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sábado, janeiro 19, 2013

Você, o outro - e as expectativas de cada um


 (o post é de 2008, mas tudo continua igual e eu tô meio sem assunto, então, lá vai, requentado mesmo)

Yves Saint-Laurent dizia que o melhor traje para uma mulher eram os braços do homem amado em torno dela, e que para as que não tinham essa sorte, existiam as criações dele.

Como no meu caso não há nem um nem outro, eu e um amigo na mesma situassãn fomos tomar um negocinho ontem à noite. Comi um pastel que fez um estrago tal que hoje nem pude ir trabalhar, credo!, enquanto ele me contava sobre o relacionamento incipiente com uma moça, que o estava deixando em pânico.

Ele começou a me contar a história do que vinha rolando, que a moça mora em outro estado e estava passando uns dias aqui, que os encontros tinham sido megalegais, que as afinidades eram muitas, que ela era megacarinhosa, enfim, só coisa boa. Mas eis que a pobre de Cristo cometeu o crime, aos olhos dele, de demonstrar vontade de encontrar com ele mais uma vez antes de ir embora, de telefonar para ele e, pecado mortal, mandou um torpedo dando bom dia, querido.

Isso bastou para ativar todos os alertas do meu amigo e deixá-lo perturbado e sem saber o que fazer, a ponto de mandar, em resposta, um sms mal-criado, curto e grosso. No fim, ele mesmo chegou à conclusão que tinha reagido além da conta, pediu desculpas, e ficou tudo bem.

A partir daí, ficamos nós dois discutindo o assunto: de que o que é natural para uma pessoa pode ser um absurdo para outra. E que os conceitos variam de acordo com nosso interesse, nossas experiências, nossos medos, projeções e expectativas. Sob essa ótica, o bom dia, querido significava, para ela, tão somente isso, algo que ela falaria se tivesse acordado ao lado dele, mas para ele soou como se ela tivesse mandado um torpedo mandando a largura do dedo pra ele comprar as alianças de noivado.

Eu exemplifiquei com um cara com quem comecei a sair há um tempo atrás que tinha o péssimo hábito de me ligar em horários pouco convencionais e eu nem atendia aos telefonemas dele porque achava um abuso x um cara por quem eu era apaixonada que tinha o ótimo hábito de me ligar em horários pouco convencionais e eu atendia aos telefonemas dele feliz da vida. Pois é.

Assim como ela disse como um homem como você pode estar sozinho? e ele achou clichê, quando na verdade eu acho este meu amigo cheio de qualidades e entendo o estranhamento dela. Mas entendo também a reação dele, afinal, já tomei uma bronca feia por ter dito prum mocinho que ele era interessante, como se isso significasse que queria me casar, ter três filhos lindos e um labrador.

Meu amigo acabou concluindo, assim, de supetão, que o problema todo é que ele é muito carinhoso, mas não sabe receber carinho. Que em todos os relacionamentos anteriores o carinhoso era ele e que agora que ele se deparou com uma pessoa carinhosa, entrou em pânico, porque fugiu do seu seguro padrão já conhecido.

É uma arte nada fácil conseguir entender a atitude do outro e conseguir ajustar as suas atitudes ao universo do outro, sem que com isso você perca o seu jeito de ser e sua espontaneidade. Fazer com que o lado de lá entenda que receber carinho não significa obrigatoriamente um compromisso para toda vida, que dizer sinto sua falta não quer dizer mais nada além disso, e que não estamos esperando um anel de noivado da Tiffany's quando perguntamos quando iremos nos ver de novo. Que a pessoa carinhosa o é por que o é, independente do retorno, ela sempre o será porque faz parte da sua personalidade, e ela será assim com seu amor, com seus pais, com seus amigos, com seu animal de estimação.

Porque no dia em que uma mulher não se importar nem um pouco se vai ou não se encontrar novamente com um cara que ela conheceu, se ele gostou ou não dela, se ele vai ligar de novo pra ela ou não, se ele vai responder à mensagem dela ou não, ele pode ter certeza de que ele não é a primeira opção da vida dela, e que não faz a menor diferença.

E quem quer ser segunda escolha?

sábado, janeiro 12, 2013

A incrível aventura da paternidade

Um amigo meu disse que o pai está em êxtase porque a irmã mais nova está se formando em Medicina. Acredito que a sensação seja bem essa, um encantamento, um orgulho, uma alegria imensa, uma sensação de dever cumprido e bem cumprido.

Porque ser pai e mãe é uma aventura que a gente basicamente sabe como é que começa, mas não tem nem ideia no que aquilo vai dar. No que aquele pacotinho de meio metro que largam no colo da gente pra gente trazer pra casa vai fazer da vida dali a alguns anos - os quais passam muito mais rápido do que podemos supor, estamos sempre defasados em relação à idade cronológica dos nossos filhos. A minha, por exemplo, eu acho que ainda tem 5 anos.

