Amiga 1 tava deprê. Tomara a iniciativa de romper um namoro de 3 anos por conta de problemas que foram posteriormente resolvidos e tava arrependida. Tentou voltar, mas o ex-namorado, na revanche do orgulho ferido dela ter mandado as coisas dele de táxi numa caixa de papelão, ficava no joguinho de morde-assopra.
A angústia crescendo. Amiga 2 decreta:
- querida, você tem de desobstruir os seus chakras. Assim a energia vai voltar a fluir e sua vida vai entrar nos eixos, ou pelo menos você ficará centrada o suficiente para enfrentar a situação atual.
E continuou:
- conheço um japonês que é tiro e queda, tó o telefone, marca um horário com ele que é maravilhoso! Vai por mim, você vai ver.
Amiga 1, que já tava entrando naquela fase de apelar para as simpatias pra ver se esquecia o ex, foi lá no japonês desobstrutor de chakras. Afinal de contas, pensou ela, mal não ia fazer, e como seu lado místico sempre fora exacerbado, para ela fazia todo sentido do mundo.
No dia e horário marcados, lá estava ela. A primeira coisa que observou foi que o homem era feio. Muito feio. Tão feio quanto pode ser um homem de 1,50m de altura. Apenas uma observação, porque ela estava ali com a função específica de sair de lá com os chakras tão desobstruídos quanto as ruas da cidade durante o jogo da final da Copa do Mundo de 2002.
Começa o processo de desobstrução com a paciente somente de sutiã e calcinha, e o japonês explicando que o chakra é uma linha vertical que desce desde não sei onde e vai até... lá. E POF! põe o dedo bem lá no - digamos -
chakra da Amiga 1 e começa a massagear o chakra com movimentos de vai e vem, dizendo que ela estava mesmo muito pesada e precisava ter os chakras desobstruídos com urgência.
Finda a sessão, Amiga 1 se veste, pega o carro e imediatamente liga para Amiga 2:
- cara, que qué isso? Não entendi nada! O cara te manda ficar de sutiã e calcinha e coloca o dedo diretão lá no chakra, sem nem convidar para tomar um café antes? Achei esquisito, é isso mesmo?
- é assim mesmo! Você não achou ótimo? Não saiu de lá se sentindo bem melhor, mais renovada, mais leve, mais livre?
Ela não tinha saído de lá assim, e atribuiu ao fato de estar menstruada, muito triste, e que o chakra dela devia estar muito mais obstruído do que o normal, algo assim como a Marginal Pinheiros às seis da tarde, numa véspera de feriadão, e que por isso ela continuava se sentindo obstruída. Como ela é brasileira e não desiste nunca, marcou outro horário e lá foi.
Tudo de novo, sutiã e calcinha, dedo lááá no chakra, movimentos de vai e vem, uma meia-luz para relaxar. E a coisa foi fluindo, crescendo, o chakra foi desobstruindo, desobstruindo, cada vez mais rápido...
... e desta vez ela saiu de lá disposta a oferecer casa, comida e roupa lavada para o japonês, só pra ele desobstruir o chakra dela todos os dias!