É o seguinte... tá bem?

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domingo, outubro 28, 2012

Como é gostoso gostar de alguém!

Para se ter um relacionamento feliz com alguém, é preciso gostar deste alguém.

Parece uma frase óbvia, mas não é. Olhe ao seu redor, os casais amigos, ou conhecidos, pare e pense: quantos deles gostam um do outro para valer? Quantos deles curtem o jeito do outro ser, ainda que esse outro tenha um monte de pequenos defeitos que o irrite? Quantos deles contornam esses defeitos com paciência, bom humor, jogo de cintura e vontade de estar perto? Quantos deles gostam um do outro e não pretendem modificar o lado de lá, não acham que ele deveria ser assim ou assado. Gostam e pronto.

Notem que não estou falando de amor. Nem de paixão. A paixão dura por um período e relacionamento algum se sustenta na paixão. O amor é importantíssimo, é um sentimento delicioso, que nos motiva, nos aquece, nos encanta, nos embala. Só amar, porém, não basta.

É preciso gostar.

Gostar do jeito que ela usa o cabelo.
Gostar de jeito chato dela contar histórias compridas cheias de hiperlinks.
Gostar do jeito calado dele.
Gostar do jeito como ele toma cerveja.
Gostar do jeito como ele conta piadas e gostar dele mesmo sendo péssimo piadista.
Gostar dela mesmo que ela dirija muito mal e cozinhe pior ainda.
Gostar dele até quando ele responde com grunhidos.
Gostar dela quando ela te enche os ouvidos, ou fica quieta emburrada.
Gostar do corte de cabelo meio fora de moda dele.
Gostar dela porque ela parece uma princesa.
Gostar dela porque de princesa ela não tem nada.
Gostar dele mesmo quando ele te irrita.
Gostar dele mesmo quando ele te irrita mais ainda.
Gostar das palhaçadas dele.
Gostar da falta de humor dele e do fato dele ser sempre assim tão sério.
Gostar dele mesmo que tenha uma vontade imensa de matá-lo em alguns momentos.

Gostar.

Gostar de alguém é um sentimento que ressalta o amor, a paixão. Quando gostamos verdadeiramente de alguém, seja ele marido, namorado, amigo, parente, os defeitos não nos parecem assim tão grandes, ou imperdoáveis. Muitas vezes a gente até se diverte com eles, e alguns podem inclusive virar virtudes.

Se você ama alguém, mas não gosta dele como um todo, é bastante provável que em algum tempo você esteja em pé de guerra com este alguém e o relacionamento se torne impossível. Mas se além de amar este alguém você gostar dele pra valer, o amor se prolongará.

Gostar de alguém é um sentimento poderoso, frequentemente minimizado, mas é o que sustenta relacionamentos que duram por toda uma vida.



segunda-feira, outubro 15, 2012

Rogando praga

Detalhes é uma das músicas mais conhecidas de Roberto Carlos. Não sei se há alguém neste Brasil que more em um local com o mínimo de civilização que não a tenha escutado ao menos uma vez. E todo mundo acha linda, inclusive eu, e ela é atemporal, como a maior parte das músicas do Roberto, apesar de ter sei lá, uns 40 anos.

Mas já repararam que a música nada mais é do que uma praga do caramba que o cara roga pra cima da mulher? Do início ao fim, a letra é um enorme dedo apontado para o nariz da pobre coitada cujo único pecado na vida foi não querer ficar como moço.

Já começa ele dizendo "não adianta nem tentar me esquecer, durante muito tempo em sua vida eu vou viver". Demonstra a intenção de não dar sossego pra nêga, uma vez que pretende infernizar a vida dela para que ela não o esqueça. Não satisfeito, lista uma série de coisas que a assombrarão pelo resto dos seus dias, como "se um outro cabeludo aparecer na sua rua e isto lhe trouxer saudades minhas a culpa é sua..." Como assim a culpa é dela? Ele fica arrastando corrente em volta da casa da moça e ainda quer jogar a responsa pra cima dela, pode isso? Fosse eu ela, descolava logo um careca pra ele deixar de ser besta.

