Houve um tempo em que vestir a camisa da seleção brasileira era a honra máxima de um jogador de futebol.
Um tempo onde não havia salários milionários, onde não havia eleição de melhor do mundo, onde não havia marias-chuteira fazendo com que os caras se sentissem os mais poderosos do Universo. Pelo contrário, ter uma filha namorando jogador de futebol era uma enorme decepção para os pais.
Houve uma seleção que deslumbrou o Brasil, que nunca mais tinha visto seu time nacional jogar com empolgação e beleza comparáveis à seleção de 70 que levou o tricampeonato pra casa.
Uma seleção que entrava em campo de cabeça erguida, mas não de salto alto. Onde os jogadores pareciam adivinhar os movimentos uns dos outros. Com um treinador que depois mostrou-se fenomenal, levando o time do São Paulo à coleção de títulos da década de 90.
Uma seleção que perdeu sim, mas até hoje a derrota é amarga, pela injustiça, pela fatalidade.
Falo da seleção de 82, e do técnico Telê Santana.
Num tempo mais recente, houve um jogador que chamava a responsabilidade pra si. Que vestia a camisa da seleção e se transformava em uma potência ainda maior do que era em seu clube. Pra ele não havia bola difícil, não havia tempo ruim, nem joelho machucado, nem bola perdida. Havia o gol.
Carregou nossa seleção nas costas em 1994 e acho até que podemos atribuir parcialmente a ele a derrota do dia de hoje: foi seu talento e sua competência individuais que nos deram o tetra na Copa dos EUA e que nos fizeram acreditar que o Parreira era um técnico vencedor.
Falo do Romário.
Houve também um tempo, mais recente ainda, em que a seleção brasileira era um time de verdade. Um time acima do estrelismo, um time onde cada um tinha que brigar treino a treino, jogo a jogo, pelo direito de ser titular.
Um time para o qual havia garra, força, combate, companheirismo. Liderado por um técnico que tinha ascendência sobre todos. Que se pudesse, entrava em campo e jogava junto, correria atrás da bola. Um técnico capaz de levar o time ao limite, que não tinha vergonha de gritar, esbravejar, chorar se fosse o caso. Um líder.
Falo do Felipão, e quem viu o jogo de hoje entre Portugal e Inglaterra, no qual o time de Portugal, desacreditado e sem grandes estrelas, passou para as semifinais da Copa de 2006, sabe bem do que estou falando.
Hoje nós tínhamos em campo um time estelar. Em teoria, um time que não perderia pra ninguém. Acho que não perderia mesmo, para outro time, mas é um time que começou perdendo pra si próprio: pela falta de garra, de atitude, de companheirismo, de vontade.
Os galáticos, como são chamados pelo mundo afora. São mesmo galáticos, porque andam com a cabeça no mundo da lua; ou no mundo dos cifrões milionários dos seus times de origem, quase todos europeus (apenas 2 jogadores, dos 23 convocados, jogam no Brasil - Rogério Ceni, no São Paulo, e Ricardinho, no Corinthians), nos quais precisam sim suar a camisa para fazer jus à grana preta que ganham. Porque lá o técnico tem peito pra colocar no banco um Ronaldo que parece um pudim em campo.
Sinto muitas saudades daqueles que tinham amor verdadeiro pelo futebol e pela camisa da seleção. A todos o meu obrigado por tantas alegrias que nos deram, pela beleza das suas atuações.
E vocês, galáticos de 2006, vão todos pra PUTAQUEOPARIU!!!