é porque não chupa nada. Aliás, sobre chupar dedo, recentemente uma amiga que tem uma coisica gostosa de 5 meses foi levemente massacrada em uma festinha de amigos comuns. Tudo porque seu bebê chupa o dedinho - aliás, é uma fofura criança chupando dedinho né? Chupeta idem, ficam com uma carinha tão de "me mima?". Que o dente entorta, o céu da boca, o dedo afina, murcha, apodrece, cai. E a coitada já deve ter escutado tanto sobre o assunto que já fala sobre praticamente se desculpando pelo fato. Vai fazer o quê, meu povo, amarrar a mãozinha do garoto pra ele não chupar o dedinho? A gente sabe que não é a melhor coisa do mundo, mas, na boa, também não é a pior, concorda? Nenhum mal irreparável, e se no futuro tiver de usar aparelho por conta disso, usa ué. E quem garante que ele não vai deixar o hábito antes do que se imagina? E colo? VAI ESTRAGAR A CRIANÇA!!! Eu digo que tem mais é que ficar com o bebê pendurado no colo o tempo todo que puder mesmo, porque mal começam a andar e não querem mais saber, e a gente fica atrás, implorando que queiram um colinho,...  que de uma hora para outra fica tão vazio... Mesma coisa dormir na cama dos pais. Concordo que não seja bom, que a criança deve dormir na própria cama, mas de verdade, o que tem de tão terrível, naquela manhã chuvosa de domingo, pegar o bebê e colocar ali juntinho para poder ficar mais tempo na preguicinha? Ou naquela noite que dá saudades, deixar seu filho dormir grudado em você. Coisa mais deliciosa, depois crescem e nunca mais querem saber da gente dormindo fungando no cangote deles, não vão querer dormir na cama da gente pra sempre não - infelizmente.

Como diz a Isabela: Mãe, como você é carente!

Então, eu repito: não li o texto, não sei o que estava escrito lá, mas prefiro apostar que a jornalista foi apenas infeliz nas colocações, usou mal as palavras, tentou ser engraçadinha e não deu, quis dizer uma coisa e saiu outra, e em tempos de redes sociais, isso virou uma bomba. 

Se não foi isso, é uma cretina. Como de resto são todos aqueles dispostos a apontar o dedo e criticar tudo e todos, como se fossem donos da verdade ou as melhores pessoas do mundo.


domingo, setembro 15, 2013

A minha tia Mada


Todo mundo tem alguém na família de quem gosta mais, com quem tem mais afinidade, que é o preferido do coração.

Que me perdoem todos os meus demais tios, a quem eu adoro tanto, mas desde que me entendo por gente que eu tenho paixão pela minha tia Madalena.

Irmã mais nova da minha mãe, a quinta de uma ninhada de seis, ela sempre foi a alegria e o bom humor em pessoa, sempre uma piadinha engatilhada, sempre uma observação espirituosa, sempre uma gaiatice para um e para outro. Uma disposição sem fim. É domingo, está chovendo, aquele tempinho nojento de ficar jogada no sofá e ela resolve que "vai fazer umas empadinhas" pra gente. Ou um bolinho de limão pra comer com café.

A casa dela é um movimento sem fim, porque todo mundo da família dá uma passadinha lá, os vizinhos aparecem, os amigos dos filhos. Só não digo que o portão fica sempre aberto porque a criminalidade não deixa, porque não fosse a bandidagem, ele certamente nunca seria fechado. Ficaria sempre aberto, como aberto está sempre o seu coração.

Nem mesmo a perda trágica do marido, com 30 e poucos anos, ficando viúva com 3 filhos bem pequenos para criar foi capaz de transformá-la em uma pessoa triste, amarga, solitária, mal-humorada. Catou a bolsa e foi à luta e não me lembro dela derramando fel. Aliás, eu digo sempre que se havia alguém habilitado em nossa família para passar pelo que ela passou e não se deixar contaminar pela tristeza e pelo desespero, esse alguém é ela.

Ela sempre me diz que me levava na praia para andar na areia e fazer curvinha no pé. Não me lembro disso, pois era bem pequena, mas eu me lembro de como a via linda e moderna em sua calça jeans verde-musgo que eu achava TU-DO, da felicidade de ir com ela até o trabalho nas férias e ela me apresentar pra todo mundo como "minha sobrinha, a Cacá, minha pretinha" - depois, ela passou a ter sua própria pretinha, né Tetela, mas durante um tempão, era eu.

