Nós, mulheres, e a tecnologia galopante
Todo mundo joga confete sobre as vantagens do avanço da tecnologia, mas já repararam que a tecnologia está fazendo com que nós, mulheres, percamos direito a várias coisas que facilitavam bem a vida?
Bina, por exemplo, já mencionei aqui, é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que te permite ver quem está ligando - e com esta preciosa informação em mãos você decide se atende com voz de quem está ocupadérrima, com voz melosa, com voz de brava ou então nem atende que é pra ele ver o que é bom pra tosse -, não te permite ligar só pra escutar a voz dele dizendo alô de vez em quando.
Muito menos passar trote praquela vaca.
Concordam que isso foi uma imensa perda para a contenção da ansiedade feminina? Eu acho.
Como já sabemos e comprovamos que o mundo é masculino, eis que o passo seguinte foi o advento do celular. Aquele aparelhinho que está ali sempre à mão, em especial quando estamos sem fazer nada, angustiadas, ansiosas e sem nem uma caixinha de bis à mão. Já sacaram qual é o problema, né? Sabia que não iam me decepcionar! E se alguém for dizer que nunca ligou para a pessoa errada na hora errada e quis se jogar pela janela depois, guarde a informação para si, até porque eu já vou achar que é uma mentira deslavada.
Um dos desdobramentos da invenção do celular foi a morte do número errado de telefone. Antigamente você podia dar o número de telefone errado na balada e o cara só descobria depois, quando ia te ligar para combinar alguma coisa. Uma amiga minha tinha até um número fixo errado, ela dava sempre o mesmo número errado, com apenas uma pequena modificação em relação ao número certo. Se depois, por mero acaso, ela reencontrasse o cara e continuasse não gostando dele - e reencontrar alguém numa baladinha brasiliense nos anos 80 era a coisa mais comum do mundo - ela dizia que tinha se enganado e dava o número errado 2. Normalmente resolvia a questão, quando o cara ligava para o segundo número errado e em vez de cair no salão de beleza Beleza Pura, caía na Casa de Carnes Porquinho ele se tocava de que não tinha agradado. Caso ela reencontrasse o cara e mudasse de ideia, dava o telefone certo e o cara ficava acreditando piamente que ele tinha anotado errado da primeira vez.
Maquiavel perde pra capacidade manipuladora duma mente feminina disposta.
Só que hoje, o que acontece? Como ninguém nunca está em casa, todo mundo dá o número do celular, certo? E o cara na mesma hora pega o celular dele, digita o número que você deu e liga NA MESMA HORA, com a desculpa de você salvar o número dele.
Ou seja, acabaram-se a possibilidade e a diversão de dar o telefone errado. Eu fico aqui pensando nas primeiras vezes em que isso aconteceu, quantas desavisadas não passaram o maior carão quando o telefone não tocou. Mais ainda quando deixaram tocar até alguém atender. Daí a tática da minha amiga ser acertada, sempre se podia dizer que não havia sido proposital.
Tá certo que a gente fica sabendo também quem está ligando antes de atender, nem tudo está perdido, não compensa inteiramente a perda da situação anterior, mas já minimiza.
O próximo passo para dificultar nossa vida será o telefone com câmera virar a coisa mais banal do mundo. Você nunca mais vai poder falar uma coisa pelo telefone enquanto pensa outra: nós não vamos mais ao cinema porque você vai jogar bola com o Carlão? Não, imagina, tudo bem pra mim... Cintia? Que Cintia, não me lembro de nenhuma amiga sua chamada Cintia (enquanto isso você forma na sua cabeça a imagem daquela piriguete que adora se pendurar no pescoço dele e sua cara de ódio te traindo, já pensou?).
Aí vai ser difícil sobreviver nesta selva.
Bina, por exemplo, já mencionei aqui, é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que te permite ver quem está ligando - e com esta preciosa informação em mãos você decide se atende com voz de quem está ocupadérrima, com voz melosa, com voz de brava ou então nem atende que é pra ele ver o que é bom pra tosse -, não te permite ligar só pra escutar a voz dele dizendo alô de vez em quando.
Muito menos passar trote praquela vaca.
Concordam que isso foi uma imensa perda para a contenção da ansiedade feminina? Eu acho.
Como já sabemos e comprovamos que o mundo é masculino, eis que o passo seguinte foi o advento do celular. Aquele aparelhinho que está ali sempre à mão, em especial quando estamos sem fazer nada, angustiadas, ansiosas e sem nem uma caixinha de bis à mão. Já sacaram qual é o problema, né? Sabia que não iam me decepcionar! E se alguém for dizer que nunca ligou para a pessoa errada na hora errada e quis se jogar pela janela depois, guarde a informação para si, até porque eu já vou achar que é uma mentira deslavada.
Um dos desdobramentos da invenção do celular foi a morte do número errado de telefone. Antigamente você podia dar o número de telefone errado na balada e o cara só descobria depois, quando ia te ligar para combinar alguma coisa. Uma amiga minha tinha até um número fixo errado, ela dava sempre o mesmo número errado, com apenas uma pequena modificação em relação ao número certo. Se depois, por mero acaso, ela reencontrasse o cara e continuasse não gostando dele - e reencontrar alguém numa baladinha brasiliense nos anos 80 era a coisa mais comum do mundo - ela dizia que tinha se enganado e dava o número errado 2. Normalmente resolvia a questão, quando o cara ligava para o segundo número errado e em vez de cair no salão de beleza Beleza Pura, caía na Casa de Carnes Porquinho ele se tocava de que não tinha agradado. Caso ela reencontrasse o cara e mudasse de ideia, dava o telefone certo e o cara ficava acreditando piamente que ele tinha anotado errado da primeira vez.
Maquiavel perde pra capacidade manipuladora duma mente feminina disposta.
Só que hoje, o que acontece? Como ninguém nunca está em casa, todo mundo dá o número do celular, certo? E o cara na mesma hora pega o celular dele, digita o número que você deu e liga NA MESMA HORA, com a desculpa de você salvar o número dele.
Ou seja, acabaram-se a possibilidade e a diversão de dar o telefone errado. Eu fico aqui pensando nas primeiras vezes em que isso aconteceu, quantas desavisadas não passaram o maior carão quando o telefone não tocou. Mais ainda quando deixaram tocar até alguém atender. Daí a tática da minha amiga ser acertada, sempre se podia dizer que não havia sido proposital.
Tá certo que a gente fica sabendo também quem está ligando antes de atender, nem tudo está perdido, não compensa inteiramente a perda da situação anterior, mas já minimiza.
O próximo passo para dificultar nossa vida será o telefone com câmera virar a coisa mais banal do mundo. Você nunca mais vai poder falar uma coisa pelo telefone enquanto pensa outra: nós não vamos mais ao cinema porque você vai jogar bola com o Carlão? Não, imagina, tudo bem pra mim... Cintia? Que Cintia, não me lembro de nenhuma amiga sua chamada Cintia (enquanto isso você forma na sua cabeça a imagem daquela piriguete que adora se pendurar no pescoço dele e sua cara de ódio te traindo, já pensou?).
Aí vai ser difícil sobreviver nesta selva.