Se você tinha pelo menos 5 anos de idade na segunda metade dos anos 70, só não conhece
As Panteras se morava em Marte, ou em alguma roça desprovida de televisão. Numa época em que havia dois canais com programaçao diária (Globo e a então TVS, que depois virou SBT),
As Panteras era um dos seriados-febre do momento, só empatando em carisma com
SWAT e o
Homem Biônico (ou O Homem de Seis Milhões de Dólares, baratinho não? o que não faz uma inflação de 30 anos...).
Eu não vou ficar aqui explicando detalhadamente quem eram
As Panteras, porque, ou você tem idade suficiente para conhecer - e não me refiro aqui à Drew Barrymore, Cameron Diaz e Luci Liu que essas não são Panteras que se apresentem - ou nem era nascido e realmente não me interessa saber que você nasceu nos anos 80 ou 90e o seriado já tinha acabado etc, poupe-me, é o típico caso de quando a ignorância é uma bênção. Mas vou me referir especificamente a uma: Jill Monroe, a loira de cabelo espaventado da foto que ilustra este post.
Ela nem era minha Pantera preferida, mas inegável que era a preferida da maioria do público. Para começar, sua intérprete, a atriz Farrah Fawcett, era de uma beleza estonteante, um charme e um carisma fenomenais. Há pouco tempo, zapeando despretensiosamente num domingo de preguiça na cama, dei de cara com um filme contando o surgimento do seriado e o fenômeno Jill Monroe.
Farrah, na ocasião, era casada com Lee Majors, e usava o sobrenome Fawcett-Majors, assim, com hifen e tudo, uma coisa fiiina e chique, porque aqui eu não conheço ninguém que use hifen no sobrenome, só um dos meus professores da pós na Puc, que escrevia o próprio nome como Paulo-Edgard. Duvido muito que a mãe dele o tenha registrado desta forma no cartório, mas levando em conta que também nunca conheci nenhum homem de 70 anos de idade que usava peruca acaju, a gente até compreende a exceção.
Voltando à Jill, ou melhor, Farrah, Lee Majors, o maridão, vinha a ser o Coronel Steve Austin, o que tinha perdido as duas pernas, um braço e um olho, mas ainda estava vivo! Isso mesmo, ele era o protagonista da outra série badaladérrima dos anos 70, O Homem de Seis Milhões de Dólares, e era o rei da cocada preta, vivia por cima da carne seca, praticamente igualando em celebridade, se fosse nos dias atuais, com o virus da gripe suína - com a diferença que, na época, esse a mulherada bem que pegava feliz!
Foi aí que explodiu o sucesso de As Panteras, e mais ainda, da Pantera loira, a Jill Monroe. De uma hora para outra, tão rápido feito uma maledicência contada para a maior fofoqueira do escritório, todo mundo queria ser Jill Monroe.
Se vestir como Jill Monroe.
Andar como Jill Monroe.
Ter o corte de cabelo da Jill Monroe.
Duvido que alguém tenha passado pelos late 70's ou early 80's sem ter tido o corte de cabelo da Jill Monroe. Pobres dos cabeleireiros da época, que tinham de fazer a cliente sair do salão como se andasse permanentemente com um ventilador soprando os cabelos para cima, para os lados, para o alto, e além de tudo lisos, não importando a natureza dos fios. Teve neguinho operando milagres por aí.
Com isso, Farrah Fawcett virou uma megacelebridade e não tinha mais pra ninguém. Ela mal conseguia gravar suas cenas externas no seriado, tamanho o assédio dos fãs quando ela aparecia. Sua casa era cercada de fãs todo o tempo, a mídia fazia plantão à espera de uma imagem, reviravam o lixo dela! Tudo isso é relativamente comum hoje, e tem pseudocelebridade que até contrata repórter pra ficar seguindo o tempo todo e tirando fotos para plantar uma notinha aqui outra ali: Hoje, a ex-BBB Ana Fulaninha tomou sorvete de morango/Ontem, a ex-Ronaldinha Paula Taruíra entrou no mar e a parte de cima do biquini desamarrou - é o povo que não aprendeu a dar laço direito na infância ou o mar do Rio de Janeiro que de repente passou a ter umas ondas mais poderosas que tsunamis?
O pior foi que o maridão, mesmo sendo aquilo tudo de biônico, passou para segundo plano e começou a ser chamado pela imprensa de celebridades como "o marido de Farrah". De astro do pedaço, cobiçado pelas mulheres e invejado pelos homens - os quais diziam que ele corria muito devagar para quem tinha pernas biônicas (piadinha interna!) - ele passou a ser tão somente "o marido". Chegava no set de filmagem para falar com a esposa e era barrado pelo segurança. Se identificava como Lee Majors e o segurança perguntava: Lee who? Dizia que era marido da Farrah e o cara era só sorrisos: desculpaí doutor, pode entrar, foi mal, com todo respeito sua mulher é uma gostosa, hein, ô lá em casa!
Juntou tudo: a vida de superstar para a qual ela não estava preparada, uma vez que os produtores nem levavam fé que o seriado ia emplacar, já que as atrizes se recusavam a fazer cenas apelativas de biquinis mínimos ou de sexo para atrair audiência; a falta de privacidade em todos os momentos da vida; o ressentimento do marido cujo cotovelo não suportou o sucesso da esposa. Resultado disso: Farrah Fawcett pediu pra sair, e olha que o Capitão Nascimento nem era nascido nessa época.
Era preciso então encontrar uma substituta. Prevendo a reação negativa do público a qualquer atriz que substituísse a Pantera mais querida, os produtores se saíram com uma jogada genial: descolaram uma outra loira, bonita, mas que nem chegava aos pés de Farrah em beleza, carisma e charme, e fizeram um episódio no qual Jill Monroe se despedia das Panteras, de Charlie e do Bosley, mas deixava em seu lugar sua irmã mais nova, Chris Monroe, interpretada pela Cheryl Ladd. E mais: pedindo para que tomassem conta da caçulinha.
Coisa de mestre. O público chorou a saída de Jill, mas a tragédia afinal nem era tão grande assim, afinal ela tinha deixado a irmãzinha mais nova em seu lugar...
Depois de um período meio reclusa, no qual se separou e tirou do nome o hifen e o Majors, Farrah ainda fez alguns filmes, mas nenhum efetivamente relevante. Realmente, não havia como apagar da cabeça dos fãs a imagem forte de Jill Monroe, mas quer saber? Acho que ela nunca fez questão de se desligar do papel que a imortalizou para toda uma geração.
Farrah Fawcett morreu na última quinta, de câncer, aos 62 anos, depois de semanas definhando no hospital.
Morreu no mesmo dia do Michael Jackson, e por conta disso, sua morte foi pouco noticiada.
Só mesmo uma celebridade do porte de Michael Jackson seria capaz de ofuscar a estrela de Jill Monroe.