O ronco barulhento
Do seu carro
A velha calça desbotada
Ou coisa assim
Imediatamente você vai
Lembrar de mim...

É ou não é uma praga rogada do caramba? Disfarçada de declaração de amor, de canção de homem apaixonado, mas é uma praga. O cara é tão metido e seguro de si que acha que ela vai arrumar outro igualzinho a ele. Namora um de terno, fia, que não tenha carro barulhento que é pra quebrar esse ebó.

Não satisfeito, ele continua dizendo que ela vai se lembrar dele até quando arrumar outro analfabeto feito ele mesmo - quanta arrogância, ela bem que podia se engraçar com um professor universitário -, e tem certeza de que ela vai ficar olhando o retrato dele antes de dormir. Considerando, pela letra, que ela é que deve ter dado um pé na bunda dele, a essa altura o retratinho já está lá no fundo da gaveta, junto das contas pagas, a troco de quê antes de dormir ela vai ficar olhando fotinho do ex é que não sei.

Depois disso, a praga chega no ápice. Nega lá no bembom com o peguete novo e o cara cantando

Se alguém tocar
Seu corpo como eu
Não diga nada
Não vá dizer
Meu nome sem querer
À pessoa errada...
Pensando ter amor
Nesse momento
Desesperada você
Tenta até o fim
E até nesse momento você vai
Lembrar de mim...

Asifudê né? Vai arrumar uma nêga pra chamar de sua e para de assombrar os outros, coisa mais brochante e sinistra isso, deixa a outra ser feliz! E finaliza reafirmando a ameaça do começo: não adianta nem tentar me esquecer....

A praga foi reeditada por Zezé di Camargo & Luciano em Você vai ver: você pode provar milhões de beijos mas sei que você vai lembrar de mim, pois sempre que um outro te tocar, na hora você pode se entregar, mas não vai me esquecer nem mesmo assim.

Bando de homem recalcado!

quinta-feira, outubro 04, 2012

A ansiedade nossa de cada dia

Antes que alguém me chame de dinossaura e retrógrda, ressalto que tecnologia é ótimo, acesso a ela melhor ainda, mas isso traz uma ansiedade dos infernos! E também uma certa preguiça em combinar as coisas, fica um troço assim meio depois a gente vê, o que causa ainda mais ansiedade.

Veja se não é assim: você marca com um amigo em algum lugar. Na era pré-celular, você marcava o local exato e o horário - se fosse no shopping, era no shopping x, tal hora, em frente à loja tal. Quem chegava primeiro, esperava pelo outro, lendo um livro, uma revista, ou olhando distraidamente para o povo que passava.
Agora a gente combina mais ou menos o local e mais ou menos o horário, e depois fica se ligando mais umas 3 vezes para acertar a combinação. Chega no local e liga pra dizer que chegou e saber onde é que o outro está. Se ele disser que já está perto, vamos ligar pelo menos mais uma vez pra saber se já está chegando mesmo. Como se fizesse toda a diferença do mundo saber se o nego tá na garagem ou já no local combinado.
Ontem mesmo fiz isso com uma amiga: combinamos, pelo messenger, de ir ao shopping X jantar juntas depois do trabalho. Avisei, pelo messenger, que já estava saindo. Do carro, liguei pra dizer que já tinha saído. Chegando ao shopping, liguei pra saber se ela já estava vindo. Depois de novo para saber se ela já tinha chegado e avisar que eu estava na loja tal. Saindo da loja tal, não a vi no corredor e isso foi motivo para eu ligar mais 3 vezes pra criatura - ok, ela está grávida, tinha se sentido mal naquela manhã, fiquei preocupada, mas né? Não precisava tudo isso - até finalmente nos encontrarmos.