Por um bom tempo, tudo na vida daquele pedacinho de gente depende das nossas escolhas: que pediatra vai cuidar dele, homeopata ou alopata? Que roupinha vou vestir, será que ele está com frio, com calor, com frio e com calor, que tipo de alimentação terá, vai mamar no peito ou não vai, vou passear com ele no shopping ou não vou, berçário, babá, deixo temporariamente minha vida profissional para me dedicar a ele? Quais os amiguinhos, em qual escolinha vou matriculá-lo e com que idade. Deixo ver este filme, será que ele deve ter um animalzinho de estimação, tomar gelado? Ensino a revidar se apanha na escola ou prego a não-violência? Levo eu mesma ou pago um transporte escolar? Compro quais livrinhos para estimular a leitura, deixo usar o computador por quantas horas? Com que idade coloco na natação? Balé ou judô, ou ambos? Escola bilíngue? Deixo ir na festinha? Busco na festinha a que horas? Coloco de castigo ou já passou da idade? Dou uma palmada no bumbum?

Perdi a conta da quantidade de vezes em que chorei no chuveiro, torturada pela dúvida, pela incerteza, pela culpa, pela responsabilidade, pelo medo de estar estragando a vida da minha filha, por tudo isso junto e misturado.

O fato é que não sabemos o resultado das nossas ações a não ser depois que as fazemos, e elas são todas sem volta. Não é um banheiro que você achou que ficaria lindo todo em azul e depois de constatar que fez uma péssima escolha, manda quebrar e trocar pra branco mesmo. Nem um chocolatinho a mais que você comeu e depois vai queimar o arrependimento na esteira. São decisões importantes, pequenas ou grandes, todas fazendo parte do conjunto da obra mais importante na vida de alguém: criar um filho e fazer dele uma pessoa "de bem".

Essa imensa responsabilidade é colocada em nosso colo junto com o tal pacotinho de meio metro e 3kg, mas ninguém avisa que vai ser assim todo o tempo, porque a gente se prepara para o macro - onde ele vai estudar - mas nunca para o micro - deixo ele comer açúcar a partir de quando. E o micro aparece a todo minuto. Lembro até hoje do momento desesperador de pisar em casa com a Isabela no colo, eu mesma ainda tão jovem, e pensar que agora era comigo. Que agora eu era mãe de alguém, que isso era irreversível, que eu tinha perdido o controle sobre a minha própria vida. Que não podia apertar um botão e chamar a enfermeira para me ajudar. Que nunca mais a prioridade na minha vida seria eu mesma e que tudo o que eu fizesse ou dissesse ia se refletir nela e que a vidinha dela dependia quase que exclusivamente do que eu fizesse.

Aí, ele vai crescendo e você vai calibrando suas escolhas para ele, ele mesmo passa a fazer algumas, por si só, e, um dia, esse precioso pacotinho que agora tem muitos centímetros a mais, se forma na faculdade. Penso que a sensação deve ser parecida com "ok, por mais merda que eu tenha feito, por mais que eu tenha tomado uma decisão errada aqui outra ali, por mais que eu pudesse ter feito diferente, ele sobreviveu aos meus erros e, no fim, transformou-se em um adulto que pode caminhar por si só, fazer as próprias escolhas, e algum dia, as escolhas de um outro pacotinho de meio metro".

Eu acho que neste momento, os pais devem ter mesmo essa sensação de êxtase, de felicidade, e por que não dizer, de libertação.

E olhar para si mesmos e dizer: Muito bem! Parabéns! Você conseguiu!

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Baixo clero

Estávamos hoje, eu e uma amiga, conversando animadamente, e em dado momento eu disse a ela que ia arrumar um namorado lixeiro*. Ela quis saber porque e eu expliquei. Acompanhem o meu raciocínio e vejam se não estou certa.

O cara vai pro trabalho, chega lá, bate o ponto, trabalha, pausa pro café, pausa pro almoço com direito a sonequinha, pausa pro café, bate o ponto na hora de sair e vai pra casa. Chega em casa ele toma um banho, janta arrozfeijãomistura, assiste um futebolzinho e depois te dá um guenta antes de dormir. Religiosamente, porque se não comparecer, outro comparece.

Porque, amigas, depois que o cara bate o ponto no fim da tarde, ele não pensa mais em trabalho. Cliente. Boleto de fornecedor pra pagar - máximo um carnê das Casas Bahia. Salário. Décimo-terceiro.Se Dilma vetou, se o dólar subiu, se o euro caiu, se Genoíno foi pra prisão, se Obama ganhou, se a Bolsa de Tóquio fechou em alta ou em baixa, os royalties do pré-sal pra quem vão.

Ele vai pra casa e deixa o trabalho bem lá onde ele tem de ficar. Pergunta se tem problema de estresse? Se fica indisposto por causa do mensalão. Mensa o quê, minha preta? Pega uma cerveja na geladeira e vem sentar gostosinha aqui do meu lado, no sofá, que hoje tu tá uma tetéia.

E a gente fica querendo namorar executivo de multinacional, diretor de empresa, empresário...

Somos um bando de burras. Eles têm tanta coisa pra pensar, tanto problema na cabeça, tanta responsabilidade que mal sobra tempo pra nós. É ou não é? Atire a primeira pedra aquela que nunca amargou um sábado com o namorado/noivo/marido/rolo/caso/ficante/coloqueaquiadenominaçãoquequiser trabalhando, resolvendo assuntos pendentes que dependem dele para andar.

Meninas, estou agora mesmo organizando uma excursão para a obra do Itaquerão. Bora escolher um peão pra chamar de seu e ser feliz!



*entenda-se por lixeiro não somente o próprio como qualquer trabalhador braçal chão de fábrica, que também faz o mesmo efeito!