Eu era tão louca por ela que quando ela contou que estava grávida da minha prima, eu pedi pra ser a madrinha do bebê. Coitada, passou a ser minha comadre compulsoriamente, nem teve coragem de negar.

De verdade? Não conheço uma única pessoa que não goste dela. A casa dela é um lugar que emana boas energias, um lugar onde todo mundo se sente à vontade, pronto para acolher qualquer um. Se hoje eu ligar pra ela e disser que estou indo passar um fim de semana lá com duas amigas que ela nunca viu na vida, ela nos receberá como se as minhas amigas fossem conhecidas de anos!!!

Para ela não tem tempo ruim. Mesmo quando os tempos se mostram terrivelmente ruins de verdade, ela ilumina os dias e as vidas de todos que a cercam. Não tem como ficar emburrado, de mau-humor, ou sentir solidão perto da minha tia Mada.

E é por isso que hoje estou escrevendo este post, para dizer a ela o quanto a admiro, o quanto a amo, e o quanto me lembro da sua força, do seu bom-humor e da sua fibra quando as coisas não vão tão bem. Que o mundo seria infinitamente melhor com mais gente como ela circulando por aí.


post inspirado no blog da Re, o Passei dos Trinta, no qual ela fala do bom-humor da mãe dela. Re, se juntar sua mãe e minha tia, ninguém mais chora na vida!


domingo, setembro 08, 2013

Bike time!

Olha, tinha fácil uns dois anos. Talvez mais, não sei, que eu não andava de bicicleta, desde que a minha, mais velha que a Isabela vejam vocês, tinha sido diagnosticada com falência total dos órgãos - tinha de trocar absolutamente tudo, menos o quadro central e o banco. Aí eu ficava naquela de ir ao parque e alugar uma, mas o parque fica absolutamente impossível nos finais de semana. Junta com a preguiça... bem foram uns dois anos.

Pela cidade, tem o esquema de empréstimo de bicicletas do Itaú, que deve funcionar bem, porque vejo sempre gente pra lá e pra cá nas bikes laranja, mas nunca me animei pra valer. Vejo as bicicletas nos pontos de retirada e devolução, entrei no site, achei meio complexo demais. Semana passada, li uma matéria, já antiga, sobre o empréstimo de bicicletas do Bradesco no Parque das Bicicletas, aos domingos e feriados, uma coisa simples, deixa um documento, pega uma bicicleta por uma hora. Belezinha. Prometi a mim mesma que no próximo domingo - que foi este - eu iria.

Não estou criticando o sistema do Itaú, que nunca usei. Inclusive acho que um nada tem a ver com outro, o do Bradesco é voltado ao lazer no final de semana, nas ciclofaixas, e o do Itaú é permanente, voltado para incentivar o deslocamento de bike pela cidade. Tanto que você pode pegar a bicicleta em um local e devolver em outro, e tem muitos pontos espalhados pela região central, mas ainda não sou cool e descolada a esse ponto.

Acordei cedo, comecei a ver um filme, depois emendei com The Big Bang Theory... e a manhã ia passando e eu ali enrolando mais que tudo para sair da cama. Aquele sol lindo. Me troquei e fui.

Peguei a bicicleta, toda me achando A atleta, e já comecei no vexame: quem disse que eu conseguia colocar o pedal na posição que eu sei começar a pedalar? Porque eu só sei começar a pedalar com o pé direito, e com o pedal assim, na frente, não sei começar com o esquerdo, nem com o pedal pra baixo. E o pedal não admitia ser rodado com a bicicleta parada. E a bicicleta não andava pra trás. E eu não saía do lugar. E eu não sabia o que fazer. E se eu fosse uma das meninas ali da tendinha do empréstimo a essa altura estaria rolando de rir com a cena ridícula.

Vencido esse obstáculo inicial que teria feito qualquer pessoa com menos garra e força de vontade e determinação do que eu desistir, me lancei ciclofaixa afora, morta de medo de atropelar alguém, me enroscar em outra bicicleta, ser atropelada por um carro, levar um tombo. Nessa ordem mesmo. O medo foi passando à medida que fui me familiarizando com o pedal, com a marcha diferente da minha antiguinha - também, só tinha 3 posições, não tinha muito pra onde errar -, com a delícia do vento batendo no rosto, do sol brilhando, de ficar pensando que eu gosto tanto de andar de bicicleta, por que não vou sempre?