O que eu devia ter feito era somente avisado onde eu estava, e depois esperado ela chegar ali. Como se fazia antes de termos esses planos de ligações e sms ilimitados - eu acho ótimo, longe de mim reclamar! - quando o celular não existia ou era tão mais caro do que é hoje e tão difícil de usar. Tive a experiência da volta à era pré-celular quando fui a Milão ano passado visitar minha filha que estava estudando lá. Como na minha última viagem à Itália paguei praticamente outra passagem aérea com o valor da conta do celular, desta vez larguei o bicho dentro da mala para só ligá-lo quando retornasse ao Brasil. Com isso, eu e ela tínhamos de combinar com antecedência o que fazer, em que local nos encontraríamos, em que horário. E chegando no local, esperar pela outra calmamente, sem ficar quicando de ansiedade. Ao mesmo tempo, você precisa se programar para efetivamente estar no local combinado na hora combinada, e não fazer o outro mofar esperando, porque não vai dar pra avisar.

Quando eu e minha irmã éramos crianças, passávamos as férias de verão internadas no sítio dos meus avós, na já citada e conhecida localidade do Rio Clotário, entre João Neiva e Demétrio Ribeiro. 3 meses inteiros na roça, tomando picada de borrachudo, pegando bicho de pé e carrapicho, comendo goiaba bichada direto do pé (a gente dava um peteleco no bicho) e adorando cada minuto. Um dos programas preferidos era brincar com a Adriana Bolis, que morava em um dos sítios vizinhos.
Passávamos pelo filetinho de rio que corria atrás do chiqueiro, cortávamos caminho pelo pasto, com a recomendação de irmos pelo cantinho e não fazermos movimentos bruscos, nem sair correndo desembestadas, para não provocar os bois, touros, vacas e quem mais ali estivesse pastando. Nem de futucar buracos, porque neles poderia haver cobras. Atravessávamos o pasto, passávamos por baixo da cerca de arame farpado do sítio de não-me-lembro-qual- família, e assim chegávamos nos Bolis, para uma tarde de brincadeiras ou de ler revistinha com a Adriana.

O horário limite de volta era até umas 16h30, porque depois era o horário das cobras ali no riozinho que atravessávamos - segundo meus tios, tudo cobrinha d'água, nem eram venenosas, só se enroscavam nas pernas e NADA MAIS (precisava de alguma coisa além disso pra matar de susto?). Aliás, o horário das cobras regia nossa volta do sítio da Adriana, nosso horário de banho, nosso horário de brincar no balanço debaixo do pé de carambola. Quando dava o horário das prim.. ops, cobras, não podíamos mais brincar longe de casa, só ali por perto - mas sem futucar buracos, porque tinha aranha caranguejeira, uma paz de espírito incrível!

Isso pra contar que, se nos sítios não tinha nem luz elétrica, que dirá telefone. Ou seja, saíamos eu e minha irmã, eu com uns 7 anos de idade e minha irmã com 8, pasto afora, sozinhas, sem nem ter como avisar que tínhamos chegado, que nenhum boi tinha pisoteado a gente, nenhuma vaca lambido, nenhuma cobra se enroscado nas pernas. Brincávamos a tarde toda, e depois voltávamos. Se demorássemos um pouco, meu tio Joaquim, que era novinho, ia lá nos chamar. Pronto, simples assim. Não sei como minha mãe não morria do coração, aliás, não sei como ela DEIXAVA a gente ir, mas fato é que íamos as duas muito serelepes e saltitantes. Eu era tão pequena que me lembro que um dia minha irmã e Adriana não queriam me levar, porque eu era considerada pirralha, além de ser medrosa pacas e não querer subir em nada, nem atravessar pinguelas suspeitas sobre os rios, e coisas dessa natureza, e eu caí no choro. Meu avô, pra me consolar, disse que era porque eu estava de blusa vermelha, e não podia ir de blusa vermelha no pasto, e que além de tudo, na blusa da minha irmã tinha um coelhinho desenhado e o touro tinha medo do coelhinho, e por isso minha irmã podia ir e eu não. E eu achei coerentíssima a explicação do touro com medo do coelhinho desenhado e parei de chorar, auxiliada pela balinha que meu avô me deu para me consolar.

Claro que os tempos são outros, tudo mais ficou mais perigoso, mas talvez fizesse um bem danado a todos nós se fizéssemos uma pequena volta ao passado e controlássemos um pouquinho que fosse nosso desespero e ansiedade para não ficarmos nos rastreando de 2 e 2 minutos e aproveitarmos o tempo da espera para parar, relaxar, olhar o povo que passa e pensar na vida.