Você, o outro - e as expectativas de cada um
(o post é de 2008, mas tudo continua igual e eu tô meio sem assunto, então, lá vai, requentado mesmo)
Yves Saint-Laurent dizia que o melhor traje para uma mulher eram os braços do homem amado em torno dela, e que para as que não tinham essa sorte, existiam as criações dele.
Como no meu caso não há nem um nem outro, eu e um amigo na mesma situassãn fomos tomar um negocinho ontem à noite. Comi um pastel que fez um estrago tal que hoje nem pude ir trabalhar, credo!, enquanto ele me contava sobre o relacionamento incipiente com uma moça, que o estava deixando em pânico.
Ele começou a me contar a história do que vinha rolando, que a moça mora em outro estado e estava passando uns dias aqui, que os encontros tinham sido megalegais, que as afinidades eram muitas, que ela era megacarinhosa, enfim, só coisa boa. Mas eis que a pobre de Cristo cometeu o crime, aos olhos dele, de demonstrar vontade de encontrar com ele mais uma vez antes de ir embora, de telefonar para ele e, pecado mortal, mandou um torpedo dando bom dia, querido.
Isso bastou para ativar todos os alertas do meu amigo e deixá-lo perturbado e sem saber o que fazer, a ponto de mandar, em resposta, um sms mal-criado, curto e grosso. No fim, ele mesmo chegou à conclusão que tinha reagido além da conta, pediu desculpas, e ficou tudo bem.
A partir daí, ficamos nós dois discutindo o assunto: de que o que é natural para uma pessoa pode ser um absurdo para outra. E que os conceitos variam de acordo com nosso interesse, nossas experiências, nossos medos, projeções e expectativas. Sob essa ótica, o bom dia, querido significava, para ela, tão somente isso, algo que ela falaria se tivesse acordado ao lado dele, mas para ele soou como se ela tivesse mandado um torpedo mandando a largura do dedo pra ele comprar as alianças de noivado.
Eu exemplifiquei com um cara com quem comecei a sair há um tempo atrás que tinha o péssimo hábito de me ligar em horários pouco convencionais e eu nem atendia aos telefonemas dele porque achava um abuso x um cara por quem eu era apaixonada que tinha o ótimo hábito de me ligar em horários pouco convencionais e eu atendia aos telefonemas dele feliz da vida. Pois é.
Assim como ela disse como um homem como você pode estar sozinho? e ele achou clichê, quando na verdade eu acho este meu amigo cheio de qualidades e entendo o estranhamento dela. Mas entendo também a reação dele, afinal, já tomei uma bronca feia por ter dito prum mocinho que ele era interessante, como se isso significasse que queria me casar, ter três filhos lindos e um labrador.
Meu amigo acabou concluindo, assim, de supetão, que o problema todo é que ele é muito carinhoso, mas não sabe receber carinho. Que em todos os relacionamentos anteriores o carinhoso era ele e que agora que ele se deparou com uma pessoa carinhosa, entrou em pânico, porque fugiu do seu seguro padrão já conhecido.
É uma arte nada fácil conseguir entender a atitude do outro e conseguir ajustar as suas atitudes ao universo do outro, sem que com isso você perca o seu jeito de ser e sua espontaneidade. Fazer com que o lado de lá entenda que receber carinho não significa obrigatoriamente um compromisso para toda vida, que dizer sinto sua falta não quer dizer mais nada além disso, e que não estamos esperando um anel de noivado da Tiffany's quando perguntamos quando iremos nos ver de novo. Que a pessoa carinhosa o é por que o é, independente do retorno, ela sempre o será porque faz parte da sua personalidade, e ela será assim com seu amor, com seus pais, com seus amigos, com seu animal de estimação.
Porque no dia em que uma mulher não se importar nem um pouco se vai ou não se encontrar novamente com um cara que ela conheceu, se ele gostou ou não dela, se ele vai ligar de novo pra ela ou não, se ele vai responder à mensagem dela ou não, ele pode ter certeza de que ele não é a primeira opção da vida dela, e que não faz a menor diferença.
E quem quer ser segunda escolha?