Sobre ciclofaixas e ciclovias, elas são uma extensão dos seus usuários. Penso que, como nas ruas, deve-se andar pela direita e deixar a esquerda para quem quer ultrapassar, certo? Que andar com sua namorada lado a lado, conversando sobre a vida, impede que os demais andem na ciclofaixa em velocidade superior à sua. Sem contar o fato de que nem todo mundo que vai atrás está interessado em seu papo furado. Também não dá para andar com sua filhinha de 3 anos na bicicleta de rodinha, nem passear com o carrinho de bebê - tem roda né? - muito menos correr a pé. Por outro lado, a ciclofaixa dos finais de semana e a ciclovia no parque também não são os locais onde você vai treinar para o Tour de France, e ultrapassar um ciclista mais lento e xingá-lo por isso não me parece a forma mais adequada de desestressar num domingo de sol.

Dói tudo, claro. Braço, perna, pescoço, bumbum... O cabelo, que estava solto, embaraçou de um jeito perto do pescoço, que parecia um ninho de mafagafos. Nunca vi um, nem sei se mafagafo existe ou se é só um bichinho para dar ritmo ao travalínguas, mas me parece a comparação mais adequada, e deu um trabalho do caramba para desmafagafizar depois. Fiquei pensando em quem poderia me emprestar uma daquelas almofadinhas de quem opera hemorróidas para eu poder trabalhar amanhã.

Independente de qualquer percalço, foi quase uma hora de puro prazer, sem parar de pedalar, a não ser nos semáforos - que, para minha sorte, apareciam de 700 em 700m mais ou menos, o que me permitia respirar por 30 segundos - aquela sensação boa que o exercício físico ao ar livre proporciona, o gostinho de vitória sobre o cansaço, a falta de forma, a preguiça!!!



segunda-feira, julho 22, 2013

O despertar de uma paixão

É possível amar alguém que você já conhecia antes? Apaixonar-se por um homem com quem você já tinha um relacionamento? Por alguém que você até desprezava?

As perguntas acima me foram feitas por uma amiga, e foram suscitadas pelo filme O despertar de uma paixão - ao qual assisto agora, pela enésima vez, enquanto escrevo. No filme, Kitty é uma mulher casada, fútil e inconsequente, que trai seu marido Walter, um médico nerd desprovido de glamour e requinte, com um homem bonito, sofisticado e casado. Ao descobrir o caso, Walter aceita um emprego na China, em uma aldeia devastada pelo cólera, e Kitty é obrigada a ir com ele, já que a história se passa em 1920 e o amante tinha-lhe dado um pé na bunda.

Ali, na China, ela descobre nele qualidades que seu modo de vida frívolo não lhe permitia enxergar: um homem inteligente, honrado, honesto, dedicado ao trabalho e que a ama, apesar da traição. E ele também percebe que sempre exigiu dela algo que ela nunca pretendera, nem desejara, nem poderia ser. Que ela não gostava de Ciência e História, que ela não era uma intelectual, que ela gostava mesmo era de ir ao teatro, a festas, dançar e jogar golfe.

Assim, isolados num país distante, sem distrações, um tem a chance de ver o outro como ele é, e se descobrem apaixonados. E se você achar que eu contei o final do filme, não contei não, mas era óbvio, pelo título que isso ia acontecer em algum momento da narrativa , não?

Então, para mim, sim, é possível amar alguém que já se conhecia antes, quando se olha esse alguém com outras lentes, não distorcidas. Quando se é possível ver as qualidades dessa pessoa e aceitar os seus defeitos, quando não se espera que essa pessoa seja algo que ela não poderá ser, quando se valoriza o que essa pessoa tem de melhor.

Não é exatamente uma coisa fácil, mas é o que te faz ser feliz de verdade com alguém.

sexta-feira, julho 19, 2013

Te esperando... sentado.

Mesmo que você não caia na minha cantada
Mesmo que você conheça outro cara
Na fila de um banco
Um tal de Fernando, um lance assim, sem graça.

Mesmo que vocês fiquem sem se gostar
Mesmo que vocês casem sem se amar
E depois de seis meses um olhe pro outro
E aí, pois é, sei lá...

Mesmo que você suporte este casamento
Por causa dos filhos, por muito tempo
Dez, vinte, trinta anos
Até se assustar com seus cabelos brancos.

Um dia vai sentar numa cadeira de balanço
Vai se lembrar de quando tinha vinte anos
Vai se lembrar de mim e se perguntar
Por onde esse cara deve estar?

E eu vou estar te esperando
Nem que já esteja velhinha gagá
Com noventa, viúva, sozinha,
Não vou me importar.

Vou te ligar
Te chamar pra sair
Namorar no sofá.
Nem que seja além desta vida
Vou estar
Te esperando.

