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Mulher Solteira escreveu uma nota de falecimento da violetinha dela. Eu a entendo perfeitamente porque, no que depende só de mim, as plantas também não sobrevivem. Junta com Cindy Quebra-Barraco pra revolver a terra, comer as folhas e derrubar o vaso de cima dos apoios e está feita a devastação.
A sorte das de lá de casa é que Maria do Socorro quebra o galho delas. E também a minha mãe, quando vai passar uns dias lá em casa. Eu nunca conheci outra pessoa na vida com mão melhor pra plantas do que a minha mãe.
Acabei de chegar aqui em Brasília, para passar o aniversário dela e o feriadão. Na sala, um lírio da paz plantado em um vaso, maravilhoso, com 4 ou 5 flores e um tom de verde nas folhas que parece até artificial.
Em um móvel de vários patamares, desses pequenininhos de colocar num canto, nada menos que sete vasinhos de violetas. Sete, de cores variadas. Todos floridos.
Aliás, eu não me lembro na vida da minha mãe ter alguma violeta que não ficasse florida praticamente o ano inteiro.
Quando eu tinha lá meus 14, 15 anos, lembro que no apartamento onde morávamos havia uma UTI de violetas. Ao menor sinal de esmorecimento de uma de suas pupilas, minha mãe a transferia da sala para a UTI, que era um parapeito interno da janela da área de serviço, onde batia sol indireto e ficava meio abafadinho. Ali ela cuidava da paciente com desvelo de enfermeira, até que ela se recuperasse e voltasse, linda, viçosa e florida, para o lugar de destaque na sala de visitas.
Minha mãe tinha uma amiga, muito querida, mas que tinha olhar de seca-pimenteira. Não tinha jeito: bastava ela olhar pruma violeta daquelas e comentar "
que coisa mais linda!", que a planta murchava em poucos dias. Como era amiga querida e as plantas tão queridas quanto, quando minha mãe sabia que a dona Dorinha tava indo lá em casa, ela recolhia as violetas e colocava todas na UTI:
- oi, Duziana, tudo bem? Ué, cadê as violetinhas?
- ah, tavam feias, coloquei todas lá fora, na área de serviço, pra ver se ficam melhores.
E as samambaias de cortina, hit do começo da década de 80? Aquelas enormes, que ficavam no xaxim, quando ter xaxim em casa era moda e ninguém sonhava que o bicho tava em extinção. Mamãe tinha três, uma ao lado da outra, penduradas no teto, com folhas que desciam até o chão. Mal havia espaço entre elas pra chegar até a janela, e penso que na caixa das fotos deve ter várias minhas, e de minha irmã, em pé, com uma das samambaias fazendo o fundo.
Um dia, resolvi dar uma festa na sala do apartamento, festa mesmo, com dj e tudo. Meu pai amarrou as samambaias com todo cuidado, para que não ficassem arrancando as folhas, já que tirá-las do lugar estava fora de cogitação.
Nem me lembro o que foi feito delas, acho que dona Dorinha se encarregou de dar cabo.
Há dois meses ela foi lá em casa e minha árvore da felicidade (eu tenho uma viu,
Mulher Solteira?) tava altíssima, com um pendão lá em cima.
- filha, posso podar a sua árvore da felicidade pra ela se fortalecer?
- pode, mãe.
Ela desbastou a árvore. Não sobrou um galho pra contar a história, só um pedacinho lá embaixo, perto da terra. Virou uma moitinha. Ante o meu olhar desolado e surpreso, ela profetizou que logo ela cresceria cheia de galhos e folhas e que ficaria linda.
E não é que isso tem só dois meses e tá lá a árvore crescendo, cheia de galhos e flores, e ficando linda?
Por que tô contando tudo isso? Porque estou aqui, na minha cidade querida, na casa dos meus pais. Porque hoje é aniversário da minha mãe e estou muito feliz de ter podido vir pra cá comemorar com ela.
E porque ela é a maior autoridade no assunto violetinhas.
Devia mesmo era ser dona de floricultura, mas acho que teria dificuldade de vender as plantas. Vai que não tomam conta delas direito, colocam água demais, deixam a pobre morrer de sede, largam no vento ou no sol quente...
Parabéns, mamãe!!! Só que tem alma boa como a sua pode ter mão tão boa para as plantas como você tem! Te amo sempre e para sempre!