(te esperando - Luan Santana)

Vamos analisar a música acima, por partes:

"Mesmo que você não caia na minha cantada
Mesmo que você conheça outro cara
Na fila de um banco
Um tal de Fernando, um lance assim, sem graça."

A garota não estava nem um pouco a fim dele, porque a gente quando está a fim dum cara, cai na cantada mais tosca e fraquinha do mundo na maior felicidade. Se engraçou com o Fernando, que devia bater um bolão, já que a conquistou na fila do banco, o local onde se vai com a maior má vontade do universo. E aí, homem quando mulher se encanta por outro ou diz que ele é viado ou diz que ele passa devagar, é bobão etc. Despeito puro.

"Mesmo que vocês fiquem sem se gostar
Mesmo que vocês casem sem se amar
E depois de seis meses um olhe pro outro
E aí, pois é, sei lá...

Mesmo que você suporte este casamento
Por causa dos filhos, por muito tempo
Dez, vinte, trinta anos
Até se assustar com seus cabelos brancos."

De onde ele tirou que ela e o Fernando não se amam loucamente? Que não são superfelizes juntos? Que o casamento deles não é bacana pacas? Outra coisa, mulher alguma se assusta com os cabelos brancos porque a gente não deixa que eles apareçam!!!! São sufocados ao menor sinal por litros e litros de tinta para cabelo. Ou seja, desse mal a gente não morre.

"Um dia vai sentar numa cadeira de balanço
Vai se lembrar de quando tinha vinte anos
Vai se lembrar de mim e se perguntar
Por onde esse cara deve estar?"

A troco de quê ela vai se lembrar de um cara em cuja cantada ela nem caiu? Só se foi porque a cantada foi tão tosca e desgraçada que ela conta pras amigas do asilo na hora do chá com biscoitinhos. Todos os dias, porque ela se esquece que já contou e as amigas esquecem que já ouviram e fica tudo bem.

"E eu vou estar te esperando
Nem que já esteja velhinha gagá
Com noventa, viúva, sozinha,
Não vou me importar."

Duvido! Só se for por puro orgulho ferido, ego de macho rejeitado, pra ele se lembrar dela depois de 70 anos. E certamente não será com carinho e, aos 90 anos, muito menos com tesão.

"Vou te ligar
Te chamar pra sair
Namorar no sofá.
Nem que seja além desta vida
Vou estar
Te esperando."

Vai ligar como? Pra que número? E vai saber como que ela está pensando nele? E vai chamar pra sair pra onde? No seu asilo ou no meu?

Considerando a hipótese de que ela efetivamente se lembre dele:

- alô, fulana, é o Luan...
- Juan?
- Luan.
- Jean?
- não, o Luan, aquele que...
- Renan???

Não há romance que sobreviva.

segunda-feira, junho 24, 2013

Presentes do anjo da guarda

Lala, o Oráculo, costuma dizer que algumas pessoas cumprem funções muito específicas em nossas vidas. Que aparecem do nada, sem motivo algum, e depois se vão como vieram, sem mais nem porquê.

Eu achava uma tese muito coerente, ainda mais que ela sempre ilustrou com exemplos altamente convincentes, mas nunca tinha parado pra pensar nisso a fundo, até bem pouco tempo atrás, quando vivi essa experiência. Ela tem toda a razão, algumas pessoas aparecem moldadas para um determinado momento. E só.

Alguém para te fazer tirar o foco de um relacionamento desgastado ou insalubre, que vem do nada e para o nada se vai. Na hora você não entende muito bem o motivo, mas depois, batata!. Muitas vezes para sua única proteção, para te blindar contra uma decepção ou uma mágoa maior.

Um amigo de trabalho de anos atrás que você não vai há sei lá quanto tempo, tinha perdido o contato, se esbarram por acaso e tchã-nãn! Este amigo te ajuda a arrumar um emprego - estando você desempregado - ou te recomenda para algo muito mais bacana do que você tem hoje. E puft! acaba aí o reencontro, nenhuma das partes se empenha em continuar a se encontrar e a coisa morre aí.

Uma colega de classe que aparece de volta na sua vida quando ambas estão na mesma vibe, no mesmo momento da vida, bons momentos do passado que são resgatados, e depois cada uma segue o seu caminho.

Essas pessoas aparecem sob formas muito diversas, nem sempre boas no momento em que surgem, e o pulo do gato é saber reconhecer que elas foram uma mão estendida em sua direção, em um momento em que você precisava e nem sabia disso.

Enviadas talvez, pelo seu anjo da guarda, ainda que ele lhe pareça meio desajeitado às vezes.